Ruínas Antigas possuía certa beleza. Existiam muitas especulações sobre quantas pessoas viveram na bela cidade, tantas especulações que os números variavam em até noventa mil. Independente disso, havia melancolia acompanhada de paz na visão das pedras caídas tomadas pela poeira, musgo e alguma quantidade de terra onde arbustos tentavam sobreviver. Abaixo das ruínas se encontrava a estrutura criada para proteger a pedra lendária, labirintos interconectados a espaços imensos, lugares desconhecidos dispostos a tragar qualquer forasteiro louco por fama ou aventura. Ouvir os tambores ressoando lembrava a Raamá que se aproximava o momentos onde buracos imensos seriam abertos através das rochas pela primeira vez em um milênio. A torre de observação mergulhada no silêncio parecia desconcertante, espiando através de uma realidade diferente. Com exceção do Comandante Vermelho, ninguém falava. O homem resmungava entre caretas, concentrado no cenário adiante. Raamá viu quando acenou positivamente à entrada de Quetzalcoatl, viu como seu rosto assumia expressões de dúvida ao perder a serpente de vista, e também viu seus olhos arregalados quando o Escolhido detonou com a força de mil barris de pólvora, congelado na posição agachada que usou ao se proteger, as mãos ainda sobre os ouvidos mesmo após o estouro altíssimo. De sua parte, a bruxa possuía atenção apenas para Felipe, vendo-o interceptar a serpente, lutar durante dez minutos ao lado das ninfas e então destroçar Quetzalcoatl segundos após a morte da líder Cibele. Lamentou a derrota da serpente, bem poderia render mais além de obliterar as ninfas, o pequeno exército inimigo mantinha poucas baixas.
Conseguia ver a saliva cuspida pelo homem ao seu lado, enquanto ordenava o avanço total das forças disponíveis em seu exército. No instante seguinte foi Raamá quem gritou a ordem do avanço geral da hoste de encapuzados, seus servos cujas almas lhe pertenciam. No passado, havia parecido uma ideia genial. Se os reis possuíam seus Servos na caça às bruxas, ela também teria os seus. Eram pessoas de todas as partes, jovens fortes e saudáveis o suficiente para resistir à força mágica. Assistiu ao retirar de seus mantos e consequente nudez, ouviu os gemidos de dor perante a carne queimada em seus peitos. Raamá e o Comandante concordaram que aqueles números destruiriam o exército inimigo, mas não contavam que Luz Dourada, o imenso dragão imóvel no lado oposto da batalha, fosse ajudar qualquer um além do Escolhido. Vendo como esticava suas enormes asas, ela e o homem ao seu lado gritaram ao mesmo tempo, tambores engoliram a balbúrdia da batalha à frente, e saltaram dos espaços semelhantes a catedrais os monstros criados pelos feiticeiros de Garan. Cada passo das criaturas agitava a torre de madeira, e a bruxa viu com satisfação como os inimigos recuavam. Exceto o Escolhido. O escolhido, provavelmente seu pequeno companheiro ogro e a arqueira. Incrédula consigo mesma, Raamá admitiu que gostava de Felipe, o garoto hesitante possuía atitude no fim das contas, e era bondoso sem segundas intenções, conseguia sentir quando olhava seu rosto. Felipe lutaria pelas bruxas caso tivesse chegado seis séculos antes, tornaria o mundo um lugar melhor para a jovem Raamá. Quantas outras borboletinhas esvoaçavam pelo mundo, sozinhas e feridas, e ela estava lutando contra quem conseguiria melhorar tudo?
O dragão Hakuja dizimou a vanguarda, pousou erguendo uma nuvem de poeira e rugiu, um som grave e potente.
— Meus soldados morrerão como mariposas ao redor do fogo. Que seu velho subordinado faça bem o trabalho dele. - Comandante Vermelho se voltou na direção dos monstros bamboleando até o campo de batalha.- Nenhum dos lados possui mais truques. É vencer ou morrer.
Felipe apontou na direção dos monstros e Hakuja não precisou ouvir um pedido vocal, estendeu as asas iluminadas e flutuou criando turbulências no ar, disparando um feixe no peito de um monstro ainda longínquo, entre as pedras das ruínas. Os Dax continuavam a matança metódica e livre de sentimentos no mesmo lugar onde se postaram, desestabilizando a retaguarda dos inimigos enquanto os reforços ainda se aproximavam. Olhou para trás, para o exército que hesitava e a duras penas reiniciava a marcha até o inimigo. Desejou dar bons tapas em cada um pela falta de confiança, mas ao invés disso, se concentrou na segunda fileira a instantes de atravessar a linha demarcada na terra que já esfriava. Inclinou a cabeça na direção de Calebo. O seu "Como em Parvapo?" Abriu caminho acima da bagunça ao redor, e o ogro respondeu "Afirmativo" com um tom de voz diferente, após baixar o visor do elmo e se blindar completamente.
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Nas Ruínas Antigas
FantasyAté onde suas escolhas te levam? A contagem regressiva para o fim da existência já começou. Nos últimos movimentos do ponteiro, Felipe, um adolescente aparentemente comum, é transportado para um planeta em outro universo. Nesse mundo de múltiplas fa...