29. Eloise

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Acordo com meus ombros sendo sacudidos por grandes e fortes mãos. Pisco um pouco, para tentar me acostumar com a luz, e me lembrar onde estou; numa floresta no meio do nada dentro de um conto de fadas clichê e com um final abusivo.

Levanto meus olhos para o dono das mãos e franzo o cenho: — Não precisa dessa agressividade toda. — Dou um puxão e tento me afastar dele, levantando. — Já acordei!!!

— E a senhorita precisa limpar os ouvidos. — lanço um olhar semicerrado para ele, que não aparenta se intimidar. — A Princesa sumiu. Não me olhe dessa forma, a culpa não é minha! Eu a acordei bem depois da hora combinada e voltei à dormir. Quando acordei ela não estava mais aqui.

— Olhou em volta ou só deduziu que um xixi é um sumiço? — meu coração dá um salto, na esperança de que eu esteja certa.

— Eu a procurei, mas não fui muito longe. — o caçador bufa e junta as coisas do nosso acampamento. — Não podia te deixar sozinha enquanto dormia, então voltei e te acordei. E, para sua informação, não creio que ela tenha ido fazer suas necessidades, não tão longe.

Respiro fundo, tentando acalmar meu nervosismo. Ela não pode ter ido tão longe... Nem a rainha má pode ter a encontrado. Por Deus! O que será que aconteceu? Como pude perder Branca de neve desse jeito?

— Consegui rastrear algumas pegadas. — Vitório informa, me entregando o que tenho de levar. — Podemos começar por lá.

Olho na direção que ele indica, e não sinto nem um bom pressentimento. E se for o caminho errado? Talvez ela tenha ido para outro lugar ou direto para o vilarejo, comprar nosso café da manhã...

— Por que não nos separamos? — proponho, ignorando a reação de seu rosto. — Podemos marcar um ponto de encontro, daqui umas horas...

— Não vai dar certo.

— Vamos, me dê um crédito! Olha só até onde fui, sozinha!

— Foi direto para a despensa do lobo. Não vamos nos separar. — O homem me dá as costas e segue o caminho de queixo erguido, como se eu fosse o seguir por vontade própria.

— Se o senhor pensa que vou seguir suas ordens sem uma conversa justa, está muito enganado!

Ele para, e eu chego a pensar que tenha revirado os olhos antes de se voltar para mim, com uma expressão sarcástica.

— O que a senhorita está querendo? Ganhar tempo, para que a princesa fique cada vez mais longe? Está fingindo querer salvar ela e nosso povo, mas na verdade está trabalhando para a rainha? — abro a boca, para argumentar, mas ele levanta a mão, me impedindo, e continua: — Faça o que bem entender, srta. Eloise, mas não me envolva nesse plano absurdo de procurarmos separados. Tenho experiência suficiente para saber que isso nunca dará certo.

Engulo em seco o meu orgulho, mas não abaixo meu queixo. O pior é que ele está certo, e eu, uma zé ninguém, garota da cidade e metida a sabichona, estou tentando fazer algo longe dos meus conhecimentos. Longe do meu inexistente poder.

— Não vou dizer se o senhor está certo ou errado — começo a andar pelo caminho que ele indicara. —, mas saiba que eu estava tentando ajudar. Talvez a princesa tenha ido para o vilarejo, não para o meio da floresta.

Ele anda ao meu lado, e pelo canto do olho vejo um pequeno sorriso se formar no canto da sua boca. — E como explicaria as pegadas?

Penso um pouco, mas não encontro argumentos ou desculpas suficientemente boas. Mordo meu lábio e dou de ombros, me recusando a concordar com ele explicitamente. Ele que lute, caso queira saber o que penso ou acho sobre ele e toda essa babaquice de ser experiente.

— Tem algum plano? — Vitório pergunta, depois de longos minutos andando floresta adentro. — Uma ideia boa, por favor. E que não envolva mortes ou buscas separadas.

Nego com a cabeça, mas penso melhor e conto, depois de mais um tempo caminhando silenciosamente. — Sabe de alguma casa, onde moram anões?

— Anões? — ele parece surpreso. — Por aqui? Não. Talvez perto da mina, mas é muito longe. Por que a princesa faria essa viajem toda? Ou nós?

— Não sei. — minto. — Mas sou muito ligada nessa coisa de seguir meus sentimentos. — Vitório franze o cenho, mas não diz nada. — Sempre que sigo meus sentimentos, tudo dá certo.

— E eu sigo contra a morte, mas a senhorita aparenta portar um poderoso imã que a atraí incansavelmente.

— O que tem de mortal em anões? — pergunto, surpresa com seu comentário. — São gente como a gente, Sr. Vitório! Isso é preconceito, sabia?

— Não tenho certeza se entendi o que a senhorita quis dizer, mas os anões vivem reclusos não só pela linhagem indesejada, mas também por seu temperamento. Dizem que alguns matam por diversão...

— Não creio que o senhor acredita em fofocas de velhos sem nada para fazer!

Rio, com sua expressão de surpresa e dúvida, ao mesmo tempo. Até agora não tinha me tocado que estava falando como se estivesse com meus amigos. Me esqueci completamente de medir minhas palavras, como estava fazendo esse tempo todo, desde que me dei conta de onde vim parar

— Não sei de onde veio essas combinações de palavras, mas certamente escuto os idosos sim. Principalmente quando são meus avós.

Dou de ombros. — Pode se dizer que são gírias, e sim; O senhor escuta coisas que não são reais. Até me esqueci do que estávamos falando...

— Sobre anões. — o observo pelo canto do olho, enquanto desviamos de alguns galhos e folhas baixas. — Ainda não me convenceu porquê temos que ir lá. E porquê a princesa iria até eles.

— Se o senhor nos levar, posso dizer quando chegarmos.

— E arriscar mais do que já arrisquei com a senhorita? Não.

— Vou pensar em algo convincente, apensas espere um pouco e não nos leve para mais longe.

— Ainda é cedo para fazermos uma pausa. — ele aponta para o chão e eu vejo o que parece ser uma pegada de um pequeno sapato. — Mas estamos seguindo exatamente o caminho para as minas.

— Talvez isso te convença!

— O destino me convencerá mais que mil palavras, srta. Eloise.

O Que Os Contos Não ContamOnde histórias criam vida. Descubra agora