Cap.15 Sobre dores e traidores

36 9 4
                                    

Abriu a porta dos fundos silenciosamente. Olhou para todos os lados, se certificando de que não era seguido, ou espionado. 

Seguiu até a floresta, para depois caminhar através das árvores mais próximas do pátio. Descreveu uma meia volta em círculo, para então sair da negritude da floresta já na trilha que levava ao resto da vila, do lado oposto ao qual saiu da residência. 

Olhou para trás mais uma vez. O castelo dos ogros o vigiava, imponente entre as árvores, negro por conta da noite. 

Agradeceu internamente pelas luas estarem, uma abaixo do horizonte , outra em fase minguante. Desta vez, seguiu pela trilha calçada do castelo, que seguia até a Grande Praça.

Olhava constantemente para os lados, não por medo de que algum outro ogro o visse, e sim pelos constantes sons que a vida noturna da floresta emitia. Cada som era uma nota melancólica e macabra, que, unidos, formavam a sinfonia do terror. Essa música denunciava que criaturas estranhas e perigosas rondavam não só a floresta de Sorejade, mas também a das Sequoias. 

Ao menos não temos esquilos cegos por aqui! Isso seria terrível.

Atravessou a Grande Praça, amaldiçoando o desleixado que não varreu as malditas folhas secas no chão, que estalavam a cada passo.

Apressou-se mais um pouco e passou pelas plantações , cujas flores estavam ou fechadas, ou ainda em botões. Em seguida as hortas, com seus diversos legumes e verduras. 

Lá, deu uma última espiada: A praça continuava vazia.

Continuou sua caminhada através da trilha, passando por dois núcleos. No primeiro pôde ouvir sons de ogros conversando dentro de uma das casas. A luz que atravessava as bordas da porta denunciavam que toda uma família ainda estava acordada.

Mas não parou para ouvir o que conversavam. Sequer prestou atenção. Não tinha nem tempo, nem vontade para isso. 

Após os dois núcleos, a floresta de sequoias parecia tomar conta de novo. Apenas parecia...

Viu um monumento em pedra afastado da estrada retratando o Ermitão. Bufou e ignorou aquilo também. 

Alguns minutos depois finalmente alcançou o objetivo. Um antigo celeiro, com aspecto de que não era usado a muito tempo. A madeira usada na construção, antes marrom bem clara, estava hoje praticamente toda preta. Os fungos há muito tinham tomado posse da madeira, depositando nela seus bolores negros e fedidos.

Algum ser noturno corre por entre o mato alto que engole e devora tudo que é menor que si, fazendo-o ter um pequeno sobressalto.

Não gosto deste lugar!

Ao se aproximar, bateu na porta quatro vezes. Duas batidas fortes e duas fracas. Esse era o combinado, o código que usavam em seus encontros.

Um ogro abre a porta. É um oficial, um dos dois únicos oficiais que permaneceram na vila enquanto o resto se empenhava na procura de seu novo Mestre, que sequer teve a oportunidade de segurar a coroa estúpida forjada dezenas de anos atrás. 

Depois que Felipe fugiu do campo de batalha após um colapso nervoso, os ogros tiveram tempo apenas de retornar, cuidar de seus feridos e descansar um pouco. Ainda no começo da madrugada, todos os ogros que ainda podiam lutar, com exceção dos dois oficiais e os dez soldados sob o comando de cada um, partiram novamente em direção à floresta de Sorejade.

Mas, entre todos os males, este sumiço do novo Mestre veio a calhar muito bem.

Agora eles teriam tempo! 

Cumprimentou brevemente o oficial, apenas pelo mesmo fazer parte do grupo. Em seguida, adentrou no celeiro. Por dentro, não era muito diferente que por fora. Os bolores e musgos tomavam conta de toda a estrutura. Literalmente toda a estrutura.

Nas Ruínas AntigasOnde histórias criam vida. Descubra agora