Dedo

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- Por que seria uma piada filho? – August lhe perguntou falsamente sério, apesar de saber indiretamente que teria essa reação ao abrir e encontrar aquilo, mesmo que uma esperança paterna estivesse bem acesa esperando uma reação bem positiva.

Pegou aqueles dois anéis prateados nos dedos sem ao menos olhar para os pais, porém sabia bem que ambos estavam com os olhos fixos nele, fixos até demais. 

Lembrava-se bem do próprio avô dizendo com extremo carinho sobre os dois objetos, afinal era justamente os anéis que usou com sua avó durante boa parte de seu namoro, inclusive quando ficaram bons meses longe um do outro quando o Exército o convocou para longe novamente e trocavam semanalmente cartas com a possibilidade da mulher nunca mais receber uma, pois poderia estar morto e não saberia. Então aqueles anéis idênticos nos dedos um do outro eram a ligação que tinham mesmo longe e tocavam no objeto frio para sentir a presença um do outro. Aquele pequeno e delicado desenho de duas asas juntas era quase como as asas da liberdade e de que iriam retornar um para o outro e Levi sempre às adorou nos dedos dos avós justamente pela história e também pelo pequeno desenho. As douradas de casamento foram até usadas, porém todos sabiam que o casal preferia bem mais aquelas cinzentas, então mantinham-nas juntos em seus dedos e quando por ventura do destino a mulher acabou por falecer o velho usou a cinzenta em seu próprio dedo como maneira de a manter ali perto dele. Olhar aquilo e não lembrar-se do amor dos dois mais velhos era quase impossível e não sabia se era merecedor de as ter, mesmo que o avô tivesse as deixado para ele.

- Não estamos dizendo para ti que deve as dar para o Eren. – Kushel lhe disse forma calma e paciente entendendo aquela estranheza inicial, afinal quando o pai lhe entregou isso também teve essa mesma percepção, pois na época o filho era um adolescente e o velho havia deixado com certa propriedade para ele. – Nem que tu as use agora, por exemplo, mas nos sentimos preparados para entregá-las, pois agora sabemos que tu estás pronto realmente para abrir seu coração a alguém...

- Apesar de torcemos diariamente para que seja ele. – O marido completou com um sorriso divertido e a mulher poderia bem lhe direcionar uma bela cotovelada, porém o semblante pensativo do mais novo lhe dizia que nem estava prestando atenção no que diziam. – O que foi Kushel? Não torcemos?

- Torcemos. – Concordou com um sorriso pequeno analisando o filho esperando uma nova reação em relação a aquilo e não apenas o olhar sério alisando os dois anéis cinzentos com os dedos, tinham certeza que estava lembrando-se dos avós e realmente não queriam atrapalhar aquilo. – Ele é gentil, educado, se preocupa contigo e sobretudo te ama... Ele é um bom rapaz para ti filho.

Guardou novamente os anéis naquela caixa a fechando ainda bem pensativo, agradeceu os pais e acabou por sair do quarto deles indo diretamente para aquele que sempre foi o seu e ainda era quando acabava por dormir ali, como seria o caso. Não tinham assim tantas coisas, então abriu aquele mesmo armário da adolescência praticamente vazio e antes de as guardar ali de forma um tanto escondida abriu novamente e sentiu o metal gélido em seus dedos.

"Obviamente ficaria feliz em ter uma aliança bonita nesse dedinho..." – Aquela mesma frase que Eren havia o dito no banheiro da Universidade estava repercutindo em sua cabeça de uma maneira tão irritante desde que saiu do quarto de seus pais, mas não era um irritante ruim, era um irritante igual Eren sempre foi e aquilo estava deixando Levi um tanto estranho sem saber realmente como reagir a aquele artefato em seus dedos.

- Tch, resolvo isso depois... – Murmurou para si mesmo guardando novamente na pequena caixa com extrema delicadeza e colocou entre as roupas que mantinha ali na casa dos pais.

Voltou para a sala e apenas estavam Hanji e Eren ainda conversando, pois tanto August como Kushel estavam na cozinha preparando alguma coisa para que pudessem comer, apesar de Levi depois daquela conversa nem ter tanto apetite assim a ponto de se alimentar. Sentou-se ao lado de Eren colocando um de seus braços atrás de sua nuca de uma forma carinhosa para tranquilizar quanto a conversa, apesar de não poder de fato falar sobre ela, talvez apenas com Hanji, precisava de uma segunda opinião sobre isso, mas não seria uma decisão boa falar naquele momento. Precisava de alguém que o ajudasse a reorganizar seus pensamentos, porém ultimamente quem fazia isso com maestria era Eren e justamente com ele que não poderia conversar. Encostou seu rosto no ombro dele escutando bem ao fundo a conversa animada que ele e a mulher estavam trocando, apesar de nem ser um sacrifício muito grande que ele falasse, afinal era uma das coisas que fazia sempre e isso realmente não irritava o professor, pois gostava daquele som e principalmente da animação e entusiasmo que ele tratava certos assuntos.

Mistérios (Riren/Ereri)Onde histórias criam vida. Descubra agora