Capítulo 10 - Onde Quer Que Vá, Tem Amor

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Inês e Shirley entram no carro onde João as aguardava, a garota ao se virar para trás, observando o seu pai de consideração ficar cada vez mais longe aos poucos, com os olhos vermelhos e levemente inchados de tanto chorar, manda um beijo e fica acenando para Afonso que retribui com lágrimas represadas nos olhos.

O carro se afasta completamente da Avenida Angélica e fica fora do alcance da visão do quitandeiro, ele resolve dar uma volta pela praça Buenos Aires, na tentativa de espairecer um pouco e tentar finalmente aceitar que agora a sua amada filha está com o verdadeiro pai. Afonso começa a caminhar pela praça lentamente, apreciando o vento leve que esta a bater-lhe no rosto e fazendo com que ouça o barulho dos galhos e folhas chocando-se sem força, como se fosse uma melodia calma que está a tocar, vem a sua mente uma lembrança de quando Inês era mais nova e estavam passeando por aqui, em um dia como esse de verão.

Flashback ON

Pai e filha estavam andando de mão dadas na praça Buenos Aires, alegres e sorridentes, até que em certo momento, quando estavam prestes a sair da praça pois já havia dado a hora pra voltarem para casa, a garota olha pro pai e fala.

— Pai eu quero pipoca, compra pra mim? - a menina pede enquanto olha pros olhos do pai enquanto que juntava as mãozinhas e dava alguns pulinhos. - Pufavor, pufavorziiiinho.

— Claro minha filha, só não conte para sua mãe que eu te deixei comer pipoca antes do jantar. - enquanto que o português pegava uma moeda e dava pra Inês, deixa que um sorriso invada-lhe os lábios e fique por lá por um bom tempo.

— Claro, eu te amo muito, mas muito mesmo, sabia papai? - a criança abraça fortemente o seu pai.

— Eu também minha filha. - o homem dá um beijo no topo da cabeça de sua filha e retribui o abraço que acaba de receber dela.

Flashback OFF

As lembranças daquela infância acabam mexendo muito com o quitandeiro, que até tenta evitar, mas lágrimas rebeldes saem involuntariamente de seus olhos e acabam por escorrer, pelo seu rosto. Naquele momento, Lola está passando justamente no mesmo local que o homem e encontra o amigo aos prantos. A dona de casa se aproxima dele bastante preocupada e ele tenta disfarçar a sua tristeza de alguma forma, mas acaba não conseguindo.

— Seu Afonso, o que te aconteceu? Nunca o vi tão cabisbaixo.

— Não quero que a senhora se aflija com o meu problema dona Lola, não se preocupe! Isso vai se resolver logo logo! - o português limpa suas lágrimas do rosto com as mãos rapidamente.

— Por favor seu Afonso, esqueceu que somos amigos, sempre que eu precisava de um amigo o senhor está ao meu lado. Agora pára de bancar o forte e me diga: o que aconteceu?

— Shirley foi de encontro ao seu amor do passado, ela fez sua escolha e levou Inês com ela.

— Levou a sua filha?

— Na verdade Inês tem outro pai, embora eu me considere como tal e nunca vou deixar de ser. Não é?

— Mas é claro, se tem uma coisa que nunca se acaba é o amor pelos filhos.

— Agora a solução para o meu problema só o tempo dirá.

Sem se dar conta que iria fazer naquele momento, Lola toca o rosto de Afonso, ele a olha com carinho, ele ia pegar a mão dela para beijar como gesto de gratidão, mas um trovão quebra o clima que estava a se criar entre eles. Eleonora se afasta avisando.

— É melhor irmos para casa, porquê pelo visto vai cair uma tempestade daquelas seu Afonso.

— A senhora tem razão, eu a acompanho até em casa.

— Não precisa seu Afonso, agradeço a gentileza.

Afonso e Lola caminham em direção opostas e não conseguem tirar da cabeça aquela cena de que havia acontecido momentos atrás, o olhar de carinho do quitandeiro e a preocupação da doceira, será que tem alguma coisa que os fazem tomar certos impulsos? O que é que está acontecendo entre eles afinal?

Eu Vi o Amor em Seus OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora