No dia seguinte, Marcela acordou um pouco mais tarde que o normal. Estava exausta e realmente precisava daquele tempinho a mais de sono. Embora fosse sexta feira, no dia seguinte iria pra o aquário e mais uma vez não teria tempo algum para respirar.
Mas sua vida estava seguindo da forma que era para ser, pelo menos com relação ao trabalho e aos estudos. Quanto a parte amorosa, não sabia dizer, estava tudo muito bagunçado para que conseguisse chegar a alguma conclusão.
Daniel havia feito uma visita no campus. Não foi um término muito saudável, mas com o tempo haviam se acostumado a isso. Era passado, o considerava como amigo, mas não queria mais nada com ele. Então visitas repentinas com presentinhos não iriam amolecer seu coração. De novo não.
Na manhã de sábado recebeu uma ligação de Mari e juntas foram almoçar em um restaurante ali pela Barra mesmo. Durante algum tempo de conversa, a chef de cozinha abriu o assunto que Marcela não estava nem um pouco a fim de conversar no momento.
- Vocês ficaram quantas vezes? - Mari enrolava o macarrão com um garfo.
- Duas - quando ela abriu a boca, Mar falou primeiro: - A primeira foi quando a gente se conheceu, lá no aquário. Eu nem sabia que ela era tão nova e nem que era minha aluna. Foi antes do período começar.
- Você ficou com a garota dentro do aquário? Como?
Marcela deu de ombros como se não fosse nada, mas seu coração palpitava só de lembrar da cena, de como ela havia levado para o escuro e como o beijo havia sido avassalador, mesmo tendo sido o primeiro.
- Ela é filha do diretor, então conhece os paranauê.
Mariana riu.
- E depois?
- No banheiro do seu restaurante, antes de você vir falar comigo - bebeu um gole do suco de laranja antes de olha-la finalmente. - Não me olha assim. Foi mais forte que eu.
- Você já sabe o que eu penso?
- Não se preocupe. Nós brigamos - e deu de ombros, ainda chateada pela briga do dia anterior. - Essas coisas não dá para mim.
- Eu não dou uma semana para vocês se beijarem de novo.
- Não viaja.
Se tinha uma coisa que Marcela gostava na melhor amiga era a sinceridade sem filtros. Ela falava o que tinha para falar e não se importava de a pessoa ia ou não gostar. Se você precisa de uma opinião sincera, sem riscos de mentira por causa de abalo afetivos, era só falar com ela. Não adiantava, se o vestido for feio, ela vai dizer.
Depois que terminaram, se despediram na porta e foi direto para o aquário de carro. Diferente da semana passada, não se encontrou com Gizelly. Não a procurou por lá e nem ela mandou mensagem ou ligou. De certa forma, preferia assim, mas seu lado emocional martelava a todo instante dizendo que sentia falta. O lado racional, o mais sensato, dizia que isso era frescura de gente que estava muito tempo sem transar.
Sempre sincero, como Mari.
O domingo também foi super tranquilo. Sem notícias da morena desaforada. Não que quisesse saber como ela estava, longe disso. Além de continuar preparando a tese, também terminou de corrigir as provas, já que aplicaria outra na semana seguinte, na matéria de Biologia I.
Enquanto corrigia, toda vez que chegava a prova de Gizelly, passava a folha para trás da próxima, o que só fez com que durante toda a correção ficasse pensando nela. Quando percebeu, a dela já era a última e não tinha para onde correr.
Leu as respostas com calma, assim como fez com todas as outras e arqueou as sobrancelhas ao ver que estavam mais completas que o normal, porém escritas com as letras mal desenhadas e com as palavras dela. Acabou dando certo em todas, menos na última, que ela escreveu uma frase ao contrário. Com caneta vermelha, puxou uma seta e escreveu o certo e tirou dois décimos dos pontos totais.
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Santuário
ParanormaalEstudar os Santuários Marítimos do Brasil sempre foi um sonho que Marcela, professora universitária da UFRJ, sonhava em fazer desde que decidiu seguir carreira no ramo da biologia marinha. Mal sabia ela que o verdadeiro santuário estava bem mais pr...