Cap. 41 Escuridão

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Uma manhã ensolarada, quente e com uma brisa refrescante batendo no rosto, os pássaros cantando e a alegria contagiante. Isso era o completo oposto ao que se passava em Holag'Inyae. Felipe acordou muito cedo, uma hora e meia antes do nascer do sol. A poltrona definitivamente era inapropriada para dormir, as dores pelo corpo mostravam isso de forma clara. Levantou-se, e Hakuja teria caído se não despertasse de imediato e se agarrasse às suas roupas. Colocou o lagarto sobre o ombro e olhou pela janela. Tudo o que viu foi o branco absoluto da névoa sobre a cidade. Mal se distinguia a rua, e as luzes dos postes definhavam até desaparecer por completo, tragadas pela brancura gelada.

Se suas suposições estivessem corretas, a grande quantidade de névoa só era possível por conta do canal e das pedras. O vapor das águas quentes e estagnadas sublimava ao cair da noite, não encontrava saída pelas altas muralhas, e também não havia solo para se infiltrar. O calor das pedras e a temperatura amena da noite garantiam que o processo se estendesse por horas a fio. Dez minutos depois já sentia-se entediado. Todas as roupas estavam dobradas e dentro das bolsas que fizera questão de comprar no dia anterior, em segredo.

Sussurrou a letra de Hakuna Matata quando o tédio ficou insuportável. Nada mais restou senão esperar. E foi o que fez, esperando por uma hora até o nascer do sol, quando decidiu abrir a janela e dar bom dia ao mundo. O mundo o recepcionou com névoa e neblina capazes de molhar o rosto, e com um frio congelante.

— Vá à merda então, mundo! - Sussurrou fechando a janela. Deitou-se  novamente e fingiu dormir, contrariado. Mas Violeta e Calebo acordaram em alguns minutos.

— Felipe, levante-se. Vamos nos atrasar. - A ninfa se agitou ao ver a luz forte.

— Não senhora, capitã! Eu não quero mais acampar nem quero mais aventuras.

— Está tudo bem? - Calebo pergunta, depois cai da poltrona sem exibir a menor reação. Meia dúzia de tapas nas coxas inertes e consegue ficar de pé. Dormiu em uma péssima posição.

— Supimpa! - O garoto respondeu enquanto mostrava o polegar.- Eu não quero levantar, deixem-me aqui para falecer, quero ter meu corpo decomposto por fungos, deitado nesta poltrona até o fim dos tempos... 

— Seja sensato e levante-se. Ou Violeta o colocará de pé.

— Aah! Tudo bem, eu... Hakuja, estou pensando em salgá-lo para a viagem, talvez você se torne um pouco mais agradável. Calebo, aquela bolsa é sua. - Felipe apontou, virando-se para Violeta em seguida.- Comprei uma para você, eu não sabia se teria alguma em seus braceletes.

Enquanto a ninfa escolhia algumas peças de roupa e as punha na bolsa, Calebo e Hakuja foram atualizados sobre o ocorrido na noite anterior. A expressão do ogro era semelhante à de uma criança enquanto ouvia, absolutamente imerso e maravilhado. Hakuja fez dezenas de perguntas sobre o que Felipe havia sentido, visto, ouvido, como a energia se comportava, entre muitas outras. Ao fim do relato já estava calado, analisando os acontecimentos de todos os ângulos possíveis, criando teorias estranhas e variadas. Não se lembrou de repreender o garoto por se expor e estragar seus planos de passar despercebido.

Felipe desceu, retornando com três pratos cheios. Pães cobertos de açúcar, bolinhos de chocolate e um assado de carne. Para acompanhar, chá quente. Comeram rapidamente e escovaram os dentes. Calebo mais uma vez foi obrigado.

— Vai lá.

— Mestre, os ogros têm ótimos dentes, não preciso disso.

—... Vai lá.

O sol estava prestes a despontar sobre a muralha leste quando saíram da pousada Viajantes, após demorados agradecimentos de Lozebahu por escolherem suas instalações. Felipe suspirou de felicidade ao perceber que fez a escolha certa ao vestir uma enorme túnica marrom que descia até seus tornozelos. O ogro e a ninfa também vestiam túnicas longas, impedindo o frio de penetrar até seus ossos. 

Nas Ruínas AntigasOnde histórias criam vida. Descubra agora