Um tiro certeiro em sua testa

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Era impossível não despertar pela manhã com aquela meia frase não dita por Levi em sua cabeça ou uma parte de seu ser torcendo que aquilo tenha sido um pesadelo estranho e sem graça, mas não era, pois acordar com o homem febril em seu peito lhe respondia que tudo que haviam vivido era real, de fato ele havia tentado se matar e isso doía o peito de Eren de uma forma que nunca havia sentido antes. Mesmo com um cobertor extremamente quente e aquele mesmo moletom cinzento no corpo os fios de cabelos negros se grudavam em sua testa e um suor gelado escorria pela pele; As pálpebras bem apertadas e aquelas duas mãos apertando a camisa do garoto com certa força e possessividade durante o sono. Acordar com aquela visão não era minimamente agradável para o mais novo que despejou alguns beijos carinhosos no topo daquela cabeça se perguntando se deveria mesmo o acordar, pois a possibilidade de ir à Universidade trabalhar não era nem ponderada por ele, não na situação que estava, mas sabia indiretamente que ele era teimoso e iria sim. 

Passou a mão livre pelo rosto dele e aos poucos em choque ele abriu os olhos com uma respiração irregular como se estivesse assustado com aquele carinho matinal, era nesses momentos que Eren queria abraçá-lo e tentar retirar toda e qualquer dor naquele peito, pois não conseguia suportar vê-lo sofrer daquela forma e realmente ter as mãos atadas, mas como o próprio Levi fazia questão de frisar muitas vezes: Não era um abraço que iria melhor a situação por completo.

Para Levi era igualmente ruim mostrar aquele lado dele a alguém, principalmente alguém que lhe expressou seus sentimentos na noite passada, justamente aquele que lhe tinha dito que seriam encontros pessoais e não se apegaria, estava ali com aqueles olhos verdes brilhantes sem demonstrar pena em sua direção, como Levi tanto temia receber de alguém, mas apenas e simplesmente 'amor'. Sentir o carinho em seu rosto, aquela mão em sua cintura e realmente aquele calor humano que só Eren tinha era algo bom, estranho, mas muito bom.

Se na noite anterior seus órgãos já pareciam se corroer por dentro, pela manhã parecia que estavam de fato já em estado líquido e saindo aos poucos por seus próprios poros, pois o estômago estava totalmente embrulhado, os olhos doíam a qualquer movimento rápido, a boca estava imersa em um gosto amargo, áspero e extremamente seco. A cabeça por sua vez era uma coisa que não sabia se latejava, doía, ardia ou qualquer outra coisa, mas era bem semelhante ao descolamento de seu cérebro.

- Estás melhor? – Perguntou em um tom baixo e mesmo sendo um quase sussurro foi suficiente para ele estreitar seus olhos em completa dor. 

Aquela pergunta era irônica demais até para Levi, afinal 'melhor' era algo que não entrava em seu vocabulário há muito tempo, mas não precisava descontar isso no rapaz, não naquele que o cuidou naquela crise de pânico e o impediu de fazer algo que seus pais sofreriam imensamente.

- Ótimo. – Respondeu com uma pitada irônica, mas Eren realmente estava se esforçando para ignorar aquele sarcasmo todo que ele sempre levava tudo, de certa forma ouvir as palavras irônicas eram algo bom para ele, pois era como se de fato ele estava bem, afinal aquele estado quebrado era algo que ele não queria retornar a ver, não tão cedo pelo menos.

- O que achas de tomarmos um banho e tu vestires uma roupa quente para...

- Para ir trabalhar? – Completou balançando a cabeça de forma positiva interrompendo o que o rapaz iria falar, obviamente não era aquilo, mas Levi afirmou extremamente sério sem deixar outra opção a não ser aquela. – É, vamos fazer isso, e depois obviamente deixar que a criança vá para casa trocar as fraldas para ir estudar.

- Tu achas que eu fico afetado em tu me chamares indiretamente de bebê? – Perguntou com uma sobrancelha arqueada em sua direção e um sorriso traquina nos lábios ainda bem ensonado a ponto de não ter travas na língua e evitar beliscões, reclamações ou outras agressões do homem ao seu lado que em circunstâncias normais faria exatamente tudo isso mencionado, mas apenas o olhava em completo desdém sem mover-se um centímetro a não ser enrijecer sua mandíbula para tentar não tremer e demonstrar que não estava assim tão bem. – Acho extremamente fofo na realidade, não tu, obviamente! – Frisou rapidamente nervoso antes que novamente sentisse a mesma agressão em seu membro como da última vez que o chamou dessa mesma palavra. – Estou falando dessa atitude...

Mistérios (Riren/Ereri)Onde histórias criam vida. Descubra agora