Pedra Empilhada era um amontoado de retângulos de rocha escura, espalhados em desordem dentro dos limites de um muro quadrangular, desalinhado e com metade do tamanho inicial. Um antigo posto de guarda dos elfãs, estava abandonado há pelo menos cem anos, e agora não passava de uma verruga negra entre o verde constante do campo ao redor. Havia sido o local escolhido para que pudessem pernoitar. Felipe queixava-se de fome quando se sentaram entre duas paredes milagrosamente de pé, enquanto Calebo compartilhava de sua situação, apesar de se manter em silêncio.
Segundo Hakuja, estavam muito mais perto agora, oito quilômetros ou menos. Felipe se sentiu aliviado ao ouvir aquilo. Os músculos de suas coxas pareciam ser feitos de ferro maciço, enquanto tinha a sensação de que as panturrilhas queimavam. A caminhada não havia cessado com o início da noite, estendendo-se enquanto as horas passavam. Os grilos pareciam produzir o único som em todo o mundo, cricrilando em centenas de lugares diferentes. Exceto pelo movimento das estrelas acima de suas cabeças, poderia dizer-se que o tempo havia parado. Tudo era escuridão, lusco-fusco e calmaria. E o som dos grilos.
Não fizeram uma fogueira. Quando enfim pararam, o ogro se deitou no chão em posição fetal e adormeceu em poucos minutos, enquanto Felipe permanecia acordado, observando os movimentos de Hakuja, até que o lagarto também adormeceu. A sonolência finalmente dominava seu corpo ativo, porém cansado. Caiu em um sono conturbado.
De seu ponto de vista, mal havia fechado os olhos quando duas mãos agarraram seus ombros e o puxaram para um local onde a escuridão era ainda mais cerrada. Pego de surpresa, tudo o que conseguiu fazer se resumiu a chutes no ar e débeis tentativas de acertar alguns golpes. A voz soou tensa e urgente em seu ouvido:
— Tem mais alguém aqui, fique quieto!
O tom de voz do garoto gerou resultados, detendo qualquer movimento do ogro. Seus olhos imediatamente varreram toda a área ao redor, mal distinguindo qualquer objeto a mais de vinte passos de distância.
— Onde? - Sussurrou, enquanto se desvencilhava das mãos em seus ombros.
— Não faço ideia, Hakuja me acordou e disse que há alguém rondando por perto. Descobriu quem é? - Perguntou ao lagarto.
— Pude perceber a aproximação, mas ainda está fora de vista. Fiquem preparados, um alarme soou em minha mente, e sei que posso confiar inteiramente nessas sensações.
Seguindo a recomendação de Hakuja, Felipe entregou a espada de Calebo. Havia guardado a arma desde que havia se tornado incômoda demais durante a caminhada. Se esforçando ao máximo para que nenhuma luz pudesse ser vista, ativou o holograma do anel, escolhendo a primeira espada que encontrou. Lançou um olhar na direção do ogro, que assentiu, mesmo que o movimento quase não pudesse ser visto. Alguns instantes depois, puderam ouvir o som de passos cuidadosos entre as pedras, aveludados e precisos, apesar da falta de luz. Estava a quinze passos de distância quando sua silhueta pôde ser vislumbrada em um recorte impreciso contra a paisagem atrás de si. Estava envolta em um negrume espesso, como se vestisse o preto mais escuro que pudesse existir. Um grande capuz cobria sua cabeça.
Apesar de a silhueta agora estar imóvel, o som de passos não cessou, e uma segunda pessoa surgiu, parando ao lado da primeira, que estendia as mãos como se procurasse por algum obstáculo na escuridão.
— Suas presenças estão frescas, posso sentir como se estivessem deitados aqui. - O homem sussurrou.
— Aparentemente já foram embora. Talvez tenha nos visto, ou apenas decidiram que era hora de continuar. - A mulher respondeu.
— Não foram longe, teríamos ouvido seus passos pelas pedras como se uma manada debandasse. Estão aqui, escondidos...
A mulher aquiesceu, embora relutante. Se esgueirou na direção do esqueleto do antigo posto. O homem se sentou sobre as pedras do que um dia havia sido uma alta parede, e ficou imóvel, atento aos sons mais fracos. Três minutos depois, levantou-se e estendeu as mãos mais uma vez. Sua expressão era mutável e se alterava à medida que confabulava consigo mesmo, e seus passos o levavam cada vez mais perto do negro esconderijo. Os restos de paredes bloqueavam a luz da lua, próxima ao horizonte oeste, mas não os tornava invisíveis. Felipe praguejou em pensamento quando percebeu a aproximação. Puxando Calebo, se afastou silenciosamente até que o ponto onde um muro se unia à parede , sem permitir qualquer fuga.
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Nas Ruínas Antigas
FantasiaAté onde suas escolhas te levam? A contagem regressiva para o fim da existência já começou. Nos últimos movimentos do ponteiro, Felipe, um adolescente aparentemente comum, é transportado para um planeta em outro universo. Nesse mundo de múltiplas fa...