Capítulo 3

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Luco de Ástures – Primavera, Abril de 829 d.C.

O jovem ergueu a pesada espada sem fio em posição defensiva, apesar de ter apenas quatorze anos era alto e esguio, ao contrário do irmão, quatro anos mais velho e largo como o tronco de um carvalho e que agora o encarava com raiva.

Sua aparente leveza lhe dava uma vantagem contra seu irmão: velocidade.

Manoel arremeteu como um touro enfurecido desferindo um golpe que se o acertasse iria, ao menos, quebrar algum osso, apesar de ambos estarem usando elmos e cotas de metal.

Com leveza Juan saltou para o lado escapando do golpe e acertou com a parte chata da lâmina as nádegas de seu irmão.

— Seu merdinha! Vou arrancar sua cabeça fora! – gritou Manuel descontrolado jogando a espada para o lado e erguendo os punhos cerrados avançou.

— Você pode tentar, irmão – rosnou Juan aceitando o desafio e jogando sua espada para o lado.

Mas antes que o mestre de armas e instrutor de esgrima e seus ajudantes interviessem, uma voz alta e imperiosa se fez ouvir:

— Manoel! Juan! Basta! – ordenou Dom Iglesias Martinez Cervantes, Duque de Luco de Ástures e conselheiro real. Um homem de cerca de um metro e oitenta, com constituição forte e trajando uma túnica com o brasão do ducado, um cavalo negro empinando, e um cinto onde estava pendurada uma espada embainhada.

— Pai! – disseram ambos os jovens curvando a cabeça em sinal de respeito.

— Vá se preparar Manoel, vamos para Oviedo para a consagração da nova capital do Reino – disse fixando seu olhar no jovem que imediatamente obedeceu e caminhou para o interior do castelo.

— E eu, pai? – perguntou Juan na esperança de acompanhá-lo.

— Você? Faça o que quiser, desde que fique longe de minhas vistas – respondeu encarando-o com um olhar frio e em seguida caminhou atrás de Manoel na companhia de um conselheiro.

Juan sentiu o rosto arder de vergonha enquanto controlava-se para que seus olhos não marejassem.

— Não fique triste, jovem mestre – disse o velho mestre-de-armas de esgrima, um guerreiro com mais de vinte anos de carreira.

— Só queria que ele tivesse orgulho de mim – murmurou mais para si mesmo do que para o velho soldado.

Antes que o homem dissesse algo o jovem correu para longe. Como sempre, toda vez que se sentia triste se dirigiu até a pequena biblioteca que havia no castelo em que morava, uma estrutura feita de rochas, ao contrário das outras edificações, feitas de troncos de árvores cortadas de um bosque próximo e barro, localizada na comunidade de Luco de Ástures, no reino das Astúrias.

A biblioteca fora montada, a pedido de Dona Margarida, mãe de Juan, pelo padre do castelo, um homem de quase sessenta anos, mas que estudara em Roma e sabia latim. Ele aparecera nas terras de seu pai antes mesmo de Juan nascer, fora o padre Paulus que lhe ensinara a ler e escrever, juntamente com outros dois jovens da aldeia. Estes últimos, por ordem do Duque, com o objetivo de se tornarem copistas enviou-os para Roma quando completaram quinze anos, de onde voltaram, cinco anos depois, com cópias de vários livros traduzidos do grego.

Além das obras gregas, havia alguns livros árabes traduzidos, graças a um servo muçulmano que estava na família há mais de dez anos e que lhe ensinara também o árabe.

Juan percorreu a estante, já lera a maioria das obras, mas ainda assim pegou uma tradução da Ilíada, de Homero, era um poema grego que narrava uma guerra que durara dez anos iniciada por causa de uma mulher. Ele achava o motivo da guerra uma tolice, mas gostava das cenas que descreviam as batalhas.

A GUERREIRA INDOMÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora