Cap.34 Um oceano desabando

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Seus olhos se abriram no momento em que a árvore caiu, levando consigo outras duas cujos troncos já não estavam rígidos como antes. Uma imensa mancha de tom vermelho escuro dominava sua visão, se destacando ainda mais quando fechava os olhos. Havia batido a cabeça quando caiu, a dor revelava com clareza. Ao erguer a mão até a cabeça, notou os cabelos eriçados. Não havia sangue, apenas uma dolorosa protuberância.

Zonzo e desnorteado, Felipe se ergueu sobre joelhos vacilantes e analisou o cenário ao redor. Uma cratera com seis metros de diâmetro dominava o local, a terra ao redor do centro havia cristalizado, tomando a forma de algo que lembrava raízes... ou um raio. Olhando ao redor rapidamente, viu a águia pousada sobre um galho, a dezenas de metros de distância. Caminhou até Calebo, tocando seu ombro até que alguma resposta zangada viesse do ogro. Satisfeito, se sentou em um movimento que mais se assemelhava a uma queda e aguardou por intermináveis minutos até que se sentisse no controle total de seu corpo.

Se afastou, na intenção de esvaziar a bexiga, e quando viu o ogro deitado de bruços, na mesma posição em que estivera durante horas seguidas, tratou logo de o erguer pela roupa.

- A hora do descanso acabou, meu amigo. Você está bem?

- Estou cansado, com sono. Cada músculo do meu corpo parece doer. Estou com fome, principalmente com sede, e os meus ouvidos ainda estão zumbindo por conta do estrondo daquele raio. - Bateu nas roupas até que boa parte da sujeira se soltasse.- Sim, estou bem.

Se afastaram da área devastada, onde agora apenas vegetação queimada dominava a paisagem, e caminharam até a margem do rio. Lá, Felipe logo lavou o rosto e os braços, sendo seguido por Calebo.

- Devíamos procurar por Hakuja. - O ogro comentou enquanto limpava os braços.

- Ele está por perto, jamais corre perigo. No momento não é minha maior preocupação, logo estará aqui reclamando do tempo que desperdiçamos desacordados. - Deitando na grama fofa da margem, Felipe se sentia como uma poça de água, cada músculo dolorido descansando até que parecesse não possuir músculos.

Pouco tempo depois, Calebo parte em uma caminhada pela margem, retornando logo depois com os braços cheios de tubérculos semelhantes à batata. Sentou-se na grama com as pernas cruzadas e pôs-se a mastigar. Ofereceu algumas, as quais Felipe aceitou com certo receio. Ainda se lembrava de vomitar após comer algumas frutas desconhecidas. Em pouco tempo o segundo café da manhã foi devorado, em completo silêncio. Hakuja enfim surgiu, o rosto salpicado por gotículas de sangue. Não houve reclamação alguma, ficaram desmaiados por menos de meia hora.

Sem necessidade de qualquer aviso verbal, Felipe e Calebo puseram-se em marcha rio acima. Hakuja desta vez ia no ombro do garoto. Fizeram uma pausa na metade do caminho para descansar. O ogro se despiu, pulou na água sem qualquer cerimônia, armado com uma lança comprida, feita a partir de um galho encontrado no chão. Retornou após vinte minutos de caçada com um peixe de bom tamanho e um largo sorriso no rosto. O ogro era um prodígio no que se referia a fazer fogo. Logo havia montado uma fogueira, e o peixe jazia sobre as chamas, atravessado em um galho que fazia as vezes de espeto.

Contribuindo para a refeição, Felipe apresenta suas últimas guloseimas, e fazem uma refeição satisfatória sob a sombra de uma árvore solitária. O calor do início da tarde é rápido em lançar uma onda de torpor sobre o grupo, e logo o ogro e o garoto estão dormindo. Mantendo fiel vigilância, Hakuja se obriga a aguardar por uma ou duas horas antes de acordá-los. Talvez aguardasse por três horas, ambos mereciam o sono restaurador no qual haviam mergulhado. Lançou um olhar para o alto, depois para o horizonte leste, onde Thunderbird voava em círculos, sem nunca perder o grupo de vista.

A ave nos observava desde que passamos pelo portal, de volta a esse mundo. Aguardou o momento oportuno e atacou Quetzalcóatl sem dó. Me pergunto porque ainda nos segue, se sua presa há muito desistiu da caçada.

Nas Ruínas AntigasOnde histórias criam vida. Descubra agora