Capítulo 35

113 24 5
                                    

Mérida- Outono, Outubro de 833 d.C.

Jamila não conseguia dormir, há tempo se revirava em sua confortável cama, em meio a lençóis e almofadas de seda. Seu coração estava ansioso, não com a situação do cerco da cidade de Mérida, não era a primeira vez que seu pai se rebelava e provavelmente não seria a última, mas sim com Juan.

Emissários foram enviados pelo Emir para propor um acordo de paz, as negociações estavam em andamento enquanto a cidade continuava sitiada.

Os combates haviam cessado há uma semana, depois da vitória sobre os muros da cidade, e as tropas do Emir se contentavam em manter o cerco, apenas duelos individuais, entre os campeões dos dois exércitos, aconteciam em frente aos portões, para deleite dos moradores e soldados que assistiam tudo de cima muros, como se estivessem em uma feira assistindo um torneio.

O último duelo ocorrera durante a manhã quando Jamila, na companhia de Mahmud, vistoriava os muros. Ao chegarem ao local, encontraram Juan apoiado nas ameias observando a paisagem.

Enquanto seu irmão conversava com oficiais do Sheik, e Jamila conversava em voz baixa com Juan, preocupada com seu bem estar, um guerreiro do Emir avançou sozinho, sem armadura ou elmo, com o peito desnudo, carregando apenas uma cimitarra na mão.

O homem era incrivelmente alto e forte e já demonstrara coragem e habilidade nos dias anteriores, quando liderara um ataque contra os muros e quase o conquistara sozinho.

Ele se aproximara do portão principal e gritou seu desafio.

— Sou Qãnab e venho desafiar Ŷamĩla bint Abd al-Ŷabbãr ibn Zãqila, a mulher que ousa se vestir e lutar como homem! – gritara brandindo sua cimitarra.

— Eu aceito! – respondera fazendo menção de descer até o portão.

— Eu não autorizo! – gritara Mahmud se interpondo em seu caminho.

— Irmão! – ela se irritou com a interferência.

— Jamila... – murmurara preocupado o jovem asturiano.

— Eu sou Mahmud ben Abd al-Ŷabbãr, não permito que minha irmã aceite o desafio! – respondera para o guerreiro, ignorando o protesto da irmã — Não arriscarei transformá-la em uma refém!

— Que assim seja! — concordara o guerreiro — Mas minha cimitarra clama por sangue antes de voltar à bainha! Quem aceita meu desafio?

Um silêncio pesado percorrera os muros e Jamila fizera menção de protestar novamente com Mahmud para que este permitisse que ela aceitasse o desafio.

— Sois todos covardes? Ninguém lutará pela honra da guerreira berbere Ŷamĩla? – gritara com escárnio.

Juan respondera imediatamente surpreendendo a todos.

— Eu, Juan Iglesias Martinez Cervantes, filho do Duque de Luco de Ástures aceito seu desafio e lutarei pela honra da Dama! – gritara em resposta.

Os soldados na muralha que observavam tudo atentamente gritaram de empolgação incentivando Juan e proferindo impropérios contra o guerreiro do Emir.

— Não faça isso – pedira assustada tocando levemente o antebraço do jovem.

— Me crês um covarde? Você mesma estava pronta para aceitar o desafio! Eu lutarei por sua honra – dissera com convicção enquanto retirava o elmo, a cota de malha e a túnica, expondo o tronco nu, assim como o guerreiro desafiante.

Com passos decididos ele descera as escadas e saíra pela fresta que fora aberta no portão.

Jamila se virara para o muro e apertara com força a beirada das ameias até os nós de seus dedos ficarem brancos. Seu coração disparara no peito de aflição. Ela mantinha os olhos fixos no jovem que avançara temerariamente com a espada já desembainhada na mão, afastando-se da cidade.

A GUERREIRA INDOMÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora