Capítulo 37

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Dia seguinte

- Se sente melhor? – Elena fala comigo, parecia mesmo estar preocupada com o meu estado atual.

- Não acredito que você teve coragem de fazer aquilo.

- Era eu fazer aquilo ou a polícia nem ia precisar te procurar para saber quem foi a assassina daquela desgraçada. Havia digitais suas por cada canto daquela casa, por fogo nela foi a melhor coisa que pude fazer por você.

- Hum.

Elena e eu estávamos em uma cafeteria, eu havia dormido na casa dela, ou pelo menos tentado. Ela disse que o melhor jeito de me ajudar a lidar com tudo isso, seria saindo por aí para que eu distraísse a cabeça, apesar de que eu não estava nem um pouco afim de ver outras pessoas tão cedo.

- Devíamos ter ficado em casa.

- Não diga isso, você sabe que não ajudaria em nada.

- Elena, pessoas são a última coisa que eu quero ver. – Olho para ela, estava séria. – Eu não quero as memórias dessa mulher... Só vejo sangue... Morte... Meu Deus... Como alguém consegue viver com isso?!

- Essa mulher é você!

- Eu ainda não me sinto como ela, sinto que eu sou uma pessoa e ela é outra.

- É porque ainda não se lembrou de tudo, quando se lembrar você vai voltar a ser como era antes. E tenho certeza absoluta que vai dar muita risada de si mesma quando se lembrar de alguns momentos em que estava com perda de memória, vai por mim. – Ela sorri.

- Duvido muito. – Falo seria. Não sei como Elena conseguia reagir normalmente sabendo o que eu fiz. – Eu quero vê-lo.

- Quem?

- Bernard.

- Se lembrou de algo relacionado a ele?

- Não, mas eu quero ver as coisas da Lyanna... As minhas coisas. Talvez tenha algo que faça eu me sentir menos mal.

- Tudo bem. – Elena leva sua xícara de café ate a boca. – Agora que se sente mais calma, me conte o que aconteceu.

- Encontrei com aquela mulher no supermercado, tivemos uma breve conversa sobre animais, e quando ela soube que eu era veterinária me pediu o meu número. No dia seguinte me chamou até a casa dela dizendo que seu gato estava vomitando. Então eu fui na inocência, chegando lá ela me disse que eu era uma psicopata. Da pra acreditar?!

- Prefiro não responder.

- Enfim... – Olho ranzinza para Elena. – Aquela louca me atacou, me lembrei de uma coisa horrível da minha infância, que nem naquele dia no hospital quando eu estava com você. Aí eu esfaqueei ela.

- Só isso?

- "So"?! Elena, eu matei uma pessoa!

- Shiiii! – Olhamos para os lados.

- Eu matei uma pessoa! Sussurro dessa vez. - Tem ideia do que isso significa?!

- Claro que tenho. – Elena se debruça sobre a mesa, ficando mais próxima de mim. – Eu nunca vou te julgar pelo que você fez, amiga. Também já matei pessoas.

- O que?! – Eu a olho incrédula.

- É isso que você ouviu. – Eleva volta a sua posição normal. – Não fique surpresa, já matamos muitas pessoas juntas, mas foi por causa de um único assassinato que nos tornamos amigas.

- E eu achando que não podia piorar... – Passo minha mão no rosto tentando digerir o que eu acabei de ouvir. – Acho que vou vomitar...

Me levanto da mesa rapidamente vou até o banheiro, vomitando tudo que estava em meu estômago dentro do vaso. O sentimento de repulsa havia me consumido por dentro totalmente, e não havia outra maneira de lidar com isso a não ser vomitando. Eu estava em um beco sem saída, não havia outro caminho para mim. Ou eu me lembrava de vez de quem eu sou, ou não conseguiria viver sabendo do que eu fui capaz de fazer todo esse tempo.

Amor Rubro - Vol. IVOnde histórias criam vida. Descubra agora