Capítulo XVII

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Frísia – Primavera, Março de 835 d.C.

Ibrahim observou o combate de cima da muralha, a iluminação fornecida pelas fogueiras era precária, mas percebeu quando os vikings formaram uma barreira de escudos e massacraram a tropa franca.

Ao amanhecer a torre estava cercada, a vila incendiada e saqueada, os corpos insepultos dos francos espoliados.

Um banquete com carne saqueada de outras aldeias começou, longe o suficiente do alcance dos arqueiros, mas perto o suficiente para impedir uma fuga de quem estava dentro.

Além do prefeito da cidade e sua família, havia algumas famílias de comerciantes e da pequena nobreza da região, sem contar a pequena guarnição que ficara no interior.

Ibrahim tentou, esperançoso, ver se Brunilde estava entre os sitiantes, mas a distância não permitia.

O dia passou e os vikings não fizeram menção de partir, pelo contrário, suas embarcações ancoraram na margem do rio.

No final da tarde o clima era de tensão e medo dentro da torre, um soldado o convocou para se apresentar ao prefeito no salão principal, um grande cômodo no andar térreo que estava com sua capacidade máxima.

Mulheres com crianças chorando no colo, meninos pequenos agarrados às barras das saias, e homens com expressões taciturnas e nervosos perambulavam de um lado para o outro. As velas de sebo e os archotes pareciam se esforçar para ficarem acesos com o ar pesado.

Abrindo caminho ele chegou até a mesa no canto onde o prefeito estava sentado ao lado do capitão que trouxera a tropa de Aachen, e do comerciante Khalil.

— Me chamaste excelência? – perguntou se esforçando para falar corretamente a língua franca que vinha apreendendo.

— Sim, Khalil me contou que você conhece os nórdicos e sua língua – disse enquanto o comerciante árabe ficava impassível.

— É verdade, excelência.

— Ótimo, gostaria que você parlamentasse com eles, podemos pagar um resgate para irem embora – pediu com ar aflito — ofereça duzentas moedas de prata, temos alguns rolos de tecido e algumas barras de ouro.

— Posso tentar, excelência – respondeu dando de ombros, maktub, pensou, o que tiver que ser será.

Ibrahim foi levado até o portão duplo do muro, após se certificarem de que não havia ninguém por perto abriram uma fresta e praticamente empurraram-no para fora.

Com passos calmos caminhou em direção à aglomeração de guerreiros que pareciam preparar um banquete noturno. Antes que se aproximasse foi cercado por homens de aspecto feroz que passaram a empurrá-lo de um lado para o outro.

— Eu venho com uma proposta de resgate do prefeito para seu líder – disse em escandinavo surpreendendo-os.

— Esse homem fala nossa língua, mas parece com os guerreiros que Brunilde trouxe – disse um deles erguendo seu queixo para observá-lo.

— Eu conheço Brunilde, filha de Ingrid e Yusuf!

— Ninguém te perguntou – gargalhou outro homem e o golpeou na cabeça, fazendo-o mergulhar na escuridão. 

A GUERREIRA INDOMÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora