31. Ayla

277 78 200
                                    

Os convites chegam na manhã seguinte, bem no momento que eu saia com Evangeline, para irmos ao mercado comprar alguns laços e outras coisas para os cabelos.

Ela, desesperada, arranca os quatro convites das mãos do mensageiro, e dá as costas sem dizer um A. Agradeço ao homem e entrego umas moedinhas, que o fazem partir com um sorriso bonito.

Antes que a garota dê um chilique, a cutuco e pergunto, mesmo sabendo a resposta, por que vieram quatro convites. E ela entende a indireta, e faz o que eu mais esperava; Rasga o convite de Cinderela em pedacinhos.

Finjo surpresa e choque, reclamo e resmungo que vou dedura-la, mas a morena não liga e segue para dentro da carruagem caindo aos pedaços.

Ela passa toda a viajem olhando o caminho pela janela, com um sorriso meio macabro, visivelmente feliz e satisfeita com a desgraça alheia. Eu apenas digo, mentalmente para mim mesma, que estou fazendo isso para sair do livro; é apenas um livro.

No centro do reino não se fala em outra coisa que não seja o baile real. O príncipe chamou todos os cidadãos para participarem do momento que ele escolherá sua noiva. Todas as moças tem a chance de ser escolhida, mesmo com o buchicho sobre o Rei ter convidado princesas de outros reinos para participarem.

É fato que a família real quer manter a linhagem, mas, pelo o que ouvi dizer, o Príncipe é um homem de coração bom, que está a procura de uma moça que não seja apenas rainha, mas também sua amada esposa. E é por conta disso tanta falação. Todas as garotas estão gastando rios de dinheiro, para ficarem o mais apresentável possível, e estão esquecendo que apenas uma se dará bem, e as outras ficarão com dívidas por muito tempo.

Eu poderia ir até o meio da praça e gritar tudo o que sei, tentando desencoraja-las, mas corro muitos riscos, e meu trabalho é apenas mudar a história de Ella e voltar para casa. Eu não ligaria de contar tudo para todos, mas não arriscarei meus sonhos por personagens que nem são citados.

Dou de cara com Diogo na loja de sapatos. Eu estava saindo, com Evangeline tagarelando ao meu lado, quando ele abre a porta do estabelecimento no mesmo momento que eu.

— Raio de sol. — ele me cumprimenta, me fazendo corar, e depois se dirige à morena ao meu lado.

Evangeline fala com ele, mas fica nos observando atentamente. Seus olhos azuis calculam cada respiração que damos, e cada letra dita.

— Sr. Diogo. — me dirijo à ele com uma breve reverência. — As flores, que o senhor enviou essa manhã para Ella, são lindas e de muito bom gosto.

— São flores noturnas — ele explica. —, que desabrocham com a luz da Lua. Espero que essa noite as senhoritas tenham um belo jarro com elas.

Sorrio, me lembrando de quando lhe contei que o significado do meu nome é luz da lua. Meu coração dá um salto, se tocando na indireta. Ele enviou flores noturnas para Ella, flores que só desabrocham com a luz da lua...

Ai, meu Deus, isso pode ser tantas coisas...

Balanço minha cabeça, tentando esquecer esses pensamentos fúteis. Diogo nunca faria isso, fora só uma coincidência.

— Com certeza. — Evangeline o responde, com sua voz insuportável. — Mas agora, se nos der licença, precisamos voltar para casa. Mamãe está nos esperando para o almoço.

Ele se inclina numa reverencia e nos deixa passar, antes de piscar para mim e entrar na loja. Esse Diogo me paga!

Mais tarde, já pronta para dormir, me sento na janela do quarto. Criei essa mania como uma forma de fuga, logo no meu primeiro dia aqui. Na minha vida real eu ia para debaixo da goiabeira, e agora me sento na janela e fico olhando a lua, perdida em meus pensamentos.

O Que Os Contos Não ContamOnde histórias criam vida. Descubra agora