Cap.33 Decadências

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Um rei desolado. Um rei sem reino e sem povo. Um rei que não era mais rei, simplesmente um fraco.

Era isso que Venatrix pensava, enquanto estavam presos na sala fortificada. O castelo havia sido projetado com mais de uma sala fortificada, mas aquela, construída por um rei paranóico mais de cem anos atrás, era praticamente impossível de ser acessada caso a porta estivesse trancada. Leopoldo e Venatrix estavam ali há muitas horas, desde o início do ataque. Já poderiam ter saído daquele lugar pequeno e abafado, mas tiveram a má sorte de ter o caminho bloqueado por várias e várias paredes que caíram, como se todo o castelo houvesse desmoronado.

De Alicia, não tinha notícia. Talvez estivesse em outra sala fortificada, talvez já estivesse lá fora, talvez estivesse... morta. A filha era digna de preocupação, não aquele monte de carne empilhada ao seu lado. 

Dois metros e meio por dois metros e meio. Uma sala claustrofóbica, e agora insuportável, impregnada pelo fedor do suor de Leopoldo. O rei fitava a única fonte de luz da sala, uma pequena pedra, como se ali residisse a única fonte de esperança em todo o mundo. Em alguns momentos resmungava palavras de conforto com a voz rouca por conta da sede, mas logo mergulhava mais uma vez em um silêncio desprovido de propósito.

Manter a calma, Venatrix repetiu para si pela milésima vez.

Começando por resmungar, Leopoldo logo estava chorando novamente. Chorava por tudo que ocorrera, pelas perdas sofridas, chorava pelo ferimento em sua testa, tanto pela dor, quanto pela gravidade do ferimento. Em certo momento, parte do teto havia se soltado, atingindo sua testa.

Com olhos que não se atentavam ao redor e pouca luz disponível, Leopoldo não se deu conta do enorme pedaço de mármore que caía em sua direção. Caiu no chão com o som de uma avalanche, exagerado até mesmo na forma de exprimir seu sobrepeso. Nunca antes a rainha havia testemunhado tamanho exagero por parte de alguém cujo peso era acima da média.

— Faça silêncio agora. - A voz da rainha soou mais ríspida do que gostaria. Permanecer enjaulada por horas seguidas era desgastante até mesmo para a mais equilibrada da corte.

Leopoldo ficou subitamente quieto, como um cão repreendido por seu tutor. Erguendo uma sobrancelha, Venatrix se perguntou como aquele homem havia permanecido no trono por tanto tempo. Ah, é claro. As infindáveis concessões referentes a todo e qualquer assunto que favorecesse esse ou aquele nobre haviam sido de grande valia. Respirou fundo e procurou modelar melhor a voz.

— Me desculpe por gritar, toda essa situação terrível me assusta e abala. Deixe-me ver este ferimento.

— Claro, tudo bem. Eu também estou assustado, não há necessidade de se preocupar.

Após uma rápida análise, Venatrix se certificou de que o sangue já estava seco. Reprimindo seus instintos de se afastar da silhueta molhada de suor, a rainha abraçou Leopoldo o melhor que pôde. Agora, restava apenas esperar.

E ela esperou, esperou muito. Era provável que o dia já estivesse próximo ao alvorecer quando ouviu os primeiros gritos dos soldados. Quando Leopoldo fez menção de gritar como resposta, foi interrompido por Venatrix.

— Você não está em condições para ficar gritando, deite-se e se acalme. - Gentilmente, forçou o rei a se deitar, aconchegando sua pesada cabeça entre seus seios, de forma que não poderia ser contrariada.

— Está doendo muito... -Leopoldo reclama pela vigésima vez.

— Deixe-me ajudá-lo. Tenho analgésicos em algum destes bolsos falsos em meu vestido. Faço questão de tê-los sempre aqui comigo.

Nas Ruínas AntigasOnde histórias criam vida. Descubra agora