23- Não Vou Sair Daqui

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E segue mais um, porque tô muito boazinha ♥️

(...)

Não demorou muito tempo para Marcela dormir. Gizelly ficou parada, sentada na cama, por um bom tempo, somente observando-a. Agora ela estava mais sossegada, os tremores haviam passado e a respiração estava mais calma. Ainda assim não conseguiu sair dali pelos próximos dez minutos. Dentro do peito, sentia medo que ela pudesse passar mal outra vez.

Sem roupas para vestir, foi até o guarda roupa e procurou por alguma coisa. A casa estava gelada, mas precisava tomar um banho para dormir também. E foi isso que fez, não se demorando muito embaixo da água quente. Depois de vestir as roupas da professora, foi até a cozinha e procurou algo para comer.

Acabou encontrando algumas frutas e decidiu por comer uma banana antes de voltar para o quarto. Parte de seu corpo achava que seria mais inteligente dormir na sala, mas a outra parte insistia que deitasse ao lado da loira. E foi isso que fez, mesmo relutante, se enfiando embaixo da coberta devagar. Estava tão atordoada que esqueceu de avisar ao pai e o celular ficou dentro da bolsa, na sala.

Não conseguiria dormir tão fácil, não quando sua mente insistia em processar como as coisas aconteciam. Estavam brigadas desde sábado, disse coisas horríveis para ela por ciúme, não foi embora com ela por dois dias e até saiu mais cedo para tentar pegar um ônibus com mais gente no ponto. Ele não passou. E agora estava deitada ao lado dela, morrendo de preocupação, se perguntando o quanto e quão rápido uma situação poderia mudar contra ou a favor a alguém.

Perdeu a noção de quanto tempo ficou ali, absorta em pensamentos, matutando sobre tudo. Quando se viu, estava virada para ela, observando-a em silêncio. Respirou fundo um par de vezes, ela também estava de lado, mas dormia como um anjo até começar a se mexer muito.

O sono, que estava tranquilo e em paz, começou a se tornar inquieto e turbulento. Gizelly ficou em alerta e tirou as mechas loiras que caíram sobre o rosto que começava a suar.

- Marcela - a sacudiu de leve. - Acorda.

Com um sacolejo de susto, a loira abriu os olhos, assustada, o coração quase saindo pela boca. Estava tendo um pesadelo e nele um homem a perseguia pelas ruas da UFRJ, de onde não conseguiu sair até ser pega.

- Eu... Quem? - As palavras não saíam completas.

- Sou eu, Gizelly. Está tudo bem, você só teve um pesadelo - ela ficou em silêncio, tentando controlar a respiração. - Isso acontece frequentemente?

Mais silêncio.

- Marcela?

- Não...

Gizelly queria abraça-la, mas se manteve do mesmo jeito, por vários segundos, esperando-a se recompor. O quarto estava escuro e silencioso, mas a chuva começava a cair lá fora, dava para ouvir os pingos batendo na janela cada vez mais forte.

- Que vergonha... - Marcela, que agora a estava deitada de costas, passou a mão no rosto e observou o teto. - Agora você deve estar achando que eu sou problemática.

- Eu não acho você problemática - uma pausa curta. - Quer dizer...

Quando a professora a olhou, havia um sorriso terno nos lábios que tanto queria beijar. Ainda com o corpo em alerta por causa do pesadelo, o coração se acalmando aos poucos , revirou os olhos e acabou sorrindo também.

- Obrigada - disse para ela.

- Pelo quê?

- Por ter ficado aqui.

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