Capitulo 93 Estarei ao Seu Lado.

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O médico tenta acalmar o paciente que dava para ver os seus olhos marejados, ele pediu a enfermeira:
Médico: Senhorita Rose poderia nos deixar a sós ? Vai até a recepção avisar à família do senhor Afonso que ele está conversando comigo e logo mais darei um parecer sobre ele.
Rose: Pode deixar doutor! Com licença.
A enfermeira se retirou do consultório deixando o protagonista e o profissional da saúde sozinhos lá no consultório:
Médico: Agora estamos só nós dois aqui seu Afonso poderia me contar o que está havendo.
Na recepção do hospital os amigos de Afonso e Lola estavam aguardando ansiosos por notícias do português Rose chegou na recepção perguntando às pessoas presentes:
Rose: Quem é a família do senhor Afonso dos Santos Oliveira?
Lola ao ouvir o nome do namorado se aproximou da enfermeira juntamente com Virgulino e Genu se apresentando:
Lola: Senhorita meu nome é Eleonora, eu sou namorada do paciente alguma novidade em relação a ele?
Rose: Bem senhora Eleonora, o paciente está conversando com o médico, o doutor pediu que aguardasse mais um pouco para dar maiores informações sobre o caso dele. Assim que ele terminar a conversa o doutor vem falar com vocês, com licença.
A enfermeira se afastou dali, Lola olhou para os amigos e confessou o que estava sentindo:
Lola: Eu sinto um aperto no meu peito, igual aquele quando nossos filhos foram para aquela guerra minha amiga.
Virgulino: Calma dona Lola logo saberemos o que o amigo tem. Por que a senhora e a Genu não vão até a lanchonete tomar um café?
Lola: Me desculpe seu Virgulino, eu não arredo o pé daqui até saber notícias do Afonso. Não me leve a mal eu sei que está com as melhores intenções, mas meu coração está apertado.
Virgulino: Eu só quis ajudá-la dona Lola. O que nos resta é esperar.
Voltando ao consultório Afonso estava com uma dúvida cruel se ele abria o jogo ou inventava alguma desculpa para ir embora, como ele sempre prezou a verdade que era a coisa mais importante o português falou:
Afonso: Eu preciso de ajuda doutor! Será que consigo voltar a ser o que era antes de tudo isso?
Médico: O senhor não está falando coisa com coisa, poderia ser mais claro senhor Afonso.
Afonso: É uma história longa. Eu vou contar.
Afonso P.O.V
Tudo começou numa linda manhã estava enrolado aos braços da minha doce Eleonora, assim que um raio de sol adentrou na janela de seu quarto eu despertei, dei um beijo na sua testa, sai devagarinho e fui fazer minha higiene pessoal primeiro. Depois desci até a cozinha preparar um café da manhã especial a ela querendo retribuir a noite anterior que nos tivemos que ela havia preparado. Fiz um cafezinho preto, tapiocas, pegou alguns queijos, pães e uma compota de figo que ele havia feito.
Lola acordou sozinha na cama e sentiu o cheirinho da comida que eu preparava, levantou-se, se vestiu e foi ao meu encontro.
Lola: Eu não acredito que você fez o café, Afonso! - falou rindo o abraçando por trás.
Afonso: Eu só quis retribuir a surpresa que você me fez, mi'amor, e você merece por ser essa mulher maravilhosa - apagou o fogo e se virou, ficando de frente para ela.
Lola: Não precisava, meu bem, eu só fiz o que me deu vontade, você não precisav...
Afonso: Precisava, sim! - ele interrompeu - Você merece, e... não precisamos de motivos para comemorar o nosso amor. - riu e colheu um beijo da boca doce de Lola.
Lola: Você sempre sabe o que dizer e o que fazer, não é! - ela falou risonha.
Afonso: Sim, sim!
Nós tomamos café, conversamos sobre tudo, eu peguei a compota e comecei a se deliciar, Lola brincou dizendo que se nós se casassemos eu enjoaria dos doces nos primeiros meses, porque eu peguei um pouco do doce disse que era segunda melhor coisa que já havia comido em toda a minhavida, ela também perguntou qual era a primeira, eu cheguei mais perto e respondique a primeira tinha sido ela, ela riu e me beijou avidamente.
Após o café Lola foi para o quarto pegar algumas de suas coisas para poder ir para casa. Quando saiu do quarto foi para o espelho colocar seu colar, eu estava sentado no sofá lendo o jornal, estava procurando emprego ou um estabelecimento à venda, para abrir minha padaria, quem sabe. Eu a vi.sorridente para o espelho e fiquei a admirá-la, ela me encarou e perguntou o que tinha acontecido eu disse que estava apenas admirando a sua beleza, ela corou, ajeitou os cabelos e foi na minha direção para me dar um beijinho e ir embora, tinha que organizar as coisas de casa. Quando ela chegou para se despedir eu puxei-a para sentar no meu colo, para prendê-la mais um tempinho ali, ela gargalhava com as declarações indecorosas ao pé do seu ouvido. Enfim conseguiu sair dos meus braços e correu para a porta, mandou beijos de longe e eu disse que à noite ela não escapava, ela riu.
Mal sabiamos que seria o dia que iria começar o meu pior pesadelo. Depois de ter se passado duas horas e alguns minutos, sentado em minha poltrona a procura de um possível emprego, senti a coluna doer um pouco e só se dei conta que se passou esse tempo todo quando consultei o meu relógio de bolso, arregalei os olhos e resolvi se levantar pra caminhar um pouco, afinal, passar muito tempo em uma única posição pode trazer graves consequências. Dobrando o jornal que estava folheando a pouco, coloco-o na mesinha que tem ao lado do assento vou andando em passos calmo em direção a porta de minha casa, pegando as chaves que estão junto ao meu chapéu na pequena mesa de entrada da residência. Abrindo a porta do local, eu a tranquei e fui a caminho da minha caminhonete, até cogitei em dirigir até uma praça, porém, a ideia de caminhar até lá é muito mais interessante e até saudável, assim, fui caminhando com calma e sem pressa alguma a praça Buenos Aires, um ótimo local para descansar dessa agitação toda e refletir melhor nos problemas, até mesmo entrar uma ótima solução pra eles.
Quando estava a chegar a praça, observei algumas crianças correndo e brincando, deixando o local que normalmente é calmo e silencioso em divertido e cheio de vida. Deixando que um sorriso tomasse os meus lábios ao ver essa cena, uma lembrança vem a minha mente.
Comecei a se lembrar de eu e minha filha correndo pelo parque e rindo bastante, brincando de pega-pega.
— Você não consegue me pegar papai! - a garota diz aquilo um pouco ofegante, mas ainda cheia de energia e com um sorriso estampado no rosto.
— Cuidado hein, zombar de um adversário pode dar consequências graves. - o português, aproveitando o momento de descuido da menina, pega-a pela cintura e ergue ela alguns centímetros do chão - Peguei você!
Inês na mesma hora soltava algumas risadas e de imediato deu um abraço em mim, logo bandou um beijo na minha bochecha e falava baixinho.
— Você é o melhor pai do mundo!
Eu, com os olhos levemente marejados, continuava a andar em direção a praça, ao lembrar disso eu senti saudades por um momento daquela época, não por Shirley nem nada do tipo, mas sim da minha filha, a oportunidade que ele teve de viver a infância de sua filha foi a melhor coisa que pôde acontecer em sua vida.
Finalmente chegando a praça, continuei a locomover-me por toda a extensão dela, agora no intuito de encontrar uma boa sombra de árvore pra se sentar e curtir por um tempo esse ar puro. Por sorte, tinha um banquinho que estava exatamente debaixo de uma mangueira, não que o sol esteja muito forte, estava até bastante fresco aquele dia, mas foi sempre mais aconchegante ficar debaixo de uma boa sombra de uma frondosa árvore. Sentando-se no banco de ferro, eu respirei fundo por um momento e fechei os olhos, aproveitando ao máximo o que o local pode oferecer-me. Ouvindo o leve vento bater na árvore e fazer com que seus galhos mexer e se colidirem uns com os outros, indo conforme a brisa mandava, o suave canto dos pássaros e as risadas das crianças que estavam presentes na praça completavam essa magnífica melodia que nem Beethoven poderia ter criado.
Outra lembrança veio na cabeça, agora não da minha filha, e sim, da minha tão doce e amável Lola. Quando fomos juntos ao parque Ibirapuera, sentamos debaixo de uma formosa cerejeira e ali trocamos juras e declarações de amor. Essa recordação me fez sorrir feito um menino bobo apaixonado, e o rubor pode até não estar perceptível e em demasia na minha face, mas ainda sim, estava lá. A memória estava até que sendo muito generosa, pois comecei a relembrar o início de tudo, o nosso primeiro beijo, o que parecia ser um erro e até mesmo um deslize que não poderia de alguma forma vir a ocorrer novamente, acabou se transformando nisso, um amor avassalador que já teve que aguentar poucas e boas pra estar aqui hoje, forte como nunca.
Patrícia começou a andar em minha direção, fingindo não saber e sequer ter me visto e também está a aproveitar o dia na praça. Chegando perto de onde eu estava sentado, ela tropeçou propositalmente e cai no chão, a bolsa que estava em suas mãos também caiu no piso cheio de terra, assim, alguns pertences de dentro dela acabava por sair.
Eu observei essa cena toda acontecer, a feição de desespero e raiva no rosto de Patrícia, como se o dia dela estivesse indo de mal a pior, poderia ter fingido não ter visto nada e só curtir a tarde fresca, com os pensamentos e lembranças misturando-se em sua cabeça, mas como a minha educação falou mais alto, resolvi se levantar e andar em direção a ela, fazer o ato educado de ajudá-la a juntar seus pertences e levantar-se novamente.
Teria sido melhor eu não ter ido ajudado ela.
Aproximei-me da mulher, comecei a ouvir a fala dela, a voz demonstrava nítido desespero e agitação, acabando por me deixar preocupado.
— Raios! O meu dia está indo de mal a pior cada vez mais! - as órbitas dos olhos estavam a se mexer rapidamente, a feição dela mudou de raiva com uma pitada de desespero pra tristesa e até mesmo desesperança. - É impossível meu dia ficar pior!
Meio sem jeito, ouvindo tudo isso, eu aproximando-se mais, abaixei ao lado da mulher que está limpando um pouco da terra que pregara em seus braços e, principalmente, em seu vestido que está levemente molhado, assim fala.
— Err... Será que me permite ajudar?
De imediato o olhar que estava sobre o vestido levanta-se, olhando pra mim e assim dando um sorriso de alívio, fazendo com que aquela feição toda sumisse.
— Sim, por gentileza. - Eu parei de olhar para Patrícia por um momento, na intenção de pegar a bolsa e juntar todos os pertences que ali estavam, espalhados. A mulher sorriu de uma forma mais estranha, e num rompante, volta pra feição anterior quando eu voltei a olha-la .
- Fico agradecida pela ajuda, e... - pausou por um momento, pegando na minha mão que estava estendida, auxiliando-a e assim conseguindo ficar em pé novamente.
- Quero me redimir de todo o mal que acabei por fazer entre você e a dona Eleonora.
Eu foquei com os olhos arregalados e até mesmo boquiaberto, demonstrando total espanto e surpresa com tal atitude da mulher. Com o tom de voz mostrando nitidamente o quanto eu estava pasmo com isso, falei.
— Err... Bem... Sabe muito bem que não é só a mim que deves desculpas. - estendi a mão que está a segurar a bolsa dela, devolvendo para a respectiva dona.
— Sim, eu sei muito bem, mas quem eu mais devo isso é a você, por favor, me perdoe Afonso. - pegando sua bolsa, baixou o olhar para o chão e até baixou um pouco a cabeça, demonstrando arrependimento.
— Devo admitir que não vai ser fácil eu lhe perdoar, mas, acho que já é um pontapé inicial pra começar a se resolver todos esses problemas. - vendo uma lágrima se esvair dos olhos de Patrícia, de imediato peguei um lencinho que estava em meu bolso e entreguei a ela. - Ei, não precisa chorar.
— Ah, eu... Desculpe-me, acabei me emocionando em demasia. - a enfermeira pegou o lencinho e enxugou as poucas lágrimas se aventuravam pelo seu rosto, logo respirando fundo e erguendo a cabeça novamente.
— Acho que, eu já vou indo.
— Se não for pedir muito, poderia me acompanhar? Eu já fui assaltada duas vezes hoje, estou com muito medo que isso aconteça novamente. - a voz da mulher deixava nítido um desespero e até como se ela estivesse implorando.
— Ah, céus! Eu... Eu irei ajudar, não custa nada acompanhar lhe acompanhar, afinal, anda muito perigoso essa cidade ultimamente.
— Fico novamente agradecida, Afonso.
E assim foram, andando juntos, porém calados, na verdade, eu só estava a ajudar ela pelo fato de estar realmente preocupado com o que a enfermeira supostamente acabara de passar em seu dia, até porquê não é fácil aguentar ser assaltado duas vezes no mesmo dia, imagine três.
Quando mais andávamos, eu cheguei mais e mais perto de minha prisão, ficaria nela por longos e incontáveis dias e noites.
Assim que finalmente chegamos próximo a casa de Patrícia, entendi o porquê de tanto ela estar com medo, para finalmente alcançar a porta da residência e adentrar nela, ainda têm de passar em um beco que é bastante vazio e quieto, como se fosse aqueles becos de filme de terror, onde sempre que se chegava no final dele, acontecia alguma tragédia.
Não vai ser tão diferente dessa vez.
Alguns metros de distância da casa, eu senti que alguém me agarrou pelas costas, logo enfiando um lenço úmido e com um cheiro forte bem debaixo de minhas narinas, me fazendo ter uma enorme dor de cabeça e aos poucos perdi os sentidos.
Antes de eu desmaiar por completo, eu ouvi a voz de Patrícia.
— Shhh, não precisa se preocupar, a seção logo vai começar.
A história mal tinha começado Afonso já estava  transpirando, o suor escorria por seu rosto o médico pediu ao paciente:
Médico: Por hoje eu escutei o suficiente para tirar minhas conclusões, amanhã nos continuamos a nossa conversa, agora trate de descansar, quer que alguém da sua família fique aqui com o senhor?
Afonso: A minha namorada deve estar lá fora, poderia pedir para ela entrar doutor.
Médico: Claro! Amanhã eu volto para ver como o senhor está.
O médico se retirou do quarto do português, ele ficou abismado com que acabara de ouvir ao chegar na recepção Lola foi na direção dele perguntando:
Lola: Como está o Afonso doutor? Ele vai voltar casa?
Médico: Então senhora o paciente está apresentando um quadro de estresse pós traumático em razão do que ele sofreu. A princípio ele vai passar a noite aqui porque está desnutrido, amanhã eu vou pensar o que será feito e comunico a senhora e aos seus familiares. Ele pediu que a senhora fizesse companhia a ele.
Lola: Pode deixar doutor. E quanto ao que ele tem o que vai ser feito?
Médico: Amanhã eu falo tudo, agora preciso cuidar dos outros pacientes até amanhã.
Genu: Acho melhor eu e Virgulino voltarmos para casa, muita gente só atrapalha qualquer coisa se precisar estamos a sua disposição Lola.
Lola: Obrigada amiga! Podem ir!
Virgulino entregou a bolsa que haviam os pertences da nossa protagonista, deu o seu braço para a esposa e se despediram de Lola. Assim que seus amigos partiram a doceira foi ao banheiro retirar aquele vestido de noiva, colocou um vestido mais simples, desfez o penteado fazendo um coque baixo, removeu a maquiagem, saiu do banheiro e caminhou até o quarto do namorado.
Chegando ao quarto de Afonso ela o viu naquela cama com um braço no soro e outro sob a cabeceira da cama ao entrar no local nem precisou chamar por seu nome o homem sentiu o seu doce perfume de jasmim se virou na direção de Lola e disse:
Afonso: Lola, eu não sei como vou te dizer isso, mas eu quero que saiba que o Afonso, aquele que você conheceu um dia morreu. E agora quem está diante de você é uma alma vazia cheia de segredos e medos... Antes os passos firmes, cheios de ousadia deram lugar ao desespero, aflição, receio...
Lola: Quer me contar o que aconteceu naquele lugar? Se não quiser falar sobre isso podemos deixar quando estiver pronto querido.
Afonso olhou para Lola de maneira firme, foi abrindo o pijama do hospital e apontou na direção do seu peitoral onde havia o registro da marca: "Pati" , sem jeito o português ficou de cabeça baixa falou aos prantos:
Afonso: Essa é uma das poucas cicatrizes que vai servir para me lembrar que o passado foi real. Ao mesmo tempo ela vai servir para me mostrar que será algo permanente até o final da vida.
Lola: Meu Deus! O que essa louca fez contigo. Querido quem está aqui ao seu lado é sua Lola, vamos juntos tentar com o tempo aprender a superar esse obstáculo.
Eleonora chegou bem perto do quitandeiro dando um beijo apaixonado nele que o mesmo retribuiu, sendo um beijo calmo e carinhoso fazendo aquele momento ficar sublime fechando os olhos para aquela triste angústia do português.

Eu Vi o Amor em Seus OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora