Capítulo 46

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Rio Guadiana e Mérida – Inverno, Março de 834 d.C.

Juan não cumpriu sua promessa e tão logo chegou correu para os braços de Jamila como um homem perdido no deserto correria para um oásis.

A jovem nunca se sentira tão feliz, ele demorara quase cinco dias para ir e voltar, um percurso feito em tempo recorde, mas que para ela parecera uma eternidade.

Nunca imaginara que o amor fosse um sentimento tão forte. Quando ele estava próximo se sentia a mulher mais feliz do mundo, quando ele estava ausente se sentia a mais infeliz.

Tentavam disfarçar o que sentiam, mas os cavaleiros árabes pareciam desconfiar, por isso ela decidira enviá-los de volta para Mérida por terra.

Brunilde garantira que suas escudeiras conseguiriam levar a embarcação rio acima apenas com a força dos remos, demoraria um pouco mais, três dias, em vez de um, mas Jamila não tinha pressa, pois todas as noites eles se amavam sob a luz da lua e das estrelas no piso da embarcação que balançava suavemente, enquanto Ibrahim, Brunilde e as demais escudeiras acampavam em terra firme.

Aquela era a última noite, na manhã seguinte alcançariam Mérida.

— Juan, "luz da minha vida", nunca fui tão feliz em minha vida – murmurou aconchegada em seu peito após se amarem até próximo à exaustão.

— Minha Dama, nossa felicidade será eterna. Assim que sairmos de Mérida iremos para minha casa – dissera com um sorriso feliz.

Ela não respondeu, como poderia contar a ele que não poderia aceitar seu pedido de casamento que tão insensatamente aceitara?

Como ela poderia viver consigo mesma enquanto os homens responsáveis pela execução de seu amado pai continuavam vivos?

E ainda que concordasse, como poderia aceitar outra fé que não a sua?

Por isso ajeitou-se sobre o corpo quente dele insinuando-se.

— Me ame mais uma vez, "luz da minha vida", como se fosse a última – pediu com a voz rouca de desejo.

Perto do meio-dia o navio viking ancorou no pequeno porto de Mérida.

Na companhia de Ibrahim, Juan e suas escudeiras, Jamila caminhou com passos decididos até o palácio de seu pai, agora de seu irmão mais velho.

As servas que haviam sobrevivido ao ataque gritaram emocionadas cercando-a quando passou pelos portões. Havia sinais da batalha que se travara no local, colunas estavam com marcas de flechas, algumas partes pareciam terem sofrido um princípio de incêndio. Vasos e flores estavam destruídos nos jardins externo e interno.

Enquanto se dirigia com Ibrahim, Brunilde e Juan para o salão de reuniões percebeu que havia soldados que ela não conhecia entre as tropas de seu irmão que tomavam conta do palácio.

Ao adentrar no aposento observou seu irmão e outros guerreiros sentados em volta da grande mesa que havia no local.

Ao vê-la Mahmud e os demais se ergueram. Seu irmão e Yusuf vieram em sua direção.

— Minha irmã! Meu irmão! Por Alá, estão vivos! – cumprimentou ignorando Brunilde e Juan alguns passos atrás.

— Graças a Alá! – disse Yusuf — Como rezei por todos vocês!

— Graças também a Brunilde e Juan – respondeu a jovem.

— Sim, tem meus agradecimentos – disse Mahmud encarando ambos por um breve momento enquanto convidava os irmãos para se aproximarem da mesa.

A GUERREIRA INDOMÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora