Cap.65 Tambores da guerra

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— Parece uma débil força de batalha.

Felipe concordou a contragosto. Quanto maior a tensão da chegada da batalha, mais amável Cibele se tornava. Relevou o sumiço da noite anterior, em nenhum momento elevou a voz, e ajudou-o a ajeitar as roupas de corte diferente. Essas ações contrastantes geraram dúvidas na mente de Felipe, até Violeta esclarecer o comportamento dúbio:

— Cibele considera você uma pessoa muito ingênua para tomar decisões e incapaz de ver os riscos que gera para si. Segundo ela, você ainda é novo e destreinado.

— Amável. - A ironia soou natural.

— Ela também quer preservar meu primeiro amigo de verdade. - As bochechas de Violeta ficaram vermelhas naquele momento. Felipe se remexeu, temendo aparentar o mesmo aspecto.- Todos os outros me tratam como uma criatura superior, mas você foi cordial, me fez sentir como uma jovem comum.

— Hum. É que eu sou muito mais foda.

Hakuja falhou miseravelmente em fingir estar atento a outras coisas, movimentando deliberadamente a cabeça na direção de Felipe.

— E atrevido. Gosto disso, me incita a tentar ser assim também. Deixar as pessoas malucas. - A ninfa riu da própria ideia.

O exército inimigo gritava palavras ininteligíveis. As vozes se mesclavam, vindas de toda a extensão ocupada. Expressões inquietas e esperançosas eram vistas por toda parte enquanto percorriam o flanco direito do exército,  mirando as ruínas ao norte. A cidade destruída era enorme, estender a batalha até lá significaria um massacre e intermináveis horas, talvez dias de combate acirrado. As outras onze ninfas já aguardavam, assim como Borjus e Hauctaea, Ojavenajas e seus altos-magos, Calebo e Mary, Edira acompanhada por todos os oficiais. Os nove Dax escoltavam Felipe, vigiado também por duas aves de rapina. Thunderbird nunca o abandonara, e Hakuja ainda aproveitava sua nova liberdade. Felipe respirou profundamente o ar frio da manhã, sentindo-se deslocado daquela realidade, um intruso no mundo de fantasia. De acordo com boa parte das histórias, deveria estar sentindo um imenso senso de honra e dever, porém o sentimento real era diferente. Nada além de uma obrigação. Havia muita diferença entre teorizar tal sentimento e senti-lo na pele.

— Está ouvindo?

— Na verdade, não.

— Disse para evitar o nervosismo, basta acenar, aparentar coragem inabalável e falar. Tenha cuidado, ninguém aqui quer ouvir palavras belas mas sem sinceridade. Diga algo para elevar o moral do exército, nada muito emocionado.

— Tá bom, tia Cibele.

— aproveitando a oportunidade, quero lhe dar os parabéns.

— Pelo quê?

— Conseguiu reunir um exército, contra grandes probabilidades contrárias.

— Obrigado, mas apenas convenci menos da metade, e sequer cederam por mim, eu apelei para o emocional. E os anões estão aqui porque vocês também estão.

— E assim, terminou por conseguir reunir um exército.

Felipe aceitou os parabéns. Apenas o peso de ser o Escolhido talvez se mostrasse insuficiente. Parvapo alterou a disposição das cartas sobre a mesa.

— Violeta enfim terá sua primeira batalha. Conheço todas as capacidades dela, acompanhei e vi cada uma se desenvolver, e ainda temo por ela.

— Acredite, ela consegue lidar com isso.

— Sem dúvidas sabe o que diz, afinal, ela precisou derrubar alguns magos azuis quando você começou uma briga.

— Deixaria uma das suas irmãs no fundo de um calabouço, sem água ou comida? Foi escolha de Violeta, senhora. Era o correto a se fazer, e ela foi treinada a vida inteira para isso. - Felipe chutou uma pedrinha alaranjada, descontente.- Você é péssima lidando com adolescentes, sabia?

Nas Ruínas AntigasOnde histórias criam vida. Descubra agora