Capítulo 80

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Išbīliya — Outono, Outubro de 836 d.C.

Brunilde voltou para o acampamento sem nenhum incidente, fora fácil sair da cidade, uma vez que todos com quem cruzava não desconfiavam de que ela era uma espiã.

Ao chegar, procurou Jamila para contar que Ibrahim ainda estava vivo, a berbere primeiro a encarou espantada, enquanto ela narrava o encontro, depois a abraçou e chorou lágrimas de felicidade.

Nos dias seguintes, os dois lados entraram em choque várias vezes, com resultados variados, mas graças às informações de Brunilde os muçulmanos estavam preparados e sabiam o que enfrentavam. Os vikings avançaram com sua barreira de escudos tentando as defesas do acampamento muçulmano, mas foram contidos na paliçada construída.

Por duas vezes as tropas comandadas pelo Hájib Isa ibn Shuhayd, que preferia se manter dentro do acampamento, delegando o comando para Jamal, Rodrigo e o muladi Musa ibn Musa al-Qasi, atacaram a cidade e, embora a cavalaria liderada por Jamila e Juan conseguira ultrapassar a paliçada, viram-se obrigados a recuar lutando encarniçadamente, quando perceberam que a infantaria não conseguira passar pelos nórdicos.

Os jovens combateram juntos, da mesma forma que haviam feito anos antes, quando da primeira rebelião do pai dela. Costumavam se sentar juntos em volta da fogueira durante a ceia noturna, conversando sobre as lembranças do passado e as esperanças do futuro.

Após o último combate, que tivera um resultado inconclusivo, os vikings deixaram a cidade e se dirigiram para um local chamado Talyata58, cerca de nove quilômetros de Išbīliya, onde montaram um acampamento usando as velhas ruínas de uma cidade romana.

Brunilde correu para a cidade na companhia de Jamila, Juan e Yusuf, se dirigindo até o palácio onde encontrara Ibrahim, havia corpos de alguns muçulmanos mortos, mas ela não o encontrou, nem mesmo em seu quarto o qual estava abandonado.

— Por Thor! – murmurou com raiva — Se ele estiver morto juro que matarei Haestin e Bjorn!

— Nós o encontraremos – consolou-a Jamila.

— Bjorn o vem mantendo como prisioneiro – rosnou Brunilde chutando a arca de madeira vazia dento do quarto.

O exército muçulmano se alojou na cidade, enviando a cavalaria comandada por Dom Rodrigo para vigar a movimentação dos nórdicos que haviam construído uma paliçada de madeira em volta do acampamento, protegendo assim suas embarcações que saíram do pântano e aportaram nas margens do rio que banhava a antiga cidade romana.

No conselho de guerra, ocorrido no antigo palácio do governador, que fora usado por Bjorn e Haestin, os comandantes se reuniram em um grande salão. O local estava iluminado por archotes pendurados nas paredes, as quais possuíam sinais de incêndio e depredação.

Não havia móveis em boas condições no local por isso se sentaram no chão, repleto de cacos de ânforas, pratos e inúmeros objetos de barro, estendendo um grande mapa da região, desenhado em uma pele de boi curtida.

— Não temos como avançar pelo rio – apontou Isa ibn Shuhayd.

— Teremos que fazer um ataque frontal contra as paliçadas – constatou o Musa ibn Musa al-Qasi.

— Se conseguíssemos incendiar as embarcações é capaz que eles fujam para protegerem os barcos, para nós, a embarcação é nosso bem mais precioso – explicou Brunilde.

— Se soubéssemos a fórmula poderíamos produzir "fogo grego59" e usar catapultas na margem contrária para lançá-los contra as embarcações – sugeriu Dom Rodrigo.

— A fórmula é um segredo bem guardado – afirmou Yusuf.

— Por um acaso eu tenho alguns vasilhames de barro com essa substância, foi um presente que o Emir recebeu por meio de uma embaixada, posso mandar trazê-los de Córdova – avisou Isa ibn Shuhayd.

— Então é melhor ordenar que seja enviado o mais rapidamente possível, se os vikings resolverem subir o rio par atacar Córdova não conseguiremos detê-los nem chegar a tempo de auxiliar na defesa – constatou Jamila.

Em três dias o carregamento chegou a Išbīliya, tempo suficiente para que algumas catapultas fossem construídas e tempo suficiente para que Haestin e Bjorn reforçassem o acampamento nórdico.

Finalmente ficou decidido que atacariam ao alvorecer, as catapultas foram posicionadas na margem contrária do rio, enquanto as tropas comandas por Jamal, Dom Rodrigo e o muládi Musa ibn Musa al-Qasi avançaram por terra após atravessarem o rio em um ponto onde era possível vadeá-lo, alguns quilômetros ao norte.

A GUERREIRA INDOMÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora