Capítulo XXX

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Al-Andalus — Verão, Setembro de 835 d.C.

Brunilde se forçou a dar mais um passo, estava exausta, fazia meses que haviam saído da Frísia. Caminhavam do nascer ao por do sol, abrigando– se durante as noites em fazendas ou pequenas vilas. Viviam da caça ou do que conseguiam comprar com o pouco que conseguiam cortando lenha e, eventualmente saqueavam alguma fazenda ou granja.

Por várias vezes tiveram que fugir de homens dos nobres das terras por onde passavam, tiveram que combater em algumas vezes e enterraram vários companheiros e escudeiras pelo caminho.

Atravessaram as montanhas entre os reinos Franco e das Astúrias, para então tomarem sentido sul para adentrarem em Al-Andalus. Passaram frio, fome e sede, um dos guerreiros morrera de uma febre misteriosa e ela temera que todos seguissem seu exemplo, mas os deuses foram benevolentes.

Agora, mais de três meses depois, sobraram apenas ela, cinco escudeiras e três guerreiros árabes caminhando com passos trôpegos. Suas forças estavam quase no fim, mas Brunilde mantinha– se determinada a encontrar Jamila.

O dia estava infernalmente quente, os mantimentos haviam se esgotado no dia anterior e agora procuravam o sinal de alguma fazenda ou aldeia.

De repente avistaram no horizonte uma coluna de cavaleiros. Não precisou ordenar para que todos se juntassem, escudos à frente, armas nas mãos. Aprendera durante a viagem que não se devia confiar em ninguém, principalmente se fossem cavaleiros e em maior número, por isso procuravam evitar passar por estradas ou regiões onde houvessem cidades grandes.

A coluna que seguia direção leste mudou de rumo vindo à direção deles.

— Preparem– se! — gritou com voz rouca segurando com força o cabo do machado.

Se tivesse que morrer morreria lutando, pensou, seu único arrependimento seria não matar antes Haestin. Relembrar a perda de Ibrahim fez seu coração voltar a sangrar, era uma ferida que nunca cicatrizaria, mas ao menos tinha a esperança de encontrá-lo no palácio de Odin, no Valhala, ele não fora um grande guerreiro, mas morrera nobremente se sacrificando para que ela e seus companheiros pudessem viver.

Os cavaleiros se aproximaram e galoparam à volta dela e de seus pobres companheiros até se deterem em um círculo para evitar fuga.

Dessa vez não teriam como fugir, não havia bosques ou ravinas, apenas uma grande planície, ideal para a cavalaria.

Um dos guerreiros árabes gritou em sua língua, avisando os cavaleiros que desejavam apenas seguir viagem em paz até a cidade de Trujillo.

Um dos cavaleiros, que parecia ser o líder e montava em um belo garanhão branco se aproximou. Como todos os demais usava botas, calças e uma túnica até a altura dos joelhos, uma cota de malha cobria seu tronco e na cabeça um elmo pontudo com um turbante enrolado em volta que descia pelo pescoço cobrindo metade do rosto. Apenas os olhos eram visíveis e quando Brunilde os encarou ficou surpresa e feliz ao mesmo tempo.

O cavaleiro abaixou o turbante até o pescoço, deixando a mostra o nariz e os lábios.

— Por Thor! — exclamou Brunilde deixando as lágrimas de alívio escaparem de seus olhos enquanto caía de joelhos exausta.

O cavaleiro desmontou e se ajoelhou ao lado dela.

— Minha querida amiga! Por Alá! Pensei que nunca mais a veria — disse abraçando a nórdica enquanto lágrimas escorriam de seus belos olhos verdes.

Finalmente Brunilde reencontrara sua Jarl, agora teria que criar coragem para lhe contar sobre a morte honrada do irmão. 

A GUERREIRA INDOMÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora