Mesmo com todo o desconforto, minha mente vagava, distante e imersa em pensamentos que se atropelavam.
Kapo falava quase sem qualquer pausa, mas eu não ouvia. Meus olhos estavam fixos na lua negra que se erguia vagarosamente acima do horizonte sudeste, em um espetáculo de escuridão contrastando com luz que eu nunca antes vi.
Estou em outro universo. Quantos poderiam já ter feito essa viagem? Centenas ou milhares? O Escolhido, predestinado. Então eu não tenho liberdade? O Ermitão disse que havia escolha, mas não há. Inacreditável, tanto poder segundo eles, mas me sinto a criatura mais limitada do mundo.
Uma águia se fez ouvir, milhares de metros acima de mim.
O que isso realmente significa? O que está lá em cima que pode oferecer tanto perigo..? Acho que significa que minha vida normal acabou, isso é mais do que certo. E então, universo? O que você está guardando para mim? Um passo em falso e tudo simplesmente vai ser destruído, é isso? Dominado por alguma entidade cósmica?
Kapo falava animadamente com um soldado carrancudo, discorrendo sobre águias.
O que eu realmente sou, era tudo o que eu gostaria de saber. Merda, eu estou perdido, perdido... lançado para cá e para lá no vai e vem das ondas de um mar que eu desconheço.
— Você não fala muito, não é? - Nina perguntou, colocando seu cavalo ao lado daquele em que eu me encontrava avidamente agarrado ao soldado.
— Gentilezas me deixam sem palavras, como essa de me prender.
Nina mostrou outro de seus sorrisos brancos. Aquilo era desarmante.
— Conhece nossos motivos. Está sendo bem tratado, não pode nos julgar mal-educados.
— Sim. Acho que eu já posso saber o motivo pelo qual o rei de uma nação que tem uma rixa antiga com o Ermitão quer que eu vá até sua presença. Me parece... estranho, para dizer o mínimo, o modo como esse rei...
— Leopoldo.
— Como esse rei Leopoldo age.
— Eu tenho as minhas ordens, e elas dizem respeito sobre te levar até ele, pode perguntar isso ao rei em pessoa.
— Vocês parecem gostar de não conceder respostas. Que seja, eu descubro por conta própria.
Alguns minutos de silêncio, exceto por kapo que às vezes contava uma piada ou outra.
— De onde você vem? As histórias deste lado do mundo falam de você desde a queda de Riína Taringa, o colapso de uma era de esplendor se seguiu às profecias sobre aquele que era o escolhido. O Escolhido, foi como os extremamente criativos o chamaram. Sinceramente, nunca acreditei nisso. Tudo não passava de uma história qualquer inventada para alimentar esperanças, afinal, as pessoas precisam de esperança, não é mesmo?
— As pessoas precisam de alguém que resolva seus problemas, isso sim.
— Todos nós precisamos disso às vezes, não acha?
O som dos passos dos cavalos pôde ser ouvido enquanto eu me calava e refletia sobre aquilo.
— Talvez.
A paisagem inicialmente era um campo verdejante com poucas árvores, e assim durou por um tempo, até que avistei uma grande fazenda.
Parecia ser muito luxuosa, construída de madeira de ótimo aspecto, pintada de amarelo bem claro. As telhas eram vermelhas, muito bonitas. Na verdade, toda a imponente fazenda era belíssima.
Uma trilha feita de pedras cinzas seguia desde a estrada de terra, por onde cavalgamos. Uma mureta foi erguida de ambos os lados, construídas da mesma pedra que foi assentada para se fazer a trilha.
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Nas Ruínas Antigas
FantasiaAté onde suas escolhas te levam? A contagem regressiva para o fim da existência já começou. Nos últimos movimentos do ponteiro, Felipe, um adolescente aparentemente comum, é transportado para um planeta em outro universo. Nesse mundo de múltiplas fa...