Assim que Íris caiu houve uma correria. Todos nós fomos para cima dela, mas apenas eu e Elô a tocamos. Deitei sua cabeça em meu colo, enquanto ela tentava a acordar com um perfume que o Rei lhe entregou.
Não sei o que aconteceu, e mais uma vez pensei que estava indo tudo bem, até que minha irmãzinha chorou como um bebê e caiu desmaiada, no chão do quarto da Fera, que agora voltou a ser o Rei Adam.
— O que aconteceu com você? — Elô sussurra em seu ouvido, em meio as lágrimas, assim que Íris abre os olhos confusos. — Por que caiu desse jeito?
Ela responde com um gemido, depois leva sua mão aos seus olhos, os tampando.
— Acho melhor dar um espaço para ela — peço e todos se afastam, menos Joseph, que continua ao meu lado desde que cheguei. — Sr. Martinez, acho melhor se afastar também. Eu percebi a forma como ela o encarou antes de desmaiar, então sugiro que se afaste e se aproxime apenas quando ela pedir.
Ele franze o cenho e me olha. — Não fiz por mal, eu só... Apenas permita que eu me explique. Nunca faria mal a ela nem a ninguém, essa nunca fora minha intensão.
— Acredito no que diz, mas conheço minha irmã. Espere o momento certo, por favor.
Joseph assente e dá mais uma olhada em Íris antes de se levantar e sair do quarto. Agora somos apenas nós três, e minha irmã percebe isso. Íris abre os olhos e nos observa, como se não acreditasse que estamos aqui, juntas; eu também custaria a acreditar.
Ela se inclina, senta ao meu lado, já se sentindo melhor, e nos observa com um olhar triste que eu nunca tinha visto até agora.
É difícil ver quem a gente conhece como alegre com os olhos caídos, eu me sinto uma inútil por não saber o que fazer.
— Eu quero ir embora — seus olhos castanhos se cravam no meus. — Não quero mais viver aqui, nesse mundo, nesse livro. Quero minha mãe, minha casa e minha vida de volta.
— Vamos resolver isso — Elô segura suas mãos. — Mas agora você precisa descansar.
— Não estou cansada — sua testa franze, formando uma ruguinha familiar entre as sobrancelhas.
— Então nos conte o que aconteceu — dou de ombros, ignorando seu olhar fuzilante. — Você nos deu um baita susto, Íris. Não pense que sairá sem uma explicação.
— Não quero falar sobre isso — ela se levanta rapidamente. — Vamos embora, por favor! Vocês deram a entender que estava tudo bem deixar a Fera ter seu final feliz, então eu quero saber se vão cumprir, ou se fora mentira.
_ Não vamos sair daqui até termos uma resposta. — Elô responde, enquanto nos levantamos também.
Íris revira os olhos e cruza os braços, como faz desde criança. Seu olhar é o mesmo, mas a conheço assustadoramente bem para saber que algo está muito errado.
— O rei me dopou — ela começa, olhando para qualquer lugar, menos para nós. — E quando acordei estava presa num quarto, sozinha. Não sei como, nem porque, mas Joseph não estava comigo. Ele me abandonou com essa besta, que queria se casar comigo só por causa do meu rosto bonitinho!
Seus olhos voltam a encher d'água e sua voz fica embargada, mas sua postura é a mesma. Ela está com medo e muito magoada, mas nada vai derruba-la. Não mais.
— A Rainha má apareceu — Íris prossegue. — Me contou sobre o feitiço, e o que precisava fazer para voltar para casa. E eu fiz, ou pelo menos tentei... Eu tive que aguentar aquela coisa me chamando de princesa, tive que aguentar seus olhos em meu corpo como se tivesse esse direito. — ela soluça e limpa o rosto com as costas da mão. — Eu tentei, juro que tentei faze-lo pensar que estava gostando dele, mas... V-vocês chegara, e eu fiquei com tanto medo de q-que as matassem...
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O Que Os Contos Não Contam
FantasyAyla, Eloise e Íris são trigêmeas, mas a única coisa em comum é o amor pelos livros de contos de fadas. Principalmente pelas adaptações. As três vivem em pé de guerra, sempre discordando uma da outra, mas quando Íris acha uma nova adaptação tudo mud...