Cap.20 Uma breve conversa sobre livros

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O que aconteceu até o presente momento não é digno de nota, pois não foi nada além de ficar esperando quase duas horas em um belo salão, vendo todo o tipo de pessoas rodando por aqui e por ali. Belas estátuas de mármore, um belo piso de pedras verdes, colunas imponentes, altas e grossas, sem contar o teto em forma de abóbada, com belas imagens retratando guerras e períodos de paz, reis e nobres, plantas e animai, velórios e festas, monstros e paisagens inóspitas e inexploradas. Toda uma odisseia de um povo com uma grande história esmagada pelo fato de apoiar o lado errado. Uma história que para mim significava tão pouco, e muito ao mesmo tempo.

Agora compreendia os personagens das histórias que conseguiam ter uma impressão de todo o cenário. Meus olhos queriam absorver cada detalhe. Talvez me sentisse melhor, se não estivesse parado por quinze minutos, com frio, pingando e molhando o chão. Nina e Kapo aguardavam ao meu lado, tão felizes quanto eu. Um grupo de velhos homens gordos se apressava, envoltos em uma tempestade de tecido colorido, um verdadeiro arco- íris ambulante. Os sete homens ainda se aproximam. Um deles traz em seu ombro direito uma ave vermelha, com um longo bico, mas claramente não se tratava de um tucano. O animal grita e tenta atacar cada orelha ou olho desavisado que fica próximo demais.

— Oh! Olá para os dois! O dia está péssimo, não? - Se adianta em iniciar um diálogo o mais velho do grupo .

Nina e Kapo cumprimentam o grupo com uma formalidade irritante.

— Olá, meu jovem! - O velho se dirige exclusivamente a mim.

— Oi. - Respondo, tremendo de frio.

— Por favor, perdoe-nos por fazer com que esperassem tanto, mas os últimos dias têm sido muito corridos, sem contar o mal humor do rei Leopoldo com as constantes chuvas que atrapalharão as festividades.

Sua majestade!

— Não é necessário pedir desculpas. - Respondi.

— Pois bem, o rei está muitíssimo ocupado hoje, então apenas poderão se ver durante o jantar.

— Tudo bem. - Por algum motivo, sabia que aqueles homens eram entediantes.

Talvez fosse por sua polidez exagerada, ou seus olhares de superioridade. Talvez fosse por simplesmente ser outro planeta, com costumes diferentes, mas a sensação não passava. 

Nesse ponto, Kapo e Nina são rapidamente dispensados. Até o falatório imparável do oficial cessou. Fui levado por duas mulheres silenciosas, após os sete homens darem as boas-vindas. Andamos por minutos infindáveis. As mulheres, sem pronunciar uma palavra, seguiam pelos corredores com uma postura impecável, sem desviar os olhares para qualquer lado, com seus belos vestidos brancos, assemelhando-se a noivas.

Um dos cômodos, cuja porta feita de madeira escura estava aberta, me chamou a atenção a tal ponto que perguntei se poderiam esperar. As mulheres estacaram imediatamente, como um pelotão de soldados muito bem treinados.

Entrei, e fui acolhido por um reconfortante fogo que ardia em uma lareira de tijolos. As chamas crepitavam e iluminavam o ambiente, proporcionando uma sensação única, se unindo à calmaria do corredor, o som das gotas caindo no teto de vidro, e universos inteiros por descobrir dentro de cada livro. Uma pequena biblioteca se estendia, mais vertical do que horizontal. Havia um homem sentado em uma poltrona. Imaginei que seria o bibliotecário.

O velho dormia. Seus cabelos brancos escorriam como nuvens até seus ombros. Sentado em sua poltrona, atrás de uma bela mesa, tinha em seu colo um velho e grosso livro de capa laranja, há muito tempo desgastado.

Na lateral estava escrito:

Trenet: Uma jornada de descobrimentos.

Minha curiosidade atingiu novos picos. Um pequeno pensamento a fez subir mais ainda.

Nas Ruínas AntigasOnde histórias criam vida. Descubra agora