Talyata — Outono, Novembro de 836 d.C.
Juan observou satisfeito os nórdicos debandarem em direção às embarcações, perseguidos pelas tropas muçulmanas.
— Parece que vencemos – disse Dom Rodrigo emparelhando sua montaria ao lado da dele, que o jovem recuperara.
— Sim, com certeza é uma vitória – respondeu Juan olhando em volta à procura de Jamila.
Não vira mais a guerreira berbere desde o momento em que haviam invadido o acampamento e começava a se preocupar.
— Está procurando Jamila? – perguntou o cavaleiro com um sorriso astuto.
— Sim...
— Eu a vi naquela direção – avisou apontando para o oeste.
— Vou procurá-la, se não se importa – pediu.
— Claro que não, você não é mais um irmão juramentado da Ordem de São Tiago de Compostela – autorizou com um sorriso.
Juan trotou por entre os corpos dos mortos e feridos da batalha, procurando avistar Jamila ou Yusuf que estava ao seu lado. A lua cheia e as várias fogueiras que ardiam forneciam luminosidade suficiente por centenas de passos.
Olhando cuidadosamente em volta refez o caminho da cavalaria liderada por ele e Jamila. Avistou o garanhão negro que Jamila cavalgava estendido no solo, desmontou e rapidamente o examinou, uma lança estava cravada em seu ventre, mas não havia sinal dela ou de Yusuf.
— Jamila se feriu, ela foi levada para a retaguarda – ouviu o aviso de um soldado muçulmano que estava caído no solo com um grande corte na coxa causado por um machado.
— Obrigado – agradeceu o jovem e montou novamente.
Ultrapassou a paliçada destruída e saltou pelo fosso saindo do acampamento. Percebeu, à distância, alguns corpos caídos no solo, banhados pelo luar.
Dirigiu-se até eles e desmontou.
— Cristo! – murmurou horrorizado.
Yusuf estava caído de lado em meio a vários corpos, correndo se aproximou e ajoelhou para examiná-lo. Seu ventre tinha uma mancha vermelha, assim como suas costas.
Ele tocou seu pescoço gentilmente para ver se ele ainda respirava. Para sua surpresa o árabe abriu os olhos.
— Juan... – murmurou em meio a um gemido após reconhecer o jovem.
— Não se esforce Yusuf, vou procurar ajuda – orientou Juan olhando em volta.
— Não... – disse o muçulmano respirando com força, seus lábios retorcidos em um esgar de dor e ódio — Jamila...o maldito Jamal a capturou...Você tem que resgatá-la.
— Para onde ele a levou? – perguntou o jovem sentindo a raiva ferver em sua alma.
— Para aquelas ruínas – disse o velho guerreiro apontando para um conjunto de pedras banhados pelo luar — Resgate-a, faz pouco tempo que ele a levou, há quatro guerreiros com ele – pediu respirando com dificuldade.
Juan olhou em volta e a avistou alguns cavalos pastando perto dos corpos, em um deles havia um arco e uma aljava de flechas. Rapidamente ele caminhou até o animal e pegou as armas, depois voltou para Yusuf.
— Resista – pediu se ajoelhando e apertando gentilmente seu ombro.
— Vá – arfou o velho guerreiro com uma expressão de dor observando o jovem se levantar e correr até sua montaria.
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A GUERREIRA INDOMÁVEL
Romance"O que acontece quando uma jovem guerreira se vê entre o amor e sua convicção?" Século IX d.C., a península ibérica dominada pelos árabes se vê envolta em fortes tensões sociais. Uma embaixada enviada pelo último rei cristão à Mérida tem o objetivo...