Eu corria. Não sabia se fazia horas, ou apenas alguns minutos, e não me importava.
Precisava apenas correr, correr, e correr até cair de exaustão.
Talvez eu desmaiasse, mas no outro dia acordaria com a mente mais calma e pensaria melhor sobre o que fiz e sobre o que faria.
A chuva ainda caía, molhando meu rosto e encharcando o chão, criando poças de lama e mais de uma vez, me fazendo escorregar e cair na terra lamacenta, me sujando ainda mais ao invés de me limpar do sangue escuro e pegajoso dos diabos vermelhos que eu matei.
A iluminação era pior agora, as árvores se misturavam, grandes, médias e pequenas, criando três camadas, além das nuvens, para bloquear a luz lunar.
Minha corrida foi interrompida quando prendi meu pé em uma raiz exposta de uma árvore de folhas amarelas.
Cortei a testa em uma pedra ao cair. Mais um ferimento para a minha coleção.
Me levantei novamente e olhei em volta. Já estava mais calmo e pensava com mais clareza.
Olhei em volta e vi apenas as árvores, negras na noite escura, ouvi apenas a chuva, mais poderosa que qualquer outro som.
Um relâmpago cortou o ar com sua luz. E essa luz perdurou por um, dois, três segundos. Quando ergui os olhos, vi a cauda flamejante do objeto que caía em pedaços, e percebi que realmente a paz não seria uma opção enquanto eu estivesse preso neste planeta. Um quilômetro acima da superfície, o boom sônico parecia fraco perante os constantes trovões. O objeto perdia velocidade, mas atingiu as árvores centenas de metros à frente, atravessando-as como se sequer existissem. O chão tremeu quando o metal se chocou com a superfície.
Esperei por dois minutos, mas não houve nada além da queda. O céu permanecia normal, na medida do possível. Um princípio de incêndio se extinguiu em um singelo sopro de fumaça.
Apesar de meus esforços, a curiosidade me assolava tanto quanto a tristeza, as pernas se movendo quase que de forma independente, me levando para próximo de mais um objeto estranho que tentava me atingir. À luz dos raios a esfera de metal parecia fantasmagórica, uma assombração de metal prateado cujas intenções eu desconhecia. A esfera parecia completamente inerte, e assim se manteve enquanto eu me aproximava cautelosamente. Me ajoelhei na frente da esfera e procurei por letras ou qualquer tipo de marca, mas a superfície era completamente lisa. Nenhum arranhão mesmo após cair do espaço. E então, confiante, toquei na esfera.
O objeto se ativou imediatamente, linhas de luz se acenderam e ruídos internos chegaram aos meus ouvidos.
Recuei cinco passos, assustado e sem querer me expor a algum risco, mas completamente preso ao chão contemplando o que acontecia, A metade superior da esfera se abriu, em seis partes, como uma flor.
A luz se apagou, e apenas um som fraco e contínuo continuou sendo emitido. Nenhuma arma, nenhum ataque. Minhas pernas tremiam, me sentia estupidamente fraco em meio a tudo o que acontecia. Mas não podia ficar parado, não havia mais o que fazer, e no fundo eu sentia que precisava fazer aquilo.
Me aproximei, e olhando para dentro, vi algo que ainda brilhava . Quando cheguei perto a ponto de quase encostar na esfera, vi que o que estava brilhando era um pequeno bastão. Tinha trinta centímetros de comprimento, e seis centímetros de largura. Percebi que o que brilhava eram anéis de luz na própria superfície do bastão, verdes e tão fortes quanto uma pequena lâmpada. Eram quatro, em dez e vinte centímetros do bastão, em duplas.
O resto da estrutura era constituída de um metal escuro, e, em geral, pouco havia de especial no objeto além de seus anéis de luz verde.
Estiquei o braço mas não o alcancei. Fiquei na ponta dos pés, mas, como o bastão estava no meio da esfera, com muito temor do que poderia acontecer, subi na beirada. Nenhuma consequência, a não ser um leve movimento, quando a esfera cedeu devido ao peso extra.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Nas Ruínas Antigas
FantasyAté onde suas escolhas te levam? A contagem regressiva para o fim da existência já começou. Nos últimos movimentos do ponteiro, Felipe, um adolescente aparentemente comum, é transportado para um planeta em outro universo. Nesse mundo de múltiplas fa...