O garoto analisava o mapa continental com grande interesse. Bebeu mais um gole de água e encheu o copo novamente, pela décima quinta vez. Seus pensamentos estavam divididos entre aquilo que via e ouvia. Ojavenajas continua a falar. O príncipe mago de nome singular desempenhava muito bem essa função, explicando de forma minuciosa cada pormenor das mais absolutamente desnecessárias informações.
Felipe suspirou, cansado de ouvir a voz daquele homem. Esvaziou o copo novamente, e comeu um pouco mais. Era seu segundo prato de pães e frutas. Se certificou de que o ogro também comia, esvaziando seu próprio prato pela terceira vez. Felipe recusou peremptoriamente qualquer ajuda dos magos azuis, exigindo que somente a ninfa ficasse responsável por curar seus pequenos ferimentos e escoriações nos pulsos.
— Ojavenajas, nada disso tem importância no momento! - O garoto interrompeu o príncipe mago.- Já faz um dia que esses corvos voaram, e quantas respostas retornaram?
O homem pareceu murchar sob as vestes azuis, como se temesse aquela pergunta desde o início.
— Apenas Angragorn e as ninfas responderam até o momento...
— Angragron está ao nosso lado. Se alguém aqui em Herança de Luz jogar uma pedra para cima, pode acertar um telhado naquela cidade, e minhas irmãs sempre disseram que aceitariam. Qual será o motivo para que a Vila dos ogros não responda? - Violeta olhou para Calebo, mas o ogro deu de ombros, sem encontrar uma resposta.
— Os elfãs não responderão. Sinto isso. E Pofin seguirá o mesmo caminho, a menos que a mensagem que enviaram fale algo a respeito da honra deles. Penso que trabalharam com sabedoria ao escrever as cartas, certo? - Hakuja se pronunciou, estirado sobre a mesa.
— Agir com sabedoria é um esforço que tento empreender de maneira constante. Será questão de tempo, posso afirmar com total convicção, até que Pofin envie uma resposta positiva. Estarão na Hipertorre em dois dias, vocês têm minha palavra.
Nada mais havia para ser dito, e caíram em um silêncio tomado pela expectativa. Felipe mirou as pedras de luz engastadas no teto até sua visão embaçar.
Nenhuma tocha ou vela era vista por vinte andares, para que as dezenas de milhares de livros ficassem em segurança. A Biblioteca dos Mil Saberes ocupava apenas esses andares iniciais, modificada ao longo das eras para se tornar um local de descanso e convivência. Além dos livros, uma fonte em cada andar jorrava água límpida e fresca. Bancos e cadeiras confortáveis se espalhavam por todos os locais. Jogos de cartas e tabuleiros eram comuns de se encontrar, além de comida e bebida em abundância.
Nenhum olhar ao redor era necessário. As expressões de desgosto eram sentidas, vindas de toda parte.
— Está errado.
— Mestre?
— A forma como estamos fazendo isso, ela está errada. Ojavenajas, consegue reunir magos e soldados lá em cima, sem que uma guerra civil tenha início?
— Posso tentar, Vossa Magnificência.
— Pois então tente, por favor. - Felipe se levantou. Precisava de ar puro. Subiu as escadas, sentindo-se absurdamente cansado. Estava indo muito além do permitido, as dores nos ossos e músculos, a fome voraz após cada uso dos poderes, o gosto incessante de sangue, mesmo uma hora após a mirabolante ideia de liberar a energia aos poucos, ao invés de apenas explodir. A energia dourada estava mantendo-o vivo, ao mesmo tempo em que o matava.
Apenas mais alguns dias. Aí eu volto para casa.
Achou curioso. A morte, ao contrário daquilo que se poderia conjecturar, nem de longe era seu maior medo. Temia a impossibilidade de voltar para casa a tempo. Temia nunca mais ver seus pais. Temia aquilo a todo momento, em cada célula de seu ser.
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Nas Ruínas Antigas
FantasíaAté onde suas escolhas te levam? A contagem regressiva para o fim da existência já começou. Nos últimos movimentos do ponteiro, Felipe, um adolescente aparentemente comum, é transportado para um planeta em outro universo. Nesse mundo de múltiplas fa...