Capítulo 61

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Galiza, Castelo de Santa Cristina—Verão, Julho de 836 d.C.

Juan avançou com a espada em riste, os gritos de batalha e dos feridos chegavam até ele naquela ala do castelo. Mahmud cometera um erro ao sair para enfrentá-los e pagara com a própria vida tombando em combate.

Os soldados do exército cristão invadiam o castelo rendendo aqueles que pediam por misericórdia e massacrando os demais.

Ele fora um dos primeiros a adentrar pelos portões abertos. Acompanhado de dez de seus cavaleiros se dirigiu para a ala norte onde Mahmud dissera que Jamila se encontrava. Agora estava ansioso para cumprir a ordem que recebera, se outros soldados do exército chegassem primeiro ela com certeza lutaria, mas por mais habilidosa que fosse, mesmo na companhia de Yusuf e Brunilde, seria derrotada e Juan conhecia bem demais o mal que habita o coração humano. Uma guerreira indomável como ela, de uma beleza ímpar, com certeza afloraria os instintos mais desprezíveis dos soldados acostumados com saques e estupros, e não apenas soldados comuns, mas qualquer nobre ou fidalgo que a capturasse pensaria em se aproveitar dela antes de entregá-la ao rei.

Por qual motivo Afonso II dera a ordem ele não imaginava, era notório que o monarca não se interessava em matrimônio, tanto que era chamado de "O Casto39". Será que fora orientado por Dom Iglesias? Seu pai estaria tramando algo?

Mas esses questionamentos deveriam esperar, ele precisa primeiro encontrá-la e convencê-la a se entregar para que pudesse cumprir o juramento de protegê-la.

Ao adentrar por um umbral deparou-se com Yusuf e Brunilde parados em frente à porta dupla de um aposento. O árabe usava seu traje berbere com uma cota de malhas por cima, além de elmo e uma cimitarra embainhada na cintura. A nórdica estava ao seu lado, armada com seu escudo redondo de madeira e uma machado na mão direita.

Fazendo um gesto para que seus cavaleiros permanecessem no local, Juan se aproximou da dupla, após retirar seu elmo entregando-o a um de seus homens.

— Yusuf, Brunilde, vocês me conhecem – disse abrindo as mãos em gesto de paz, após embainhar a espada — Tenho ordens de prender Jamila e escoltá-la incólume até o rei.

— Terá que passar por cima de meu cadáver – rosnou Brunilde.

— Yusuf, convença sua filha, você sabe que a luta está perdida, em breve meu comandante aparecerá e poderá ordenar a morte de vocês, algo que não desejo – tornou a pedir.

— Jovem mestre, vivemos e morremos pela honra – respondeu Yusuf sacando sua cimitarra.

— Yusuf! – ouviu-se uma voz gritar por detrás da porta — Deixe-o entrar.

— Somente você – avisou o muçulmano.

— Alfonso, vocês ficam e aguardam – ordenou para seu segundo-em-comando — Impeça qualquer um de entrar no aposento ou que tentem desarmar esses dois – concluiu apontando para pai e filha.

— Senhor, pode ser uma armadilha...

— Não, eu a conheço, deixe-me falar com ela e convencê-la a se render.

— Como quiser, meu senhor – concordou Alfonso.

Com passos decididos Juan passou por Yusuf e Brunilde que lhe abriram a porta. Ao entrar no aposento avistou Jamila, ela estava parada perto da janela, vestia botas, calças e uma túnica branca com uma cota de malhas por cima, em sua mão uma cimitarra.

Por um momento a emoção ameaçou dominá-lo, mas se controlou.

— Acabou Jamila, seu irmão está morto, as ordens do rei são para levá-la até Oviedo – avisou.

A GUERREIRA INDOMÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora