"O que acontece quando uma jovem guerreira se vê entre o amor e sua convicção?"
Século IX d.C., a península ibérica dominada pelos árabes se vê envolta em fortes tensões sociais. Uma embaixada enviada pelo último rei cristão à Mérida tem o objetivo...
E quem está acompanhando meu novo livro.com a Geane Diniz?
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Mérida- Verão, Agosto de 833 d.C.
Jamila se despiu e entrou em uma banheira com água quente que as servas haviam preparado em seu quarto. Enquanto passava lentamente uma esponja macia pelo corpo, pensou em como a vida era bela. Possuía uma liberdade que pouquíssimas mulheres de seu tempo e de sua religião podiam usufruir, se tornara, por vontade própria, em uma guerreira, escapara de um casamento imposto e tinha feito novas amizades.
Conquistara a lealdade e amizade das guerreiras nórdicas, em especial a líder delas, que parecia não ter ressentimentos pelo fato de ter sido derrotada. Ela a alojara em um quarto ao lado do seu e geralmente, antes de se recolherem para dormir, passavam algumas horas conversando. Brunilde a ajudava a melhorar seu escandinavo e ela lhe ensinava o moçárabe.
Durante o dia treinavam juntas, Jamila tinha que admitir, a escudeira era muito boa e nessa tarde quase a vencera pela primeira vez, constatou passando a esponja por um hematoma que se formara na costela.
Estavam no pátio interno, Brunilde a convidara para uma luta e ela aceitara imediatamente.
Todos seus guerreiros e as escudeiras fizeram um círculo em volta delas, inclusive Juan que não passava um dia sem aparecer no palácio. O jovem conquistara Abd al- Ŷabbãr com sua simpatia e lealdade, sendo presença constante nos almoços e jantares, ele chegara inclusive a cantar para seu pai em algumas ocasiões.
Tanto ela como Brunilde usavam cotas de malha protegendo o tronco, elmos nas cabeças e portavam espadas sem corte, além de escudos.
— Por Thor! Sinto que hoje a vencerei! – a nórdica gritara animada apontando sua espada para ela.
— Você pode tentar – respondera ao desafio com um sorriso.
Percebera pelo canto dos olhos que as escudeiras apostavam entre si sobre quem venceria, enquanto Juan a observava atentamente, como se quisesse estudar seus movimentos.
O primeiro golpe fora de Brunilde que avançara com a espada em riste, mas ao invés de desferir um golpe se chocou contra seu escudo, empurrando-a vários passos para trás. A nórdica era um palmo mais alta e mais forte, mas Jamila era mais ágil e antes que a escudeira aproveitasse a vantagem já estava na defensiva em razão do golpe cruzado que desferira.
Circularam uma em volta da outra se estudando, Brunilde fizera uma finta e atacara novamente, Jamila se defendera com o escudo e contra-atacara visando seu elmo, mas a nórdica se abaixara com agilidade.
Trocaram uma sequência de golpes, a escudeira aproveitava sua vantagem física e usando o escudo a fez recuar, conseguindo com uma sequência rápida desarmar Jamila de seu escudo. Em seguida a acertara com força na costela que, se não estivesse protegida pela cota de malha, teria sido fraturada.
Jamila atacara com um golpe circular, mas Brunilde agarrara seu antebraço colando seu corpo ao dela e, com um movimento de torção a fizera cair ao solo. Um golpe que, com certeza, teria aprendido com Yusuf constatara.
Mas ela treinava com o pai da nórdica desde a infância e, ao cair ao solo, usara as pernas em uma pinça pressionando a dobra dos joelhos de Brunilde que tombara ao chão, onde imediatamente fora imobilizada por uma chave de braço, mas a nórdica usara sua força para escapar rolando para o lado.
Ao se levantar com a espada na mão, Jamila também recuperara a sua. Ambas se imobilizaram, as lâminas apontadas para o pescoço uma da outra.
Todos aplaudiram quando Jamila abaixara a arma dando por encerrada a luta.
— A vitória foi sua – dissera a nórdica com um sorriso.
— Não, minha amiga, foi um empate – respondera abraçando-a.
Refrescaram-se na fonte que havia no pátio enquanto os demais voltavam ao treino. A viking apontou para Juan que lutava com um guerreiro árabe. Ele possuía movimentos fluídos e rápidos, e em três golpes vencera seu adversário, chamando em seguida uma escudeira.
— Ele é um ótimo guerreiro – dissera Brunilde — Não gostaria de enfrentá-lo em uma batalha.
— Sim, ele é – respondera corando.
— Ele obviamente idolatra você – dissera piscando um olho — e você está apaixonada por ele.
— Não sei o que você quer dizer – respondera corando ainda mais, como se fosse algo possível.
— Está no rosto de vocês, não sei como ainda ninguém percebeu, não entendo porque você não o toma – dissera dando de ombros ignorando seu débil protesto — Eu fiz isso com seu irmão ontem à noite.
Jamila encarara-a surpresa.
— Não me enganei, ele se mostrou um ótimo amante, bem vigoroso – explicara com um gesto da mão e um sorriso malicioso.
— Por Alá! Poupe-me dos detalhes! – exclamara constrangida, mas feliz pelo irmão.
Ibrahim era um rapaz sensível, avesso ao uso de armas, amante da literatura e poesias, saber que uma mulher lhe fizera feliz a deixava muito alegre. Tinha mais afinidade com ele, apesar dos gostos diferentes, do que com Mahmud, que adorava uma luta.
— Então, porque você não o toma de uma vez? – voltara a atacar Brunilde.
— Aqui os costumes são diferentes, e jurei em nome de Alá que somente me entregaria para o homem que me vencesse em combate – respondera com um suspiro.
— Vocês são um povo muito estranho – gargalhara Brunilde e se afastara para instruir suas escudeiras.
Jamila observara Juan que acabara de vencer a escudeira, seus cabelos estavam presos em um pequeno rabo de cavalo, e com um sorriso simpático estendera a mão para a nórdica que lhe falara algo que o fez corar e rir.
Ela sentira-se furiosa, sem saber bem o motivo, ele parecera perceber que era observado e a encarou, um sorriso dançava em seus lábios e olhos e galantemente lhe fez uma mesura.
Constrangida meneara a cabeça discretamente, tentando mais uma vez não corar.
Agora, enquanto se banhava, imaginou como seria o toque das mãos e lábios dele por onde ela passava a esponja e sentiu um estremecimento e um fogo que pareceu emanar do centro de seu corpo.
Por isso mergulhou dentro da banheira para tentar apagar as chamas que a consumia.