Cap.4 Adrenalina

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Não esperei uma resposta para a pergunta de Netuno. Aproveitando que os esquilos poderiam ser o alvo de uma caçada ou coisa parecida, me virei e fiz a única coisa que estava ao meu alcance no momento. 

Corri. Corri com todas as forças que minhas pernas podiam exercer. O lagarto chacoalhava dentro da mochila, mas eu não tinha tempo de pensar nisso. Precisava correr, me afastar dali antes que fosse tarde demais e algo pouco amigável me descobrisse.

Corri por quase dez minutos ininterruptamente, acordando alguns animais pelo caminho. Parei para descansar um pouco, mas  assim que tirei a mochila das costas caí de joelhos, depois de costas no chão empoeirado. Eu não aguentava mais. Me sentia destruído tanto por fora quanto por dentro. Não consegui descansar durante a noite, minhas pernas latejavam.

Me lembrei da minha casa, minha vida, minha família. De como tudo era simples, mas mesmo assim, perfeito. Agora eu estava ali, em outro planeta conversando com um lagarto, enfrentando animais bizarros, sem nenhuma arma exceto paus e pedras para me defender. Que reviravolta!

Me lembrei do caminho até ali. Aliás, por que não fiquei por lá mesmo? Naquele campo onde a nave caiu? Me lembrei. Eu precisava encontrar civilização e alguém que me explicasse o que aconteceu, porque eu estava ali. 

Ainda com esses pensamentos, adormeci por quase meia hora. Quando acordei, Netuno em minha testa me olhando com um olho, a cabeça num ângulo estranho, como um pássaro.

— Finalmente! Vamos, levante-se, em alguns minutos amanhecerá.

— Ai! Que horas são, hein? - Tudo ao redor estava nítido pela luz azul que eu via ao acordar, mas logo a floresta de se tornou um breu impenetrável. Apenas o céu estava iluminado. As duas luas eram os únicos pontos brilhantes no céu de fim de madrugada.

— Sei lá. Mas em quatro ou cinco minutos o sol irá despontar acima do horizonte, mesmo que não possamos vê-lo daqui. - O lagarto averiguava o céu com seus ativos olhos dourados.

Me lembrei do ocorrido quase meia hora atrás.

— E os esquilos? - Perguntei olhando em volta.

— Parece que ficaram assustados demais para sequer pensar em beber o sangue de alguém. 

Olhei em volta com mais atenção, procurando os morros. Não estavam à vista. Me levantei rapidamente. 

— Ei, ei, ei! Não acredito. Os morros, onde estão os morros? - Na correria cega pela escuridão da noite, me esqueci completamente de seguir os morros.

Netuno pareceu se dar conta desse detalhe somente neste momento, assim como eu. Olhou em volta, aparentemente apreensivo. 

— Espere um pouco. - A voz grave e potente soou absoluta em minha mente.

Dizendo isso, o lagarto saiu em disparada em direção a uma árvore alta, robusta em seu grosso tronco e fortes galhos, ostentando sua idade centenária. Escalou até o galho mais alto como se aquilo não fosse nada. Olhou para todos os lados, olhou para o sol que começava a despontar no horizonte que eu sequer conseguia enxergar, ficou lá por uns dois minutos e desceu. 

— Descemos muito para o sul, apenas os picos mais altos se mostram mesmo daquela altura. Nunca os veríamos daqui de baixo cercados pelas árvores. Terminam daqui dois quilômetros. É lá que a floresta também termina. 

— Bom, muito bom. Finalmente vou sair desse lugar! - Bati palmas de contentamento.

— Ei! Silêncio! 

— O que? O Que foi? - Perguntei baixinho, já receoso de um ataque. - O que você está vendo ali? 

Netuno olhava para uma moita de arbustos. A princípio, não parecia ter nada demais ali, até que um sutil movimento chamou a minha atenção. 

Nas Ruínas AntigasOnde histórias criam vida. Descubra agora