Capítulo 25

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Mérida – Verão, Agosto de 833 d.C.

Yusuf se aproximou de Brunilde com o coração disparado de emoção. Durante a viagem até Mérida ele a observara atentamente, a jovem tinha os traços da mãe, a cor dos olhos, o trejeito, apenas o cabelo e uma aparente calma pareciam ter sido herdados dele, mas ele não conseguira coragem de contar que era seu pai. Será que a jovem entenderia que não fora por opção sua que a abandonara para trás?

Jamila a tomara e a suas companheiras sob seus cuidados como guarda-costas, alojando-as na mesma ala de seu quarto no palácio. As guerreiras logos se integraram à tropa de cavalaria de sua protegida, treinando com os demais guerreiros.

Yusuf, orgulhoso, observou-a treinar com suas companheiras, elas chocavam os escudos entre si e simulavam golpes com espadas e as mortíferas machadinhas. A hora do almoço se aproximava e ela encerrara o treino para que todas pudessem se refrescar antes de se alimentarem.

— Brunilde, poderia me dar um minuto e sua atenção? – perguntou em escandinavo.

— Sim – respondeu após dispensar as demais guerreiras.

Deixou o escudo encostado na parede e após retirar a couraça de couro molhou os cabelos na fonte de água, em seguida encarou-o com olhar penetrante.

— Você fala bem minha língua – disse por fim, após um minuto de silêncio.

— Eu vivi entre os nórdicos por um tempo – disse criando coragem.

Brunilde ergueu uma das sobrancelhas demonstrando curiosidade.

— Eu sou seu pai – afirmou sentindo uma emoção que ameaçava levar lágrimas a seus olhos.

— Meu pai morreu – rosnou a jovem em resposta.

— Sua mãe se chamava Ingrid, sua tia se chama Varda, elas viviam na aldeia de Nordwein – afirmou — sou Yusuf, vivi entre os vikings, vindo das terras dos Khazires.

— Pai? – perguntou aparentemente emocionada, mas logo recobrou a frieza — Você nos abandonou!

— Não! Eu participei de uma excursão com Ragnar na Britânia, fui capturado e transformado em escravo sendo enviado para uma galera, dois anos depois fui salvo pelo pai de Jamila.

— E por que não voltou?

— Eu tinha uma dívida de honra com o homem que me libertou da escravidão, ele é um grande Jarl – respondeu com voz triste — depois, quando a dívida parecia paga, muitos anos haviam se passado.

— Eu entendo...

— Me perdoe, filha... – pediu emocionado estendendo os braços para a jovem.

— Não sei se posso, preciso de tempo para pensar – respondeu e se afastou deixando Yusuf sozinho e imensamente triste.

Ele deixara sua filha com a tia materna e partira com Ragnar, isso não queria dizer que a culpava pela morte da mãe ou que não a amasse, pelo contrário, a amara incondicionalmente desde que Ingrid lhe dissera estar grávida.

Fizera incontáveis planos, mas Alá achara por bem levar sua esposa, deixando-o sozinho com uma criança recém-nascida.

Nunca tivera experiência com crianças e se assustara com tamanha responsabilidade. Poderia ter ficado na aldeia, havia muitas mulheres interessadas nele, mas a dor que sentia pela perda da mulher o fizera se juntar a expedição de Ragnar, imaginara que voltaria em breve para Brunilde, mas os caminhos de Alá eram insondáveis e ele acabara vindo parar na casa do Sheik.

Afeiçoara-se a Jamila e a educara e amara como quisera fazer com sua filha.

Agora o destino novamente o surpreendera, sua filha que considerava perdida para sempre fora colocada em seu caminho.

A pequena criança da qual se despedira se transformara em uma grande guerreira.

Cabia a ele conquistar seu respeito e afeto.

A GUERREIRA INDOMÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora