Capítulo 45

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Como o capítulo de hoje foi pequeno....

Mérida- Inverno, Fevereiro de 834 d.C.

Juan chegou à cidade e não vislumbrou tropas do Emir, com cautela guardou sua montaria em um estábulo público e caminhou até a casa cedida pelo falecido Sheik quando ele e o padre Paulus chegaram a Mérida.

Para sua surpresa o servo da casa informou que o padre ainda se hospedava no local, mas que fora convocado pelo novo líder do clã berbere, Mahmud.

Duas horas depois o religioso chegou e encontrou o jovem bebendo tranquilamente de uma garrafa de vinho.

— Por São Tiago de Compostela! Você está vivo! Graças ao bom Deus! – quase gritou de felicidade abraçando-o quando ele se levantou da cadeira na qual estava sentado.

— Padre! Que bom vê-lo vivo e bem!

— Meu jovem, você apareceu em boa hora.

— Por quê?

— Sente-se e me encha uma caneca desse vinho, que era para ser usado na missa, Nosso Senhor com certeza nos perdoará, já que a parábola do bom filho que a casa torna, acabou de acontecer – convidou-o se sentando também em outra cadeira.

Rindo, Juan encheu outra caneca e estendeu ao padre que, após tomar um grande gole e suspirar de satisfação, voltou-se para ele.

— Agora, meu filho, me conte onde esteve.

Juan contou sobre o ataque e a traição de Jamal, sobre a execução do Sheik e a fuga na embarcação viking. Sobre a mensagem de Yusuf e a decisão de retornar, omitindo apenas seu relacionamento com Jamila.

— Graças a Deus, vocês estão bem! Deve buscar Jamila imediatamente, o irmão dela a aguarda ansiosamente, as notícias que você ouviu são verdadeiras, o Emir e Mahmud firmaram a paz.

— Padre, preciso me confessar – começou ignorando-o.

— Se confessar? – perguntou espantado, o jovem nunca fazia isso voluntariamente.

— Sim, padre, eu pequei e peço o perdão de Deus e desejo me redimir.

— O arrependimento é o primeiro passo – respondeu cauteloso e desconfiado.

O jovem nunca fora religioso, comparecia na missa obrigado pelo pai e geralmente para cortejar as damas e señoritas.

— Eu pequei contra a carne e desvirtuei uma dama de nobre família – afirmou com ar compungido — quero redimir meu pecado e casar-me com tal dama.

— Oh Juan! Isso é maravilhoso! Embora acredite, seu pai ficará furioso, mas vocês estarão sob a proteção da Madre Igreja – respondeu feliz — Claro que eu o caso!

— Ótimo, padre, minha Dama se encontra na aldeia de Batalyaws – afirmou animado — podemos partir hoje mesmo.

— Sim, sim, quer dizer não! – se contradisse — Primeiro você deve trazer Jamila para Mérida, depois eu o caso com sua dama e voltamos para Luco de Ástures.

— Voltar? – perguntou espantado.

— Sim, seu pai enviou um mensageiro, nossa missão aqui se encerrou, ele exige nossa presença, o próprio rei Afonso espera nosso relato – explicou animado com a possibilidade de partir — Os mercenários da escolta já partiram para levar as notícias sobre a rebelião enquanto eu o esperava.

— Padre, minha Dama é Jamila.

Por um momento o sacerdote pensou ter entendido errado, mas ao encarar seu protegido percebeu a terrível verdade.

— Meu Deus! O que fizeste, Juan!?

— Estamos apaixonados, nos amamos, nunca amei ninguém assim em minha vida – respondeu transbordando felicidade.

— Se Mahmud descobrir...

— Está consumado, se for necessário eu me converto ao islamismo!

— Meu filho, não diga isso! Meu Deus, o que vocês fizeram? – murmurou desanimado.

Como ele podia contar ao jovem apaixonado os planos de Mahmud?

O novo Sheik estava satisfeito, o rei Afonso enviara tropas e colonos para a fronteira de seu reino, fazendo com que o Emir enviasse reforços para aquela região, por isso confiava nele, ao contrário do bispo Ariulfo, que caíra em desgraça uma vez que o rei Luís não cumprira com sua promessa de enviar tropas para combater o Emir.

Em razão da situação volátil do Emirado o Emir acabara firmando um acordo de paz com Mahmud e Suleymán Ibn Martín.

A paz era precária porque ambas as partes precisavam de tempo para reforçar suas posições e tropas.

Mahmud confidenciara que daria Jamila em casamento para o Suleymán Ibn Martín, como seu pai cogitara antes da rebelião. Esse era o preço exigido pelo muladi.

O árabe era extremamente teimoso e claramente anticristão, no momento, era conveniente manter um acordo com o reino das Astúrias, mas isso não queria dizer que ele aceitaria Juan, mesmo que o jovem se convertesse. Entretanto, o ato estava consumado, nenhum muçulmano aceitaria uma mulher que não fosse pura, Jamila estava condenada à expulsão do clã, sua única esperança era que o irmão se resignasse e aceitasse Juan.

Se isso não acontecesse, ainda havia a esperança de que Mahmud apenas a expulsasse ao invés de matá-la, como era seu direito de líder do clã. Nesse caso obviamente ela teria que se converter e então ele os casaria. Dom Iglesias não ficaria feliz, mas ele nunca gostara muito do filho. Juan era jovem e forte, poderia conseguir sustentar a si e sua esposa em qualquer outro lugar longe de Luco de Ástures.

Deus Todo Poderoso, dai-me inteligência para saber o que fazer, rezou em silêncio.

— Muito bem, meu filho, como você se confessou eu o absolverei do pecado, desde que não volte a fornicar – disse imaginando se estaria agindo certo — Depois vocês devem se apresentar a Mahmud e contar que não resistiram à tentação da carne. Sem a virtude dela ele acabará aceitando que você a tome como esposa.

— Assim espero – respondeu Juan animado.

— Depois disso vamos partir para casa, lá ela poderá se converter ao cristianismo e eu os casarei – concluiu com um suspiro.

— Está bem, padre – respondeu feliz — Parto hoje mesmo para buscá-la.

A GUERREIRA INDOMÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora