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- Oh, desculpe! - Jisoo sussurra baixinho atrás de mim enquanto tudo que faço é tremer e olhar para meu pai.

- Alguém quer me explicar que brincadeira horrível é essa? - meu pai se aproxima de nós. Tudo que consigo ver são as fumaças saindo por seu nariz e orelhas, assim como nos desenhos animados. Seu rosto está tão vermelho e irritado.

- Como assim? - Jisoo ri - Pessoas quando estão noivas, elas se beijam. - ela balança a cabeça e meu pai consegue ficar mais vermelho ainda.

- O QUE? - ele grita e eu dou um pulinho - Jennie, que palhaçada é essa? - o desgosto está tão claro e vivo em seus olhos.

- Eu não estou entendendo, Jen. - Jisoo se vira para mim - Seus pais não estavam bem com a ideia do nosso noivado, baby? - minha respiração trava. Jisoo, cale a boca, pelo menos por agora.

- Noivado? Do que você está falando? - ela se vira para meu pai, ambos confusos.

- Espere, espere - Jisoo olha para mim novamente - Você não contou, não é? - consigo ver a mágoa surgindo em seu olhar. Abro a boca para tentar dizer algo, mas não consigo.

- Vocês não vão se casar. - meu pai fala diretamente para mim - Nem pense em continuar com essa loucura e pouca vergonha, Ruby Jane. - sinto minha garganta se fechar ao ouvir as palavras dele. Ele só me chama assim quando as coisas estão realmente sérias.

- O que? - agora é a vez de Jisoo estar irritada - É claro que vamos nos casar! - ela pega minha mão. - Ninguém vai nos impedir, só se Jennie não me quiser, ao contrário, ninguém atrapalhará nossos planos. - ele olha com uma expressão de nojo ao ver nossas mãos dadas.

- Jennie, estou falando sério. Se você insistir em continuar com isso, você não é minha filha mais. - ele aponta o dedo em meu rosto e começo a chorar.

- Você só pode estar brincando! Eu não sabia que você era um babaca homofóbico. - Jisoo diz com o maxilar trincado.

- Perdão? Vocês são uma vergonha para nossas famílias. Vocês mancham nossa honra com isso - ele acena para nossas mãos e Jisoo entrelaça os dedos aos meus - Já que você decidiu continuar com essa vida, quero você fora do meu apartamento. Vou ser bondoso e deixar você pelo menos buscar suas coisas. - Jisoo começa a rir ao ouvi-lo.

- Seu imbecil, Jennie não precisa de você. Você é o maior filho da puta arrogante e ignorante que eu já conheci. Não sei como alguém dessa maneira conseguiu criar uma pessoa tão perfeita como Jennie - começo a chorar mais ao ouvir as palavras de Jisoo - Jennie é tão maravilhosa em tantos sentidos que eu poderia passar o resto dos meus dias a elogiando. Você quer continuar com isso? Ótimo, isso mostra que você não tem o mínimo de decência para permanecer em nossas vidas. - ouço o estalo do tapa e tampo minha boca, mas o grito sai antes que eu pudesse fazer qualquer coisa.

- Vocês são dois animais nojentos, sujos. Eu me recuso a ter qualquer tipo de ligação com vocês. - ele diz depois do tapa que deu no rosto de Jisoo. O tom forte de vermelho já está impresso na face dela e meu coração está quebrado.

- Pelo menos nós temos dignidade. - ela sorri - Melhor do que muitos. Você não quer ter ligação com nós? Ótimo, nós não fazemos questão disso. Você está fazendo um favor para nós duas. Amanhã, os papéis com a divisão das empresas será redigido e um dos advogados entrará em contato. Ninguém aqui precisa de um arrombado como você!

- Jisoo! - digo com dificuldade - Pai, por favor, não faça isso. Eu estou te pedindo. - me aproximo dele e ele cerra os dentes. Pela visão lateral, vejo ele erguer a mão e minha única reação é fechar os olhos e esperar pelo que virá a seguir. Parece que estou em um filme e tudo que consigo fazer é assistir.

- Nem pense nisso! - abro os olhos para ver Jisoo entre eu e ele. Ela está segurando seu pulso com força, mas também está tremendo. É a primeira vez que Jisoo altera a voz desde que tudo começou - Você quer me bater? Eu não me importo, se essa é a sua maneira de fazer sua dignidade de "homem" valer alguma coisa, como se valesse de fato - ela ri de maneira debochada - Mas nunca mais, escute bem o que estou dizendo, NUNCA mais pense em encostar um dedo em Jennie, porque eu juro para você que se eu chegar a sonhar que você pensou nessa ideia, eu vou matar você. Eu vou acabar com sua vida, de uma maneira que a morte será sua única salvação de todo o inferno que eu vou te causar.

A voz dela soa quase diabólica com o tom frio e furioso. É a primeira vez, em todos esses anos, que eu vejo medo no olhar do meu pai. Medo e ódio. Jisoo está apertando tanto seu pulso, que sua mão está perdendo a cor.

- Jisoo. - digo baixinho e coloco a mão em seu ombro.

- Você entendeu o que eu disse? - ela aperta com mais força e ele solta um gemido de dor. - Você quer sua maldita empresa de volta? Você terá cada centavo, mas nunca mais pense em Jennie. Se nós somos animais sujos, você não passa de chorume, porque até o pior dos lixões é melhor do que ser alguém como você. Agora dê o fora antes que você saia daqui dentro de um paletó de madeira e não estou dizendo isso por sua causa, mas sim por Jennie. - ela o empurra com força, o fazendo cambalear para trás. Ele me dá um olhar tão frio e odioso antes de sair, que dói mais do que se ele tivesse me dado um tapa.

Depois que ele sai, Jisoo se vira para mim. O olhar preocupado, a bochecha tão vermelha. Estou chorando mais ainda ao ver a marca horrível nesse rosto tão perfeito. Ela me abraça com força enquanto desliza os dedos em meus cabelos.

- Eu estou aqui, Jendeukie. Me desculpe por tudo. - ela diz baixinho - Eu não vou te deixar. Nunca.

Dois a doisOnde histórias criam vida. Descubra agora