Galiza, Castelo de Santa Cristina—Verão, Julho de 836 d.C.
As tropas reais se aproximaram do castelo, Juan rezou mentalmente para que Jamila não estivesse na companhia de Mahmud.
Fora uma surpresa encontrar Padre Paulus em Lugo, e ainda mais surpreendente fora o que ele lhe entregara: um pergaminho lacrado enviado por Jamila.
— Leia, depois conversamos – dissera o sacerdote ao ver sua expressão surpresa ao saber quem era a remetente.
Juan quebrara o lacre de cera e abrira a mensagem reconhecendo a letra elegante de Jamila enquanto sentia seu coração doer no peito.
"Juan
O destino foi cruel conosco e nos separou, entretanto, Alá em sua misericórdia me presentou com o bem mais precioso de todo o universo, Iasmim e Samir, meus amados filhos.
Eu deveria ter lhe contado antes, mas as vicissitudes da vida me impediram, não há perdão para o que eu fiz, e não há forma fácil para te dizer, por isso seria direta:
Você é pai dessas crianças que eu lhe envio.
Nesse momento Juan parou de ler e encarou o padre com lágrimas nos olhos, o qual lhe fizera um gesto de encorajamento.
Antes de casar com Suleymán eu descobri que estava grávida, meu irmão ameaçou me enviar para o Egito e entregar nossos filhos para a escravidão, por isso tive que aceitar a união.
Depois que prometi fidelidade para meu marido, jurando por Alá, não tive mais opção. Não lhe contei em Trujillo para que você não fizesse nada impensado e não tive coragem de fazê-lo quando você me escoltou até Oviedo.
Agora estou viúva, Suleymán morreu combatendo o Emir, por um momento sonhei que talvez pudéssemos ter uma chance, mas encontrei sua esposa em Oviedo. Não imaginas a dor que senti, mas eu não tinha direitos sobre você, nessa ocasião rompi relações com meu irmão, que decidiu se aliar ao rei Afonso e decidi voltar para o sul para combater o Emir, na tentativa de cobrar a dívida de sangue contra Jamal, o responsável pela execução de meu pai e o assassinato de seu irmão.
Não poderia levar nossos filhos, não arriscaria a vida deles por nada nesse mundo, por isso enviei-as com Yusuf para que ele as entregasse a você.
Tenho certeza de que as aceitará e juntamente com sua esposa cuidará delas e as educará para se tornarem tão honradas quanto és.
Não me odeie, apenas me entenda e perdoe.
Esta que sempre o amou e amará.
Jamila".
Fechando o pergaminho molhado com suas lágrimas, Juan encarara o sacerdote.
— Quando? – perguntara.
— Depois que você desapareceu da cabana de seu pai – respondera padre Paulus — Yusuf o procurou e acabou deixando-as comigo.
— Como elas estão? – questionara ainda incrédulo e chocado com a notícia.
— Estão muito bem, seu pai as tomou sob os cuidados dele – respondera com um sorriso o padre — Ele se apegou muito a elas após a morte de Madalena e Felipe.
— Por que não me avisou antes? – questionara ao perceber que as crianças haviam sido entregues meses antes.
— Seu pai me proibiu, mas mesmo se eu quisesse ninguém sabia onde você estava, apenas que se juntara ao exército e combatia na fronteira – explicara constrangido — Não quis arriscar enviar o pergaminho por mensageiro, ele podia se perder, somente dias atrás voltei para Oviedo na companhia de seu pai e trouxe a carta na esperança de encontrá-lo.
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A GUERREIRA INDOMÁVEL
Romance"O que acontece quando uma jovem guerreira se vê entre o amor e sua convicção?" Século IX d.C., a península ibérica dominada pelos árabes se vê envolta em fortes tensões sociais. Uma embaixada enviada pelo último rei cristão à Mérida tem o objetivo...