47. Eloise

230 71 149
                                    

— Bibbidi Bobbidi-Boo...? Nos leve até Íris... — Ayla pede ajuda com o olhar, mas também não sei o que rimar. — Mesmo que esteja no sul!

Tampo minha boca com a mão, para abafar a risada. Diogo, noivo de Ayla (por mais estranho que seja), gargalha sem nenhum pudor; nunca pensei que Ayla ficaria com um cara assim.

— Porque não deu certo? — ela resmunga para a varinha de condão da Fada Madrinha.

— Receio que precise de mais certeza. — Vitório opina, com os braços cruzados, ao mau lado. — Agora que encontrou a rima pode dizer com mais afinco.

— Não quero te apressar — a interrompo, desviando sua atenção. —, mas estamos há muito tempo aqui, e meu estômago está roncando.

— Já passou do horário de almoço — Diogo lembra, conferindo as horas em seu relógio de bolso.

Com o cenho franzido, minha irmã assente e respira fundo. Algumas mechas loiras que estavam jogadas em seu rosto flutuam com a respiração pesada. Ela está tão concentrada que nem percebe isso.

— Bibbidi Bobbidi-Boo, nos leve até Íris mesmo que esteja no sul! — ela exclama com força.

No segundo que termina a frase há uma explosão de luz em volta de nós quatro. Vitório me puxa para perto enquanto seguro a mão de Ayla, que está nos braços de Diogo.

Tudo acontece muito rápido, em questão de meio segundo já não estamos mais na margem da cachoeira e viemos parar na frente de uma livraria.

Olho em volta e há uma praça com várias pessoas, mas ninguém percebe nossa chegada súbita.

— Bem, acredito que não tenha esquecido nenhum órgão no meio do caminho. — Diogo comenta, enquanto confere se Ayla está bem.

Ela dá um sorriso irônico e guarda a varinha em sua bolsa de couro.

— Onde está sua irmã? — Vitório pergunta, olhando pela praça. — Disse que é parecida com a srta. Ayla, mas não a vejo em nenhum lugar.

— Deve estar por aqui — Lalá afirma. — A varinha não nos traria no lugar errado. Acho...

Escuto um burburinho e me viro na direção. Homens saem de uma taberna e caminham com convicção em direção à praça. Algumas mulheres e crianças vão embora, outros abrem caminho.

Dois homens vão na frente do grupo, um moreno com topete, que ameaça cair em seus olhos a qualquer momento, e um loiro, com os cabelos roçando os ombros. Os dois conversam entre si, gesticulando bastante, ambos ansiosos e com raiva estampada em seus rostos.

— Eu conheço o de cabelos pretos. — Vitório comenta. — É um caçador muito conhecido, o melhor desse reino. Se chama Gaston.

Arregalo meus olhos e encaro Ayla, que me encara da mesma forma. Íris veio parar no conto da Bela e a Fera!

— O senhor poderia falar com ele? — minha irmã pede a Vitório. — Pergunte o motivo da confusão.

— Claro. Volto num instante.

Vitório se dirige aos homens com o queixo erguido. Gaston o recebe bem, mas ainda está tenso; algo sério está acontecendo.

Os dois conversam por uns dez minutos, e o homem loiro entra na conversa justo quando penso que estão acabando.

— Espero que não estejam falando sobre mulheres — Diogo comenta. — Vou lá apressa-lo.

O moreno se dirige até Vitório e os dois homens com uma postura relaxada. Ele sorri para o grupo quando chega, e eles riem de algo que diz. Daqui consigo ver que o ar ficou uns dez quilos mais leve.

O Que Os Contos Não ContamOnde histórias criam vida. Descubra agora