Capítulo 49

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Continuação...


Antes

2004

Certo dia eu estava voltando para casa da escola e ao me aproximar do portão, já conseguia ouvir os gritos do lado de dentro. Eu olho em volta e vejo as pessoas olhando para mim, as ignoro e pego minhas chaves, entrando para casa.

Assim que passo pela porta tento ignorar meus pais brigando e subir para o meu quarto como eu costumava fazer, mas algo no chão me chama a atenção, era sangue. Eu deixo minha mochila no chão e passo a seguir o rastro de sangue que me levam até a sala, onde vejo uma garrafa de cerveja quebrada.

- SEU FILHO DA PUTA! OLHA O QUE VOCÊ FEZ NO MEU BRAÇO! – Olho em direção ao banheiro e vejo minha mãe com o braço dentro da pia.

- A CULPA FOI SUA! EU ESTAVA ASSISTINDO AO JOGO E VOCÊ VEIO ATRAPALHAR!

- ATRAPALHAR?! EU ESTAVA LIMPANDO O CHÃO! COISA QUE VOCÊ NÃO FAZ, SEU INÚTIL!

- EU TRABALHO! SE NÃO FOSSE POR MIM, VOCÊS DUAS IAM PASSAR FOME DENTRO DESSA CASA! EU DEVERIA FAZER ISSO MESMO! DEIXAR VOCÊS COM FOME! AI VÃO APRENDER A ME DAR VALOR!

- QUE VALOR QUE VOCÊ TEM?! VOCÊ VIVE BÊBADO! VOCÊ NÃO TEM VALOR NENHUM!

- Mãe, você está bem? – Pergunto preocupada, porém mantendo uma distância segura dos dois.

- A SUA MÃE SE CORTOU SOZINHA E ESTÁ FALANDO QUE FOI EU! – Meu pai se vira para mim falando.

- LYANNA, VAI CUIDAR DA SUA VIDA! NÃO SE INTROMETA, SE NÃO VAI SOBRAR PRA VOCÊ TAMBÉM! – Minha mãe grita comigo.

- Tá...

Eu abaixo a cabeça e vou em direção as escadas para subir para o meu quarto. Ouço passos atrás de mim e sinto uma mão circular o meu braço que me puxa para trás, e sinto um ar quente chegar ao meu ouvido.

- Mais tarde a gente conversa. – Meu pai fala comigo e sinto o medo me consumir por dentro.

Assim que subo para o meu quarto, me sento na minha cama, olhando para os meus sapatos e pensando em toda essa situação confusa. Não aguentava mais essas brigas, não aguentava mais essa gritaria toda. Isso estava me deixando maluca. Se a morte for a única coisa viável pra fugir disso, então eu quero morrer. Minha mãe aparece na porta e avança para cima de mim, apanha meus cabelos e enche meu rosto de tapas, depois me solta, apontando o dedo para o meu rosto.

- Da próxima vez que eu e o seu pai estivermos brigando, você não se mete! Ouviu?! Isso é problema meu! Não seu!

Ela sai do meu quarto e bate com a porta. Eu me levanto de cima da cama e levo minha mão ao meu rosto, que queimava feito fogo. Todo fio de medo que eu sentia da minha mãe havia desaparecido completamente naquele mero instante, agora só o que eu estava sentindo por ela era raiva. Muita raiva. E ódio. Desgraçada. Minha mandíbula se trava, enquanto eu encarava a porta em que ela havia atravessado, estava quase rosnando de tanta raiva.

•••

Naquele mesmo dia meu pai veio até o meu quarto, como ele disse que viria. Eu estava sentada na minha cama fazendo o dever de casa, porque apesar de eu odiar escola, eu gostava de estudar. Ele se senta em minha cama e eu continuo a olhar para o meu caderno, a sua presença tão perto de mim me deixava ansiosa.

- A sua mãe não se importa com você, mas eu me importo. – Ele começa. – O que eu preciso fazer para ver um sorriso no seu rosto?

- Nada. – Falo friamente, só queria que ele saísse do meu quarto logo.

Amor Rubro - Vol. IVOnde histórias criam vida. Descubra agora