Retorno ao passado

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Não demorou tanto tempo para que Eren percebesse que o homem poderia ter um fogão, mas não havia literalmente nada para preparar o que estava planejando. Então, entrou no quarto novamente e o viu deitado na cama com os olhos fixos no teto extremamente pensativo, mesmo silencioso sabia bem o que ele estava pensando e queria realmente afastar aqueles pensamentos de sua cabeça de alguma forma agradável. Se soubesse das crises de pânico, dos banhos gelados na banheira, dos remédios que ele tomava sem que ninguém além dele mesmo soubesse e principalmente daquela arma na gaveta do banheiro, ele não iria estar assim tão calmo e talvez isso fosse um problema, o pior dentre todos.

- Infelizmente não vou poder cumprir a minha promessa, mas eu tenho certeza que há um mercado aberto essa hora da noit... – Começou por dizer e viu os olhos cinzentos virarem-se para ele, conseguia ver a dor neles e não sabia se ela sempre esteve ali ou agora ele apenas sabia classificá-la e identificar.

- Não precisa. – Negou interrompendo o restante da frase, a mão de Eren que estava indo na direção da chave de seu carro foi parada por ele mesmo no ar obedecendo aquela ordem. – Se quiser ir embora pode ir, mas se...

- E o que achas de eu dormir aqui? – Perguntou o interrompendo igualmente, sabia que não era assim tão bom em pedir coisas, principalmente com aquelas que envolviam outra pessoa, mas não queria deixá-lo, não depois de tudo que ouviu e principalmente por certo medo dele de fato levar a sério que deixassem ameaçá-lo novamente igual Farlan fez com tanta facilidade com aquela arma em sua barriga ou nas piores possibilidades ele mesmo fazer isso consigo próprio.

Lembrar-se da extrema normalidade que ele levou aquilo o assustava, era como se realmente quisesse que alguém tivesse tido aquela coragem e isso o trazia um sentimento frio de que realmente deveria estar ali com ele e para ele, no que precisasse, independente do que fosse, seja para apenas fazê-lo companhia ou abraçá-lo, mesmo que fosse reclamar todas as vezes. Nesse momento seus problemas com o pai eram tão pequenos e dispensáveis, afinal o magoava, mas conseguia superar e viver normalmente com isso, mas Levi não, Levi carregava o fardo daquela culpa todos os segundos desde o último suspiro de Isabel e não havia uma forma de partilhar aquela dor com ninguém, pois se culpava e a culpa era uma das piores coisas que existia. 

- É um bocado perigoso ir agora. – Mentiu de forma descarada para vencê-lo pelo dó, se é que um sentimento desses existisse no outro . – Então posso ficar aqui se tu quiseres me deixar, sabe... Sou jovem, posso ser sequestrado... Um verdadeiro perigo...

- Até dois minutos atrás estava quase com a chave na mão pronto para ir à um mercado, creio que o problema não seja os perigos noturnos da rua. – Arqueou uma sobrancelha cansada na direção dele, não sabia realmente se era uma boa ideia o ter ali, não queria que ninguém o visse naquela situação patética, sabia que remexer naquelas memórias iriam trazer pesadelos e não queria que justamente Eren o visse naquela situação. – Sério Eren, se quiseres ir embora para casa vá, não quero que fique com dó e se sinta na obrigação de ficares aqui. Não temos nada para que tu se importes, contei-te porque confio em ti, confio a ponto de acreditar que não irá contar a ninguém, mas não preciso da tua pena. Pena eu já tenho eu mesmo uma cota bem grande, realmente a última coisa que quero na minha vida é a pena de um pirralho que nem tu.

- Talvez eu só queira passar um tempo a mais contigo. – Disse com um meio sorriso na direção dos olhos cinzentos. – Talvez eu tenha gostado de dormir abraçado a ti e ter sido ameaçado pela manhã com a possibilidade de ganhar uma certa infertilidade... Talvez no campo hipotético possamos adicionar isso vez ou outra nos 'nossos encontros casuais'. 

Sentou-se na cama, cruzou as pernas e levou o polegar na direção do queixo pálido do homem onde uma barba negra já dava indícios de retornar a aparecer. Era áspero, mas o carinho que estava fazendo era bom e sabia disso, principalmente por não vê-lo o afastar como esperou que faria. Iria demorar a se acostumar, pois quando menos esperava a agressão vinha e quando pensava que viria ela não vinha. Era estranhamente bom, misterioso e principalmente ainda mais interessante, o que aflorava a curiosidade dele de tirar mais daquelas reações. 

Mistérios (Riren/Ereri)Onde histórias criam vida. Descubra agora