Capítulo 60

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Galiza, Castelo de Santa Cristina—Verão, Julho de 836 d.C.

Jamila chegara ao castelo que seu irmão recebera do rei cristão após uma viagem de dias. Ela ordenara que sua tropa se dispersasse e aguardasse seu chamado, enquanto juntamente com Yusuf e Brunilde, galopou em direção norte.

Mahmud a recebeu com surpresa.

— Vieste pedir perdão? – perguntou com um sorriso irônico.

— Não, vim perguntar se isso é verdade – respondeu estendendo o pergaminho que Jamal lhe jogara dias antes.

Mahmud o pegou e após abri-lo lhe devolveu.

— Sim, fiz um acordo com o Emir – disse dando de ombros.

— Como pôde? Ele mandou executar nosso pai! – disse irritada enquanto o seguia para o interior do castelo, na companhia de Yusuf e Brunilde.

— Temos um inimigo em comum – disse irritado — Afinal, não foi você quem disse que não devemos confiar nos cristãos?

— Mas se aliar ao nosso maior inimigo? – questionou irritada.

— Faço o que acho melhor pelo clã – respondeu mal-humorado — É bem-vinda irmã, se acomode e descanse, durante o jantar conversamos.

Jamila não tinha interesse em ficar muito tempo, pretendia tentar demover seu irmão da ideia de se aliar ao Emir, mas suas tentativas foram vãs, pois Mahmud começara, antes mesmo de ela chegar, a atacar as terras cristãs.

Na quinta noite ela se reuniu com Yusuf e Brunilde nas ameias do castelo. O local era localizado no topo de um pequeno monte de onde tinham uma visão privilegiada da região. Archotes presos nas paredes iluminavam o local e algumas sentinelas percorriam o estreito passadiço.

Enquanto observava as estrelas e a lua cheia que iluminava toda a região ela pensou em Juan e no cerca da cidade de Mérida, naquela ocasião, apesar da situação, ela fora feliz, bem diferente de agora que se sentia amargurada e triste.

— O que vamos fazer? – começou Yusuf retirando-a de suas lembranças — Os cristãos, com certeza, não ficarão inertes com esses ataques, em breve devem enviar um exército para combater seu irmão, isso se já não enviaram.

— Devemos voltar para Trujillo e reunir nossas tropas novamente – opinou Brunilde.

— Não conseguiremos vencer o exército do Emir – contemporizou Jamila.

— Podemos nos juntar a Musa ibn Musa al-Qasi36 – sugeriu Yusuf — Ele controla o principado semi-independente de Banu Qasi37 – completou se voltando para Brunilde que o olhara com ar de interrogação.

— O principado dele fica na fronteira com o Reino Franco, teríamos que atravessar toda a Hispânia para chegar lá – conjecturou Jamila.

— Mas teríamos uma base sólida para atacar o Emirado – insistiu Yusuf — E meus espiões dizem que ele se encontra insatisfeito com o Emir por ele ter nomeado um governador para a cidade de Tudela38.

— Talvez – murmurou Jamila — Uma coisa é certa, não vou me aliar a meu irmão contra os cristãos, posso não confiar neles, mas os prefiro ao maldito Abdemarrão.

— O que faremos então? – perguntou Brunilde.

— Vamos partir amanhã – decidiu Jamila — Meu irmão escolheu seu caminho.

Ao alvorecer, quando Jamila saiu de seus aposentos e foi ver o sol nascer; um hábito que ela adquirira há muito tempo, assim como ver o sol se pôr, momentos em que pensava em seus filhos e Juan, se surpreendeu.

Um exército começara a cercar o castelo.

A GUERREIRA INDOMÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora