Cap.25 Olhos por toda parte

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A tarde trouxe notícias que frustraram meus planos.

— Tortura?

— Sim, Felipe...

— Tá bem, deixe-me ver se entendi... Os escavadores, seres irracionais, estão mantendo soldados do outro lado para tentar convencer vocês a dar passagem?

— O consenso é que sim. Os soldados estão sendo mantidos próximos ao domo, então a força do Laço não é forte o suficiente para matá-los... por enquanto. Então claramente estão os mantendo na tentativa de conseguir entrada segura

— Certo, senhor... Como se chama?

— Marcones, Marcones de Font, conselheiro chefe do rei, a seu dispor. - Responde o homem de meia idade com uma pequena mesura.

— Já me contaram sobre o efeito do Laço, não é uma sensação confortável. Mas vai levar tanto tempo para chegar até lá, que eu realmente não sei se... Os soldados que estão lá não podem tentar atravessar para o outro lado rapidamente, em um ataque surpresa? Vocês não foram realmente encolhidos, para que uma saída rápida seja um problema maior do que o esperado. Tudo não passa de um efeito de lente daquele portal. Podem sair e voltar com os soldados reféns em alguns minutos.

— Aparentemente o Escolhido é mesmo uma pessoa excepcional. Quando se deu conta de que tudo não passa de um efeito? - Marcones pergunta, com um súbito sorriso indecifrável no rosto.

Na verdade, apenas naquele momento eu finalmente havia conseguido a confirmação de minhas suspeitas.

— Tenho um mínimo entendimento sobre essa magia.

— Certo, bom saber. Não é possível simplesmente atacar, os escavadores estão excepcionalmente atentos. Uma carga de cavalaria é impensável, os cavalos sofrem com os mesmos problemas que nós quanto ao Laço.

— Tsc... meus planos para essa tarde eram apenas comprar um anel interespacial, e voltar para cá. 

— Podemos arranjar um anel de até cem metros cúbicos, caso nos ajude. Tenho certeza que o rei concordará em dá-lo como recompensa. - Diz um rapaz magro, de cabelos lisos e desarrumados, sentado em uma cadeira enquanto escrevia algo em um livro de anotações. Seu olhar parecia dizer mais do isso, tentando me lembrar de quem era a culpa pela presença dos escavadores.

— Então está legal. Acho que vou precisar cortar alguns membros, não é?

— Por mais que eu desaprove a violência, admito que não terá outra opção, meu rapaz.

— Certo. Vou voltar ao meu quarto, podem me chamar quando for o momento de partir, estarei pronto. - Dei as costas para os dois e iniciei a longa caminhada até o quarto andar. O conselheiro e o jovem desgrenhado permaneceram, em cochichos.

Caminhei observando os ricos detalhes de arranhões no chão, pensando em tudo o que aconteceu. E no que poderia acontecer. E se eu demorasse demais para recuperar a pedra, e se passassem meses, anos talvez?! 

Como eu poderia voltar para casa após tanto tempo? Não seria algo simples chegar em casa um ano depois de desaparecer no meio da noite, bater na porta de casa e dizer: "pai, mãe! voltei!"

Me lembrando do que vi no mapa, Ruínas Antigas ficava ao norte do rio, acima da cidade dos elfos, ou elfãs, não sabia qual palavra estava correta. Não sabia nem se eram realmente elfos, talvez apenas um povo com um nome semelhante. Comecei a traçar uma rota, uma linha que me levaria até Ruínas e a pedra.

Em algum momento, andando pelo segundo andar, colidi com algumas damas de companhia da rainha. Estava distraído demais para que conseguisse perceber a tempo. A rainha me cumprimentou. Foi extremamente agradável, sequer fez questão de meu pedido de desculpas. Quando se foram, fiquei ali, encostado à parede. Ela era como Nina em seu sorriso que não alcançava os olhos, mas parecia muito pior. Algo naqueles olhos penetrantes, o tilintar suave de seu colar ornamentado... a presença daquela mulher definitivamente era desagradável. Cada gesto, cada palavra era minimamente calculada. Se tratando de uma rainha, talvez fosse algo comum medir suas ações, mas, ela era diferente. E ficaria de olho nela a partir de agora.

Nas Ruínas AntigasOnde histórias criam vida. Descubra agora