É AMANHÃ, O LANÇAMENTO DO VOLUME 2
Aldeia de Batalyaws — Às margens do rio Guadiana- Verão, Julho de 833 d.C.
Yusuf acompanhava a tropa comandada por Jamila e Mahmud, embora preferisse ter ficado em Mérida tentando convencer Abd al-Ŷabbãr a não se rebelar.
Embora simpatizasse com o padre Paulus, nunca gostara do bispo Ariulfo, um homem que pregava a virtude e pobreza para os cristãos, mas na vida particular era ganancioso e mantinha várias escravas para satisfazer sua luxúria.
Mas decidira acompanhar Jamila, a pedido do Sheik e também por vontade própria, pois conhecia o temperamento voluntarioso da jovem. Juan também a seguira, e isso não foi surpresa para ninguém, ambos haviam se tornado amigos e eram vistos constantemente juntos conversando nos jardins do palácio ou treinando juntos. O rapaz costumava almoçar e cear com a família e sua inteligência e bons modos conquistaram todos, com exceção de Jamal, que não escondia sua insatisfação com a presença dele.
Yusuf suspeitava que o jovem estava apaixonado, não se preocuparia com isso, não seria o primeiro a cair de amores por Jamila, se não fosse a desconfiança de que o sentimento era recíproco, algo extremamente preocupante levando-se em conta que o Sheik jamais permitiria a união de sua única filha com um cristão do Reino das Astúrias, hoje considerado um aliado, mas sempre olhado com desconfiança.
O mais misterioso era que a jovem jurara que somente se entregaria ao homem que a vencesse em combate, mas durante os treinamentos, por mais que Juan se esforçasse, ela sempre o derrotava.
Decidira vigiar ambos, para a própria segurança deles, se Mahmud ou o Sheik sequer desconfiassem de do que estava acontecendo o jovem seria morto imediatamente. Abd al-Ŷabbãr achava graça da independência de sua filha e de certa forma até a incentivava a ser uma guerreira, uma tradição antiga berbere, mas concordar que ela amasse e se casasse com um cristão? Alguém fora dos clãs berberes? Isso estava fora de cogitação, ele somente não a obrigara a casar por não ter encontrado um pretendente à altura, quando isso acontecesse, independente do juramento da jovem, ele a obrigaria a contrair matrimônio, era um direito seu como pai e líder do clã, acima até mesmo de um juramento, o qual poderia ser anulado por um mulá.
Durante o avanço para o sul ele interrogara as pessoas que fugiram do ataque bárbaro rio acima. Pela descrição dos guerreiros e guerreiras, bem como dos barcos com animais esculpidos na proa, desconfiou que fossem vikings, mas eles nunca vieram tão ao sul.
Agora avançava em direção à aldeia de Batalyaws, onde os barcos bárbaros haviam aportado algumas horas antes, segundo os informes dos batedores.
A cavalaria liderada por Jamila surpreendera um grupo de bárbaros saqueando fora dos muros e os cercaram. Mahmud enviara parte de sua infantaria para recuperar a cidade enquanto a outra atacava os bárbaros que formaram uma barreira de escudos.
A luta fora brutal, mas a superioridade numérica árabe acabou prevalecendo. Os poucos remanescentes se juntaram atrás de seus escudos, já crivados de flechas, mas sem sinal de que iriam se render.
Mahmud, Jamila, o jovem asturiano e Yusuf avançaram alguns metros, enquanto as tropas aguardavam a ordem para liquidar os bárbaros.
— Eu nunca vi guerreiras tão corajosas – afirmou Jamila controlando com facilidade seu garanhão branco, que parecia excitado querendo participar da batalha.
— Elas são escudeiras vikings – explicou para sua protegida.
— Não são do povo com quem você conviveu? – perguntou Jamila encarando-o.
— Sim, são da Escandinávia, mas nunca vieram tão longe antes – respondeu ainda intrigado.
— Vamos liquidá-los e depois crucificá-los nas tamareiras como um aviso de que o Sheik protege seu povo – sugeriu Mahmud com um sorriso feroz.
— Não! Ofereça numa rendição honrada para todos eles – decidiu Jamila — Se eles se juntarem a nós podem ser úteis caso nosso pai resolva se rebelar.
— Não seja tola, irmã – rosnou Mahmud.
— O profeta diz que devemos ser misericordiosos, elas lutaram com honra, merecem a chance de viver – retorquiu Jamila encarando o irmão com ferocidade.
— Está escrito no alcorão – apartou Yusuf — "E porque, por amor a Ele, alimentam o necessitado, o órfão e o cativo. Certamente vos alimentamos por amor à Allah; não vos exigimos recompensa, nem gratidão".
— Seja como quiser, irmã – decidiu Mahmud, após um minuto meditando.
Yusuf se aproximou dos vikings e ofereceu a rendição, uma escudeira jovem avançou da fila, desafiando Jamila para um combate singular, se vencesse partiriam em paz.
Sua protegida prontamente aceitou, mesmo Juan e ele tentando convencê-la do contrário.
Jamila desceu e sacou sua cimitarra, a escudeira gritou:
— Eu sou Brunilde! Filha de Ingrid e Yusuf! Uma skjaldmö, e sua vida ofereço a Thor!
Yusuf ficou surpreso. Seria possível que Alá colocara sua filha em seu caminho quando ele perdera todas as esperanças de revê-la há anos?
— Jamila! – gritou desesperado enquanto a jovem berbere avançava — Não a mate, Brunilde é minha filha!
VOCÊ ESTÁ LENDO
A GUERREIRA INDOMÁVEL
Romance"O que acontece quando uma jovem guerreira se vê entre o amor e sua convicção?" Século IX d.C., a península ibérica dominada pelos árabes se vê envolta em fortes tensões sociais. Uma embaixada enviada pelo último rei cristão à Mérida tem o objetivo...