7- Eu Vou Acertar as Coisas

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Gizelly perdeu as contas de quantas vezes mudou de posição na cama.

Não conseguia dormir de jeito nenhum. O dia passava se arrastando por sua mente, como uma cena de tortura de um filme de terror. A discussão com Marcela, ela indo embora, as crianças chorando, ela com cara de choro...

Nunca se sentiu tão inútil na vida como hoje. Era como se qualquer coisa que pudesse fazer por eles não fosse o suficiente. Precisava conversar com Marcela mais uma vez, se ela estivesse disposta a isso. Precisava acertar as coisas, precisava recuperar o amor dos filhos.

Não que fosse abandonar o trabalho, só buscaria um jeito de fazer com que as coisas dessem certo, consertar os erros cometidos e se esforçar ao máximo para não magoa-los novamente.

Esse era um bom começo, não era?

(...)

Os pesadelos de Marcela sempre eram um enigma sem fim. Uma mistura de John Lennon com Anitta tomando sorvete de flocos na muralha da China enquanto assistiam Scar matar Mufasa.

E essa vez não foi diferente, embora muito real. Gizelly havia feito um suporte para iscas e jogava os filhos no mar cheio de tubarões. Ela sorria, dizendo que ia ser divertido enquanto Marcela estava desesperada na proa vendo Dylan ser jogado depois de Pérola.

Acordou de supetão, se sentando no sofá com agonia e a respiração levemente ofegante.

Foi só um sonho, disse para si mesmo em pensamento e voltou a se deitar. As costas estavam doendo pela falta de conforto do estofado, mas logo pegaria no sono novamente. Foi nessa hora que notou não estar sozinha na sala.

A cabeleira cheia de Gizelly esparramava a beirada do sofá. Ela estava sentada com as costas encostadas no estofado, dormindo toda torta. Com um suspiro, a sacudiu de leve pelo ombro.

- Gi? - Nenhuma resposta, apenas a respiração pesada. Tentou de novo. - Ei, Gi...

- Hmm?

- Aconteceu alguma coisa? Levanta daí, você vai ficar toda dolorida.

- Eu só consigo dormir bem quando estou perto de você - era nítido que ela ainda estava dormindo.

Má revirou os olhos, mas sorriu com o canto dos lábios ao se levantar.

- Vem, vou te levar para a cama.

Por mais que estivesse com raiva, por mais que quisesse dormir fora de casa ao invés da sala, Marcela não conseguia ignorar certas coisas. Sua criação, o casamento de seus pais, tudo deu forças para moldar o caráter que tinha hoje. Era casada com aquela mulher e a amava de um jeito tão profundo que chegava a doer.

No quarto, a cobriu até a altura dos seios e fez um carinho em sua cabeça. Ela ainda estava grogue de sono, como uma criança mimada que não queria dormir e lutava contra o cansaço. Com um suspiro, ergueu o corpo para tornar a sair do quarto, mas Gizelly a segurou pela mão.

- Dorme aqui comigo.

- Gi...

- Só hoje, Má...

Marcela tentou soltar a mão, mas ela segurava com força. Suspirou longamente.

- Tudo bem, solta minha mão - falou com carinho.

Depois que ela o fez, rodeou a cama e deitou ao lado dela.

- Vem cá - falou baixinho e a puxou para se aconchegar em seu corpo.

Foram dias dormindo separadas, fora os 15 dias de folga que acumulavam toda a saudade. Marcela estava esgotada, sem forças para continuar. O amor que sentia por ela era o que a mantinha de pé. Sem nem ao menos sentir, as lágrimas começaram a escorrer em silêncio.

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