Capítulo 81

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Talyata — Outono, Novembro de 836 d.C.

Ibrahim observou o acampamento de cima de uma estrutura de pedra que um dia fora um edifício romano.

Viu que embarcações estavam ancoradas na margem do rio, uma grande paliçada de madeira, tendo um fosso cavado na frente, cercava-o. Não entendera por que as tropas muçulmanas não haviam atacado antes, permitindo assim que os nórdicos reforçassem as defesas do acampamento.

No interior havia tendas de pele armadas em meio às ruínas do que um dia fora uma cidade romana, alguns edifícios que resistiram ao tempo serviam de fortificações e quartel general de Bjorn, Haestin e os demais Jarls.

Olhando para fora do acampamento, não muito distante, Ibrahim observou o antigo anfiteatro romano, onde segundo lera em alguns livros, provavelmente eram disputadas provas atléticas e combates entre gladiadores.

Ele montara o hospital improvisado no piso de rocha polida do que um dia fora uma casa de banho. Havia ladrilhos com cenas do cotidiano de uma época que ele somente podia imaginar.

Bjorn não se importava que ele andasse livre pelo acampamento, podendo até mesmo acompanhar o conselho de guerra dos Jarls, onde qualquer guerreiro podia pedir a palavra. Foi assim que descobriu que os vikings planejavam esperar que as tropas do Emir os atacassem no acampamento, para então, depois de vencê-las em um combate defensivo, embarcarem e subirem o rio para atacarem Córdova, a capital do Emirado.

Agora, após dias, enquanto o sol se aproximava do centro do céu ele observou as tropas muçulmanas se aproximando pelo lado norte e oeste, uma vez que o sul e o leste encontravam-se protegidos pelo rio.

Olhando para o outro lado do rio Guadalquivir ele não avistou nenhuma embarcação, somente uma movimentação de homens e equipamentos, mas não conseguiu identificar o que era.

Voltou novamente o olhar para frente, as tropas muçulmanas avançavam lentamente em uma barreira de escudos redondos de metal, com várias filas de profundidade, bem parecida com a estratégia dos nórdicos e imaginou que Brunilde tivesse orientado os comandantes árabes.

Desde que milagrosamente a encontrara, dias antes, não tivera mais notícias dela, mas acreditava que ela estivesse entre os soldados que avançavam. Olhou para detrás das filas de guerreiros e percebeu a movimentação da cavalaria, imaginou que sua irmã e Juan estariam entre eles.

Nas poucas horas que ficara junto de Brunilde, quando não estavam se amando ela relatara resumidamente tudo que ocorrera desde que ele fora aprisionado.

Esperava que todos sobrevivessem àquela batalha que em breve se iniciaria e pudessem ser felizes, mas algo em seu íntimo dizia que muitas lágrimas ainda iriam verter até que tudo acabasse.

De repente ouviu um grito:

— Arqueiros! Ao meu sinal! – gritou um nórdico, capitão dos arqueiros vikings.

O jovem olhou aflito para a fila de seus compatriotas que estavam muito perto.

— Disparar! – ouviu o grito e acompanhou com o olhar centenas de flechas subindo ao céu e depois caindo em uma parábola.

Ouviu gritos, trazidos pelo vento, mas a fila continuava se aproximando, muitos guerreiros árabes conseguiram e proteger atrás de seus escudos.

— De novo! – gritou o capitão — Disparem à vontade!

As flechas continuaram voando e caindo sobre as fileiras árabes, mas eles haviam conseguido se aproximar do fosso e da paliçada e começaram a escalá-la e ultrapassá-la, apenas para encontrar a barreira sólida de escudos vikings.

A GUERREIRA INDOMÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora