Perdão

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Sua pele estava totalmente exposta, alguns cortes já se faziam presentes enquanto Darius continuava aquele trabalho e vez outra conversava com Nile descontraído como se não estivesse com uma lâmina nas mãos. Os olhares de ódio vindos de Levi já não passavam qualquer credibilidade, pois estava sentindo tanta dor que só tentava não demonstrá-la e fazer com que Zackly ficasse ainda mais feliz. Ao ouvir sobre a visita pensou em alguns nomes recorrentes, mas não mentiria se o perguntassem se surpreendeu ao ver a figura de Rico surgir em sua frente, pois ao vê-la não sabia mesmo o que pensar. Poderia ser alguma peça que sua cabeça machucada estava pregando, mas aquela voz e olhar maníaco deixava claro que era real até demais.

Lembrou-se de Gus, do sentimento momentâneo da experiência que teve como "pai" e da tristeza que teve ao receber a confirmação que não tinha qualquer laço sanguíneo com o garoto. Talvez dentre tudo que aquela mulher já tinha feito para si, o que mais o chateou e fez ter uma real raiva dela foi ter mentido sobre o menino. Não que quisesse ter qualquer ligação com aquela médica, como um filho, mas não queria que ela tivesse chegado ao ponto de mentir e envolver inocentes na loucura que inventou em sua própria cabeça.

- Sério, cinco minutos com um psicólogo e a gente resolvia toda essa situação de merda. — Disse com certo humor forçando sua voz para que não fraquejasse pela dor absurda que estava sentindo pelo corpo todo, de fato não estava igual a habitual, apesar de ainda ter pequenos resquícios daquela autoridade natural, porém se observassem bem veriam o quão quebrada e fraca estava.

Poderia bem desmaiar a qualquer instante, na realidade até admitia que fosse melhor sofrer qualquer coisa desacordado, mas não se considerava um desistente há muito tempo para simplesmente fechar seus olhos e fazer com que o prazer de Darius aumentar ao ver que sua tortura estava sendo efetiva. Só torcia que aquilo acabasse logo, ou que se soltasse, talvez seu corpo fosse o trair e não iria ter forças se fosse solto, mas tentaria matar aquele homem com aquelas mesmas lâminas que perfuraram seu corpo e os braços.

- Dois psicopatas que não sabem receber um "não" e um que é influenciável por poder e dinheiro. Tch, eu deveria ter feito psicologia invés de direito, quem sabe fosse mais útil para o momento.

Darius lançou um olhar a Rico um tanto entediado segurando uma faca na mão em frente a Levi como se quisesse transparecer silenciosamente a pergunta: "Tens a certeza que quer mesmo isso?". Mas Rico queria, era evidente que sim.

- Sou médica, posso cuidar dos seus ferimentos e tudo ficará bem. — Disse adotando um tom de voz morno ao se pôr na frente de Levi e Darius a contragosto dar um passo para trás liberando o caminho. Estava sujo, cabelos bagunçados, a pele que normalmente não tinha qualquer ferimento agora tinha bons hematomas e cortes, mas ainda sim Rico o achava bonito. Levou a mão até o queixo dele sem apertar, mas apenas para forçar aquele contato visual entre eles. Entretanto, o brilho daqueles olhos cinzentos não era felicidade ou sequer alívio por vê-la ou qualquer coisa do tipo, nem mesmo quando Levi poderia ser morto ela seria uma opção a ele e isso a deixava com raiva. — Basta dizer algumas palavras e ele vai soltar-te, obviamente estará preso a mim, mas prefere a morte do que ficar ao meu lado? Sério mesmo, Levi? Sou tão ruim a ponto de você escolher morrer invés de casar-se comigo?

- Apenas dê o fora daqui, prefiro morrer sem que você seja a merda da minha última visão. — Respondeu entre os dentes com certo nojo e raiva misturados sentindo aqueles dedos em seu queixo e aquele perfume doce que estava o trazendo uma sensação de náuseas e até mais dores de cabeça. — Não me toque, Rico.

A viu sorrir antes de se aproximar ainda mais de seu rosto. Levi enrijeceu a mandíbula transformando seus lábios em uma linha fina sem qualquer chance de abertura entendendo exatamente o que ela queria através daquela aproximação. Manteve seus olhos abertos a encarando cada vez mais próxima a ponto de sentir o cheiro doce ficar mais forte, assim como sua respiração tranquila. Sentiu os lábios dela apertarem-se contra os seus tentando os abrir para aprofundar aquele beijo desajeitado, mas não era a mesma coisa que os de Eren e nem os de Isabel quando a beijou para comprovar que eram apenas amigos, muito menos aqueles beijos casuais com pessoas que nem recordava-se mais o nome, aquele ali o dava nojo e uma vontade imensa de vomitar. Abriu sua boca apenas para deixar seus dentes a mostra e morder com força os lábios dela para que gerasse dor e se afastasse, não se importou com o gosto de sangue que sentiu ao fazer aquilo. Nem sabia se era da mulher ou o seu próprio que saiu de algum de seus ferimentos. Ao ver que mesmo com dor ela não se afastou e iria insistir em tentar o beijar mais uma vez moveu sua testa com força chocando-se contra a dela para que se afastasse. Gesto que fez o próprio Levi sentir muita dor, afinal sua cabeça estava bem machucada e bater com ela em uma superfície rígida não era uma ideia tão inteligente, mas era a sua única opção para o momento e não se arrependia de a ter feito. Além disso, aquela substância estranha ainda fazia efeito em seu corpo ou quem sabe apenas estivesse machucado demais para não sofrer por coisas pequenas como aquelas. Normalmente uma cabeçada o daria apenas um incômodo momentâneo e não a sensação dolorosa que sentiu.

Mistérios (Riren/Ereri)Onde histórias criam vida. Descubra agora