Capítulo 42

64 15 0
                                    

Algarve, Al-Andalus — Outono, Dezembro de 835 d.C.

Os rebeldes berberes liderados por Mahmud se estabeleceram no monte Monsalud e, algum tempo depois, entraram no coração do Algarve28 e se apropriaram da fortaleza de Barrancos, não muito longe da cidade de Beja29.

Foi nessa fortaleza que Jamila chegou, juntamente com Brunilde, e sua tropa de cavalaria, com o que sobrara do exército de seu falecido esposo.

Ela rezava para Alá que Yusuf tivesse conseguido levar os gêmeos para em segurança para seu irmão, sentia desesperadamente a falta deles, eram tudo o que restara de sua história de amor com Juan.

A morte de seu esposo também lançava sombras em seu espírito, não o amara, mas o respeitara. Ele fora um homem bom e honrado, que a aceitara, mesmo grávida de um infiel, e que amara seus filhos como se fossem dele mesmo. Dera– lhe de volta a liberdade com que estava acostumada e a tratara com toda dignidade que uma mulher merecia.

Vê-lo morrer pelas mãos de Jamal fizera as recordações da morte de seu pai aflorarem em sua mente. O ódio que sentia pelo general traidor ela nunca sentira na vida, e não havia um dia em que não rezasse para Alá, jurando que o mataria.

Agora ela era uma mulher viúva, o normal seria ficar sob a responsabilidade da família de seu esposo e, na ausência desta, voltar para o domínio do pai ou de um irmão, até que seu filho se tornasse maior de idade. Mas nada na vida dela era normal, ela não se submeteria à autoridade de algum dos irmãos de seu esposo, mesmo se soubesse onde eles se encontravam. Seu pai fora executado, seu irmão era um rebelde com uma sentença de morte.

Jamila constatou que pela primeira vez na vida era totalmente livre, comandava uma tropa de guerreiros que lhe eram leais, não devia obediência a ninguém, a não ser a sua própria consciência, e poderia até mesmo se casar novamente, o Alcorão, o livro sagrado muçulmano pregava que não havia estigma em ser viúva.

Enquanto trotava na vanguarda, se recordou do ensinamento: "Se algum de vós vier a falecer e deixar viúvas, elas deverão aguardar quatro meses e dez dias. Quando elas tiverem cumprido seu período, não sereis responsáveis pelo que elas fizerem de suas vidas honestamente".

Pensou em Juan, onde ele estaria? Teria continuado na Ordem e mantido seu voto de castidade, ou teria saído e se casado? Poderia agora estar na companhia de uma esposa e filhos em um pedaço de terra do ducado do pai dele? Ou pensaria nela ainda? Será que teria aceitado os filhos ou os repudiado?

— Olhe! – apontou Brunilde que cavalgava ao seu lado, para uma fortaleza no topo de uma elevação — Deve ser o castelo onde seu irmão se encontra.

Antes que respondesse, Jamila percebeu que cavaleiros galopavam em sua direção, após passarem pelos portões que haviam sido abertos e logo fechados. À distância enxergou movimentação nas ameias do local.

— Acho que não nos esperavam – grunhiu em resposta à sua amiga.

Os cavaleiros se aproximaram e passaram de um galope para um trote lento, enquanto ela fazia um gesto erguendo a mão com o punho fechado para que a coluna que a seguia parasse.

Um cavaleiro alto com uma grande barba se adiantou, o homem, que era alto e forte, vestia cota de malhas e elmo.

— Olá irmã – cumprimentou Mahmud.

— Irmão...

— Fiquei sabendo de sua perda, meus sentimentos, que Alá a conforte – continuou — Yusuf chegou com seus filhos dias atrás.

— Obrigada – respondeu feliz ao saber que seus amados bebês estavam em segurança — Vim me juntar a você e sua rebelião.

— É bem vinda – aceitou após observar a coluna de guerreiros e guerreiras que a seguia — Venha, devem estar cansados.

A GUERREIRA INDOMÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora