Cap.13 Cibele

46 6 1
                                    

Os olhos de Pale estavam fixos, mas ele não via. Estava submerso em seu mar de pensamentos, pensando o que o futuro próximo guardava para ele.

- O bosque está lindo como sempre. - Cidri estava mais uma vez maravilhada com a beleza do lugar. O bosque das ninfas se estendia por quase cem hectares na margem sul do Grande Rio, e pouco mais de quarenta na margem norte, em um formato semicircular. Dezenas de espécies de plantas cresciam ali, desde gramíneas até enormes árvores com quarenta metros de altura. Era um local mágico e sagrado, o santuário das belas e poderosas ninfas da floresta, um local quase intocado por outras mãos além das suas, onde as forças mágicas eram constantes e aderentes, fazendo com que todos que se aventurem lá tenham a constante sensação de estarem sendo observados. Ali, o vento era tênue como um suspiro, a água parecia cantar uma canção secreta cujo significado apenas elas sabiam. E as árvores pareciam sussurrar, constantes e intrigantes, no raspar de galhos e no farfalhar de folhas, como se conferenciassem entre si, trocando mexericos eternos e imperceptíveis, enquanto os animais vivam como se suspensos em uma realidade à parte, como se presa e predador fossem um só.

Mais de um ano atrás, as ninfas se fecharam em sua fortaleza verde e deixaram os anões por conta própria. Sequer sabiam onde procurar naquela pequena imensidão, mas lá estavam trinta anões encarando uma muralha verde. A notícia do retorno precoce de Quetzalcóatl trouxe pânico, um terrível alvoroço descontrolado como se um apocalipse acabasse de ser preludiado. Isso talvez fosse verdade. Vinte e sete quilômetros a oeste ainda eram claras as consequências do último confronto.

- Vamos entrar. - Um dos que ajudavam o velho Haba a se manter de pé em segurança deu o comando. Callio e Cidri seguiam ao lado de Pate pela trilha forrada por grama, adentrando aos poucos aquele lugar misterioso.

A comitiva percorreu o caminho principal sem se desviar em momento algum. Seguiram até o Jardim dos Círculos, um local destacado do resto do bosque, onde flores e plantas odoríferas cresciam dispostas em forma de círculo, o maior com uma circunferência de oitenta metros, e então, um círculo dentro de outro círculo com sessenta centímetros entre eles até terminar em uma fonte que lançava água límpida de uma estátua que retratava um animal místico, um cavalo com asas membranosas e olhos prestes a saltar do focinho por conta da raiva. Tudo era muito bonito, mas estava vazio.

- Ouço sons vindos dali. - Um dos anões aponta em direção a um caminho feito de pedras que seguia adiante aproximando-se do rio, cujas águas já podiam ser ouvidas como um pequeno murmúrio ao passar pelos pequenos degraus de pedra de um antigo altar abandonado destinado a alguma divindade esquecida.

Caminharam em passos silenciosos pelo chão úmido, até algo novo se revelar perante seus olhos. Uma clareira na margem do rio, livre de tudo que fosse maior que um arbusto. Ali estavam as doze ninfas, ajoelhadas e com as mãos estendidas. A mais velha tinha mais de cinco centenas de anos, mas parecia ter completado vinte e cinco, talvez menos. A mais nova era a única que tinha a idade que aparentava ter, dezesseis anos. Mas quando chegasse aos vinte, seu envelhecimento também cessaria.

Pareciam distraídas enquanto se entregavam ao trabalho de se sentarem em intervalos regulares, estendendo as mãos em direção às pequenas plantas que cresciam como se plantadas em uma horta.

- É como um berçário... mas para plantas! - Cidri olhava tudo, encantada como uma criança curiosa que descobre algo novo.

- Confesso que é a primeira vez que vejo isso. Imagine como deve ser incrível cultivar essas plantas e as tornar grandes apenas estendendo as mãos! - Callio admirava o trabalho metódico das ninfas, que não deixavam uma plantinha sem a devida atenção. Aquela horta, ou berçário, crescia em um ritmo perceptível. Em alguns minutos as ninfas pareciam a ponto de desaparecer entre as folhas.

Nas Ruínas AntigasOnde histórias criam vida. Descubra agora