Capítulo 46

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Luco de Ástures — Inverno, Janeiro de 836 d.C.

Madalena estava em seu quarto e arrumava as arcas de madeira para a mudança que ocorreria quando Juan retornasse de Oviedo.

Haviam retornado da capital dias antes, seu sogro trouxera com a comitiva vários guerreiros de aspecto feroz que ele dissera serem vikings, os mesmos que haviam saqueado a cidade de Santander no litoral e foram derrotas pela Ordem de Cavaleiros na qual Juan lutara anteriormente.

Altos, loiros e musculosos, possuíam estranhas tatuagens pintadas nos rostos e corpos, andavam com altivez, mesmo estando acorrentados, mas após dias de marcha por trilhas estreitas chegaram a Luco de Ástures com fisionomias cansadas e, ao menos dois deles precisaram ser carregados por seus companheiros.

Madalena recordou-se da volta de seu esposo que retornara das montanhas com os jovens cavaleiros dias depois da saída da embaixada muçulmana da cidade. Dom Iglesias contara-lhe que o líder árabe fizera um acordo com o rei, em troca de um castelo ele protegeria a fronteira do Reino das Astúrias.

Ela ficou curiosa quando, da janela de seu aposento no castelo, observou a comitiva saindo pelos portões, quisera ver novamente Jamila, a guerreira por quem Juan fora, ou era apaixonado, mas uma serva lhe contara que ela fora embora com algumas guerreiras na madrugada do banquete que o rei oferecera.

Será que fora por causa da notícia de que Juan se casara? Perguntou-se. Percebera que a árabe ficara espantada com a notícia, embora disfarçasse bem, mas Madalena era perspicaz e entendera que Jamila ainda o amava.

Quando Juan voltara, ela não lhe contara nada sobre o encontro que tivera com Jamila, apenas comentara que uma embaixada viera para tratar de negócios com o rei, o qual oferecera um banquete. Esperava que ele não a questionasse e caso se sentisse curioso fosse perguntar para outra pessoa, por sorte, padre Paulus que presenciara o encontro entre elas foi embora um dia antes.

Aparentemente a notícia não o perturbara, pois ele a tomara durante a noite e a amara com carinho, fazendo-a atingir o clímax duas vezes. Às vezes se sentia uma mulher pecadora, tal como a santa de quem ganhara o nome. Com Manoel ela apreciava o sexo, mas não tanto quanto com Juan que parecia despertar nela sentimentos e sensações pecaminosas.

Sentiu que ficava excitada com as lembranças e desviou sua atenção para as servas que dobravam seus vestidos e roupas, colocando-as cuidadosamente nas arcas de madeira.

— Minha senhora está bem? – perguntou uma das servas, uma mulher de meia idade.

— Estou, por quê? – respondeu estranhando a pergunta.

— A senhora está com a face vermelha – observou outra serva mais jovem.

Madalena colocou a não na face, realmente sentiu-a arder, seria por causa das lembranças de seus momentos na cama com Juan? Acordara aquela manhã se sentindo um pouco enjoada e sem apetite, um pensamento passou em sua mente enchendo-a de alegria, estaria grávida?

— Mamá!33 – disse Felipe com sua vozinha infantil, que brincava com as roupas que estavam em cima da cama.

— Sim, meu querido – disse se aproximando da criança.

Antes que a pequena criança disse algo ela se curvou e vomitou em cima das roupas dobradas na cama.

Madalena o pegou no colo e limpou sua boca com um vestido que estava dobrado.

— Meu bebê está doente? – perguntou com voz suave o aconchegando no peito.

Sentiu que o fundo da calça que ele usava estava umedecido, e ao abri-la, percebeu que a fralda de tecido estava suja de um líquido marrom e fétido.

— Meu bebê fez coco – disse beijando-o com carinho na testa antes de providenciar a troca de roupa.

Imediatamente ficou preocupada, a pele da criança parecia arder como uma fogueira. 

A GUERREIRA INDOMÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora