Cap.2 Onde estou?

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— Eu estou em Nárnia?

E apaguei.

Acordei quando o sol terminava de nascer, logo acima do horizonte.

Não consegui raciocinar direito por um bom tempo, estava me sentindo completamente atordoado.

"Por que eu não estou na barraca?" 

Esse pensamento pareceu ativar minhas memórias, que atacaram minha mente com toda a força que a dura realidade infligiu.

Me levantei atordoado, as mãos agarrando os cabelos quase ao ponto de arrancá-los.

— Não, não pode ser, eu não posso acreditar. - não poderia ser verdade. - Eu passei para o outro lado!

Tropecei na minha própria mochila e sai rolando por alguns metros.

O lagarto! - a lembrança do bicho me deu espasmos de raiva. Era por causa dele que eu estava aqui!

Procurei-o com os olhos, e o encontrei tranquilamente sentado sobre uma rocha, aproveitando o calor do sol, que ainda lançava uma tímida luz sobre o planeta.

— No planeta... - falei para mim mesmo.- em outro planeta! Eu estou em outro planeta!!! 

O meu grito despertou até mesmo o lagarto, que agora olhou para mim, como um mestre reprovando um aluno por tirá-lo de sua meditação. Como não sabia o que fazer, me aproximei do lagarto verde e dourado, que sequer se moveu. Apenas olhou para mim com um olhar sereno. 

Agora que eu escrevi isso, percebi o quão estranho pode parecer um lagarto distribuindo olhares dotados de sentimentos. Mas esse era diferente. Tinha um olhar inteligente, quase... humano.

— Isso foi culpa sua. - sussurrei para o lagarto. 

Olhei para o horizonte, nada além de árvores, uma montanha muito longe e o grande desprovimento de civilização. Minha respiração ficava mais forte conforme ia olhando e não encontrava sinal de uma alma viva. Olhar para o céu mais uma vez foi uma tortura, uma lágrima de desespero se formou em meu olho esquerdo. Agora minhas mãos tremiam. Tentei me acalmar respirando fundo muitas e muitas vezes, até cada pensamento estar em ordem. Existiam milhares de casualidades que poderiam me matar. Atmosfera não compatível, vírus e bactérias, plantas comuns poderiam ser extremamente venenosas para mim que saí voando de outro planeta, predadores, radioatividade acima do aceitável, civilização que poderia me considerar um demônio ou interessante objeto de estudo, tudo dependeria do quão avançada ela fosse. Um buraco no chão ou minha própria saliva. 

Ao terminar de listar o que poderia me matar, me senti tão desolado quanto antes, mesmo que menos desesperado. Não sentia ânimo sequer para levantar e procurar comida ou abrigo. Uma constatação me fez ficar de joelhos com os olhos fitando o chão sem focar a visão, apenas sentindo um vazio interior aumentar cada vez que repetia a mesma constatação, feita momentos após o pensamento de esperar algum tipo de ajuda ou resgate.

Olhei para trás e não havia sinal do portal, a vista se estendia até o horizonte. E quanto mais olhava, mais repetia a frase.

— Ninguém virá me salvar... eu estou sozinho longe de casa e não posso voltar. Eu estou sozinho. Eu estou sozinho aqui, sozinho! - desferi um soco contra o chão, mas isso não aplacou a gama de sentimentos.

Permaneci ali sentado por muito, muito tempo, de olhos fechados. Até que não restasse mais nada em minha mente, enquanto tudo à minha volta parecia se destacar, o vento, o calor do sol alienígena, um inseto que passou voando, um canto de pássaro muito distante. Quando abri os olhos, olhei para minhas mãos e elas não tremiam mais. Existe algo que parece inseparável de nossa existência enquanto seres viventes, que é a vontade de viver e a aversão à morte. Isso me impulsionava agora, e fiquei de pé mais uma vez. 

Nas Ruínas AntigasOnde histórias criam vida. Descubra agora