Capítulo XVIII

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Frísia – Primavera, Março de 835 d.C.

Após vencerem os francos e frísios a cidade foi saqueada. Enquanto guerreiros rudes e escudeiras revistaram tudo e espoliavam os mortos, Brunilde procurou sua tia.

Encontrou-a estendida na relva com uma lança enfiada na barriga.

— Tia! – chamou-a apertando seu ombro gentilmente.

Varda abriu os olhos lentamente, um filete de sangue escorria por seus lábios.

— Brunilde, minha sobrinha...

— Tia, não fale, por favor – pediu apalpando o ferimento levemente, a lança se cravara fundo.

— Ao menos rachei a cabeça do homem que me acertou – disse e a jovem observou um soldado franco com a cabeça rachada, seu elmo partido em dois, a machadinha dela cravada fundo.

— Tia... – disse sentindo as lágrimas escorrerem por sua face. Varda era a única parente viva, além do pai, e a amava muito, fora ela quem a treinara e a transformara em uma escudeira de renome.

— Me dê minha machadinha, quando as Valquírias vierem me buscar tenho que estar segurando seu cabo.

Brunilde se levantou e retirou a arma que saiu com dificuldade da cabeça do franco morto, colocando-a no peito de sua tia que a segurou com força.

— Não chore, criança, esse é nosso estilo de vida – murmurou com um esgar de dor ao perceber as lágrimas no rosto da jovem.

Varda demorou duas horas para morrer e durante todo esse tempo a jovem ficou ao seu lado confortando-a e relembrando os momentos que compartilharam juntas.

Brunilde juntamente com sua tripulação e os guerreiros que seguiam Varda a levaram para longe do campo de batalha, descendo o rio. Colocaram-na então em um bote que pegaram na cidade, juntamente com seu escudo e armas, coberta de galhos e relva seca, em seguida a jovem fez uma elegia em memória de sua tia:

Erga-se agora sobre a quilha

A brisa do oceano em seu rosto é fria

Que nesse momento não lhe falte coragem

Aqui termina sua vida selvagem

Para aqueles que sorriem para a morte

Os Deuses reservam a melhor sorte

Com homens na vida você teve prazer

Um dia todos devem morrer

Colocou, então, um archote aceso e ficou observando os galhos começarem a arder. Duas escudeiras empurraram o bote para as águas do rio e a correnteza o levou enquanto as chamas o consumiam e o sol subia no horizonte.

Seus guerreiros voltaram para a cidade enquanto ela ficou sentada na beirada do rio, pensando na vida e morte de sua tia. Dormiu deitada na relva e acordou horas depois.

Voltou perto do entardecer, os vikings ainda comemoravam a vitória, uma escudeira de sua tripulação correu até ela, era uma jovem de vinte e cinco anos que a acompanhara em sua aventura em Al-Andalus.

— Brunilde, você precisa correr...

— O que foi Helga? – perguntou preocupada com a expressão de sua companheira.

— Ibrahim, ele está aqui...

— O quê? Como? Onde? – perguntou apressando o passo em direção a praça do mercado onde todos se aglomeravam.

— Ele trouxe uma proposta de paz, mas Haestin o prendeu, diz ele que irá fazer um blót10 aos deuses e oferecerá o árabe e outros prisioneiros para agradecer pela vitória.

A GUERREIRA INDOMÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora