Cap.27 Observando pessoas

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Como foi bom sair daquele castelo e andar livremente. Andar no sentido figurado, uma princesa jamais caminharia por um caminho tão longo. E é claro que não confiariam em deixar que a princesa perambulasse por aí sem que um séquito a acompanhasse. A guarda real ainda estava em polvorosa, os cavaleiros enlouquecendo, os soldados discutindo a possibilidade de um segundo confronto enquanto jogavam algum jogo qualquer.

A única coisa boa em ter trinta pessoas nos acompanhado era a velocidade reduzida, que me permitia admirar a paisagem lá fora. Tudo ao redor do castelo parecia pertencer a um mundo sutilmente diferente. O que não me agradou foi o cenário mudar rápida e drasticamente, se tornando logo um cenário urbano medieval. Parvapo era como a vila dos ogros, um lugar que unia a tecnologia de eras distintas, conhecimentos dos mais variados.

De início, as casas eram muito grandes e luxuosas, verdadeiros palácios. Nelas moravam os nobres mais ricos que não quiseram dividir o mesmo teto com o resto da corte. Seja por conta de desavenças entre outros ricos ou nobres, ou até mesmo por não suportar o rei.

Porém, logo uma tenda obstruiu a visão. Raras no início, se tornaram muito comuns ao longo do trajeto até a avenida principal. Como tivemos de cortar caminho, passamos por uma bairro mais pobre, onde as pessoas podiam vender suas mercadorias em tendas, ao invés de pagar caro para alugar ou construir uma loja, como era regra no centro.

A periferia da cidade, com exceção da área dos mais ricos, cuja estrada dava diretamente no castelo, era dominada pela camada pobre da sociedade.

Com raros núcleos onde a classe média vivia confortavelmente, casas simples e casebres serviam de habitação para os que não tinham condições financeiras favoráveis. Lá, as tendas eram comuns, assim como vi ao chegar na cidade. Os pobres se espremiam próximos aos muros, e, próximos ao portão, fluíam para todos os lados, colocando sobre os balcões improvisados de suas tendas o seu ganha-pão. Vendiam, compravam, trocavam. Homens bêbados e sem classe regateavam valores na porta de um dos poucos bordéis da capital. 

A obstrução da avenida em certo ponto, provocada pelo ataque dos escavadores, foi motivo de xingamentos por parte de alguns guardas da escolta. Assassinatos poderiam estar sendo premeditados em qualquer uma daquelas barracas de várias cores, espalhadas em meio ao fedor de fezes e urina dos animais, eles diziam. Boa parte das damas de companhia parecia horrorizada em descobrir que sua capital abrigava um antro de más maneiras. Eu apenas podia sorrir em vista daquelas reações. Uma sociedade que não era perfeita. A vida na realeza podia ser agradável, mas nublava os olhos daqueles que lá viviam, alguns ao ponto de nublar a mente.

Em pouco tempo estávamos novamente na avenida principal, indo em direção a uma encruzilhada das não muito importantes. Por aquelas ruas não existiam regras sobre lado esquerdo ou lado direito, e logo uma velha carroça cheia de repolho teve de desviar quando dei uma ordem repentina para que o cocheiro parasse em frente àquele pequeno restaurante situado no lado direito da avenida. Era lá.

— O que viemos fazer aqui? - Pergunta Alicia.

— Almoçar. E olhar. - Respondo.

No pequeno restaurante de andar único, nenhuma decoração era exagerada, nenhuma estátua, como era a moda na capital. Apenas a cor bege da fachada, e uma placa de madeira no alto, com os seguintes dizeres:

"Restaurante. Temos todos os tipos de doces.
Vendemos gansos às sextas-feiras."

— Gansos?! É sério?! - Perguntei a mim mesmo em voz alta.

— Acho... acho que Zimo costumava frequentar esse estabelecimento.

— Imagino que sim. Ele me indicou. - Respondo.

Nas Ruínas AntigasOnde histórias criam vida. Descubra agora